quinta-feira, 25 de novembro de 2010

As primeiras voltas de um chassis memorável

Já tinha prometido a mim mesmo que iria fazer um post sobre estas fotografias. E não são umas quaisquer: são imagens tiradas por Mike Sutton do primeiro teste de um dos carros que mais gostei de ver na história da Formula 1. Um carro simples, que nunca ganhou corridas nem levou nenhum dos seus pilotos ao pódio, mas que foi o primeiro chassis de uma equipa que durante quase quinze anos ficou nos corações de muitos, incluindo o meu: Jordan 191.

Estas fotos foram tiradas a 29 de Novembro de 1990 - o 20º aniversário acontecerá dentro de quatro dias - e representa o primeiro "shakedown" de um projecto feito pelas mãos capazes de Gary Anderson e mostra como um chassis simples e bem desenhado pode dar bons resultados. Três pessoas (!) ajudaram Andersson a fazer o chassis e o resto ajudou: um bom motor Ford Cosworth HB e pilotos veteranos, rápidos e capazes como o italiano Andrea de Cesaris e o belga Bertrand Gachot. Mas nesse dia 29 de Novembro, o piloto que guiava aquele carro era o veterano norte-irlandês John Watson.

Se repararem bem, estas fotos tem algo interessante: o chassis chamava-se inicialmente de "911", mas a Porsche não achou graça nenhuma à bricadeira e pediu a Eddie Jordan para que lhe arranjasse outro numero, e foi assim que surgiu o 191.

Para além disso, o talento negocial de Eddie Jordan ajudou no negócio, pois ele conseguiu atrair a PepsiCo. para patrocinar a equipa, através da marca 7Up, isto muito antes de sequer ouvirmos falar da Red Bull. Combinado com o verde irlandês (um dos patrocinadores tinha sido a oficina de turismo irlandesa) o carro fez maravilhas e atraiu muita gente pela sua beleza e pelos resultados, e foi bastante melhor do que a outra estreante do ano, a Modena, (que não era mais do que uma equipa semi-oficial da Lamborghini).

No final da temporada de 1991, o Jordan 191 iria conseguir treze pontos, uma volta mais rápida e o quinto lugar do campeonato. Se fosse com a pontuação de 2010, teria tido 98 pontos no campeonato (60 de De Cesaris, 33 de Gachot, quatro de Zanardi e um de Moreno)

Mas isso tudo teve um preço a pagar, um involuntário e mediático e outro mais voluntário e mais discreto. O primeiro acontecera nos últimos dias do ano de 1990, quando Eddie Jordan e Bertrand Gachot tiveram uma batida no centro de Londres (a caminho de uma reunião com a Pepsi, como Gachot contou recentemente numa entrevista ao Alexandre Carvalho, do Almanaque da Formula 1) e este último tirou um spray com gás pimenta para se defender de um taxista hostil. Podia ser em legitima defesa, mas a coisa era proibida na Grã-Bretanha e poucos meses depois, foi a tribunal e pagou com uma pena de prisão. E isso abriu caminho ao seu substituto - que aldrabou Jordan quando lhe disse que já tinha guiado em Spa-Francochamps num Formula 3, quando na verdade nunca tinha andado em termos competitivos - um alemão chamado Michael Schumacher. Meses depois, o Jordan 191 também seria o primeiro carro de outro piloto talentoso: Alessandro Zanardi.

O segundo preço a pagar foi mais discreto, contado apenas depois dessa temporada. Em 2008, o Blog do Pandini escreveu um post (que depois deu nisto) em que conta que Eddie Jordan tinha confessado ter feito "dumping" no preço dos patrocínios que tinha arranjado, no sentido de ter uma pintura atraente e assim ir buscar novos patrocinadores, do qual iria pagar mais dinheiro e cobrar os prejuízos. O resultado é que no final da temporada de 1991, Jordan tinha arranjado um prejuízo de 7 milhões de dólares. Mas o objectivo tinha sido alcançado, pois arranjou novos patrocinadores, que estavam dispostos a abrir os cordões à bolsa, e assim pagar o que lhe devia.

"O carro verde era lindo, mas não pagava as contas". Esperto, o nosso amigo Eddie.

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