segunda-feira, 30 de abril de 2012

Caro Roland

Caro Roland:

Andei ao longo destes anos a escrever sobre ti, neste meu pequeno espaço. Lembro-me da noticia do teu acidente, naquele sábado de abril, e sabia da gravidade do assunto, mas pensava que tu te safarias com umas luxações e um torcicolo. Não pensava que irias morrer. Pensava que isso tinha desaparecido de vez, agora com carros mais fortes, de fibra de carbono, que resistiam a todos os choques. Afinal, estava enganado. Estavamos todos enganados. E no dia seguinte, o choque foi ainda maior para o resto do mundo.

Com o tempo, conheci-te a tua história de alto a baixo. De como o teu sonho de correr na Formula 1 se tornou a tua obsessão. De como te zangaste com a tua familia, quando contrariaste os desejos do teu pai. Que foste correr no Japão e fizeste amigos para toda a vida, como o Heinz-Harald Frentzen e o Mika Salo, e depois pediste a um jornalista, Adam Cooper de seu nome, para que publicasse coisas tuas na imprensa, pois tinhas medo de que a tua oportunidade se passasse, estando tu longe da Europa, que pensavas ser o centro do Universo automobilístico. Ainda o é hoje em dia, mas um pouco menos.

Tinhas talento para correr em tudo que era carro. Escalaste todos os escalões do automobilismo, e às vezes fizeste coisas que ninguém pensava fazer, por exemplo, ires a um desenho animado britânico, porque eras o "Roland Rat". Como exemplificaste neste caso, niunca existirá má publicidade...

Só estiveste três fins de semana de Formula 1, mas hoje em dia, todos te lembram de ti. Mas acho-te injusto que te lembram apenas porque morreste um dia antes de Ayrton Senna. Mas acho isto tremendamente injusto, porque não era isso que querias que ficasses na história. Gostaria que as pessoas soubessem que justaste dinheiro para correr. Que vendeste a tua casa e o teu adorado Fusca (Carocha) amarelo para comprares cinco corridas na Simtek. Que no final, conseguiste reconciliar-te com o teu pai e com o resto da familia, que por fim, todo aquele sacrificio que fizeste compensou. Mesmo que o preço tenha sido muito elevado.

Durante muito tempo, tive dúvidas sobre a razão porque tipos como tu eram capazes de vender tudo para chegarem à Formula 1, mas um dia encontrei algo que Emerson Fittipaldi disse no dia em que alinhou no seu primeiro Grande Prémio da carreira, em Brands Hatch: "Alinhei na última fila, ao lado de Graham Hill, meu ídolo de infância. Se morresse nesse momento, morria feliz. Tinha atingido o meu sonho - alinhar num Grand Prix de Formula 1".

No final, colocaram na tua tumba a frase "Viveu para o seu sonho". Há muita gente que te inveja, porque fizeste o que querias e tiveste tomates para isso. Viveste apenas 33 anos, mas provavelmente foram muito preenchidos. Por causa do teu sonho, foste para lugares distantes, correstes todo o tipo de carros, de quase todas as categorias, chamaram-te de "Rato" e apareceste num programa infantil. Se tivesses um trabalho de secretaria, achas que terias conseguido tudo isto? Talvez não.

Parabéns, conseguiste o teu sonho, mesmo que o preço que pagaste tenha sido o mais elevado de todos. Invejo-te, porque viverei mais tempo do que tu, mas não tenho nem metade da tua coragem. Nunca iria vender a minha casa, nem o meu adorado carro para completar o orçamento para cumprires o teu sonho. Mas se calhar deste-nos um exemplo para todos, e no fim de tudo, foste feliz. E no final, deve ser por isso que estamos por cá. Já que não vivemos para sempre, ao menos vivamos para ser felizes. E esse amor que nos compensa.

Um abraço onde quer que estejas, Roland. E eu farei o meu melhor para não te esquecer, prometo.

IndyCar Racing: Will Power vence em São Paulo

Em terra de brasileiros, Will Power foi o rei, e consolidou a sua liderança no campeonato. Na primeira ida da IndyCar Series ao estrangeiro, nas ruas de São Paulo, o piloto australiano conseguiu estar na frente durante toda a corrida para vencer pela terceira vez consecutiva, e a quarta da Penske no campeonato, consolidando o poder dos motores Chevrolet sobre os Honda e Lotus.

Debaixo de céu nublado, mas sem chuva, a corrida começou sem confusões, com Power a ficar logo na frente.  Atrás dele estava o escocês Dario Franchitti, e ambos se distanciaram de um grupo liderado por Scott Dixon, Graham Rahal e o canadiano Josef Newgarden.

A corrida decorreu sem incidentes até à volta 22, quando outro australiano, Ryan Briscoe, falhou a entrada nas boxes e bateu no muro, provocando a primeira situação de bandeiras amarelas. Alguns pilotos aproveitaram para fazer a troca de pneus, mas a situação não se alterou muito entre os dois da frente, com Ryan Hunter-Reay a ser o terceiro. Na volta 25, os comissários deram bandeira verde, mas durou... poucos segundos, quando Dario Franchitti leva um toque de Mike Conway e sofre um pião, levando a nova situação de bandeiras amarelas.

A bandeira verde apareceu de novo, mas também foi por pouco tempo pois, mais atrás, houve um toque entre Simona de Silvestro e Josef Newgarden, que acabou por envolver James Jakes. Nova situação de bandeiras amarelas, novo alinhamento dos carros  para que se limpasse a pista. 

Quando voltou, a corrida caiu numa modorra, pois não haviam mudanças na frente, apenas as habituais trocas nas boxes. Quando foi a vez de Power ir trocar de pneus e reabastecer, Dixon assumiu a ponta. Na volta 62, um toque de Ed Carpenter no muro, seguido de outro toque entre Bia Figueiredo - que estava de regresso à IndyCar - e Joseph Newgarden fez com que as bandeiras amarelas aparecessem mais uma vez. Dixon foi às boxes e a liderança era de Power. 

Quando tudo voltou a andar, o japonês Takuma Sato faz uma manobra brilhante e sobe para o terceiro posto, mas logo a seguir, na volta 68, há confusão no S de Samba: Marco Andretti toca em Mike Conway, e a seguir é o caos: sete pilotos ficam por lá, entre os quais Bia Figueiredo, Scott Dixon, Simon Pagenaud, Tony Kanaan, James Jakes e Graham Rahal. A bandeira verde volta a ser erguida a cinco voltas do fim, mas nada alteraria até ao final: Will Power vencia, seguido de Ryan Hunter-Reay e de Takuma Sato. Helio Castro Neves foi o melhor brasileiro, na quarta posição.

Com os três primeiros no pódio - e com Sato a ser o primeiro ex-piloto de Formula 1 a subir ao pódio desde, talvez, os tempos de Roberto Moreno na CART - houve uma cena cómica: os pilotos não conseguiam abrir a garrafa de champanhe, para comemorar a presença naquele local. Embaraçoso, no mínimo...

Agora, começa um mês de testes e demais preparações para a corrida do ano nos Estados Unidos: as 500 Milhas de Indianápolis.

domingo, 29 de abril de 2012

WRC 2012 - Argentina (Final)

E como seria de esperar, Sebastien Löeb vence o Rali da Argentina, a sua segunda vitória do ano e a 70ª da sua já longa carreira, fazendo com que esteja cada vez mais lançado para o seu nono titulo consecutivo. Num rali onde a resistência era mais importante do que velocidade, os Citroen venceram em toda a linha, pois o finlandês Mikko Hirvonen foi o segundo classificado, não muito longe de Löeb, mas apenas devido a ordens de equipa. Mads Ostberg, que vencera o Rali de Portugal após a desclassificação de Hirvonen, foi o terceiro classificado, depois de Dani Sordo ter desistido praticamente na penultima classificativa do rali.

"Mais esta vitória na Argentina é realmente importante, sobretudo depois do que aconteceu em Portugal. foi um grande rali, especialmente com o Mikko [Hirvonen] a acabar na seguhnda posição", afirmou aos microfones da World Rally Radio.

Dani Sordo, no seu "one off" com a Ford, em substituição do lesionado Jari-Matti Latvala, parecia estar a levar o seu carro a bom porto, quando o seu alternador decidiu avariar-se na pior altura possivel, a última especial.

E Sordo não foi só o unico desistente deste dia: Anders Mikkelsen, no segundo Skoda da Volkswagen, desisitiu na 15ª especial devido a um braço de suspensão arrancado, enquanto que Armindo Araujo estava com o nono lugar mais ou menos assegurado quando na 17ª especial, a sua coluna de direção quebrou e deixou-o apeado, impedindo-o de alcançar o seu objetivo neste rali, que era o de acabar no "top ten".

"A meio da antepenúltima especial, e com a nona posição da geral mais que segura, o braço da direcção partiu-se e só nos restou encostar. Depois de todo o esforço que efectuamos durante quase 500 quilómetros é frustrante não conseguir terminar a prova” afirmou o piloto de Santo Tirso.

Interessante saber que do quinto lugar para baixo - excepto o sétimo lugar de Sebastien Ogier - chegaram ao fim pilotos que voltaram para a estrada no método "Rally2", o ex-SuperRally. Thierry Neuville foi o quinto, segundo por Petter Solberg, naquele que acabou por ser o melhor piloto da Ford. O russo Evgueny Novikov foi o oitavo, e a fechar o "top ten" ficaram o qatari Nasser Al-Attiyah e o estónio Ott Tanak.

Depois da Argentina, máquinas e pilotos voltam a se juntar na Europa, mais concretamente em terras gregas, no Rali da Acrópole, que decorrerá daqui a um mês, entre 25 e 27 de maio.  

WTCC 2012 - Slovakiaring (Corridas)

Tinha alguma curiosidade em saber como era o "tilkódromo" do Slovakiaring, pois mais parecia um "intestino delgado", com dois saltões, feitos com dois montes artificiais, só para dar espectáculo. E como já tinha visto anteriormente alguns carros a perderem algum "chão" com esses saltos, ainda pensei que haveria algum daquele espectáculo do WTCC. Não houve, mas também a Chevrolet não ganhou todas as corridas deste fim de semana, pois o Seat de Gabriele Tarquini venceu a primeira corrida. Aliás, foi o grande vencedor do fim de semana, conseguindo um primeiro e um terceiro lugar nas duas corridas. E na segunda, fez suar o Yvan Muller.

Na primeira corrida, os habituais toques tiveram consequências na pista... e fora dela, pois os comissários desportivos acharam que Yvan Muller e Robert Huff prejudicaram de propósito os seus concorrentes e foram penalizados por "drive-throughs" que os colocaram fora do "top ten". E isso fez com que os Seat a equipa Lukoil ficaram com os dois primeiros lugares, Com Tarquini a comemorar a sua primeira vitória do ano, seguido do russo Alexsei Dudualko, que consegue o primeiro pódio da sua carreira no WTCC. Alain Menu foi o terceiro, seguido pelo italiano Alberto Cerqui.

Tiago Monteiro foi um dos prejudicados nos toques com Robert Huff e Yvan Muller - e também pelo Ford de James Nash - e acabou por desistir devido aos danos causados. 

A segunda corrida - que ao contrário do que aconteceu nas vezes anteriores, aconteceu vinte minutos depois do final da primeira - começava com Stefano D'Aste no primeiro lugar, mas este perdeu logo nas primeiras curvas para os Chevrolet de Robert Huff, Yvan Muller e Alain Menu. Mas tinha também a companhia de um moralizado Gabriele Tarquini, que andou a segui-los, tal como Tom Coronel e o hungaro Norbert Mischelisz.

Quanto a Tiago Monteiro, apesar de uma boa posição na largada e de ter tido melhor sorte nos toques no meio do pelotão, acabou depois por desenvolver problemas elétricos no seu carro, caindo na classificação e depois abandonar. Quem também abandonou, mas devido a um furo, foi Alain Menu.

No final, com Huff a liderar até à meta, Tarquini atacou o segundo lugar de Muller, com um toque na penultima volta que o fez deslizar de forma controlada, mas a conseguir manter o segundo lugar. E assim os carros americanos conseguiram vencer, mas desta vez foi uma dobradinha, em vez do monopólio. Tarquini ficou com a medalha de bronze, seguido do holandês Tom Coronel e do espanhol Pepe Oriola.

Depois da Eslováquia, o WTCC seguirá para a Hungria, onde fará mais uma jornada dupla no próximo domingo.




WRC 2012 - Rali da Argentina (Dia 2)

O segundo dia do Rali da Argentina foi basicamente um "affaire Citroen", com Sebastien Löeb e Mikko Hirvonen a praticamente controlarem os eventos nas classificativas locais, com quase minuto e 46 segundos sobre Dani Sordo, que a equipa já deu ordens para que a sequência seja mantida, com o francês na frente do piloto finlandês. "Com a situação que temos penso que é uma boa oportunidade para compensar Portugal. É verdade que a batalha terminou mas agora temos de terminar. A luta foi interessante e deve ser frustrante para o Mikko, mas ambos compreendemos a decisão da equipa", afirmou o piloto francês aos microfones da World Rally Radio. 

Quanto a Mikko Hirvonen, apesar de desapontado com a decisão da equipa, aceita o veredicto: “Apesar de quereres lutar pela vitória, mais importante é a classificação dos Construtores", começou por dizer. "Tudo pode acontecer, mas acato a decisão da equipa, logo, não puxarei tanto pelo meu carro", concluiu.

Dani Sordo, o terceiro classificado deste rali, não teve um grande dia devido a um furo, que o fez atrasar e a  rolar isolado no lugar mais baixo do pódio, pois o norueguês Mads Ostberg está a mais de um minuto e 20 segundos do espanhol. "Não guiei de forma muito confiante no dia de hoje. Apesar de garantir pontos, não consigo ir tão depressa como queria", afirmou.

No quarto posto está Mads Ostberg, que também roda algo isolado, pois o seu mais direto perseguidor, o checo Martin Prokop, está a mais de seis minutos. Sebastien Ogier e Anders Mikkelsen lutam um pelo outro pela sexta posição, numa luta entre dois S2000, embora sejam carros preparados pela Volkswagen. Thierry Neuville é oitavo, seguido por Petter Solberg e Armindo Araujo, num dia onde o qatari Nasser Al Attyah teve de desistir devido a uma quebra na sua suspensão traseira direita.   

Quanto a Armindo Araujo, o piloto do mini não teve um grande dia, devido a um furo e algumas dificuldades em termos de visibilidade, que pejudicaram um pouco o seu andamento, e não conseguindo opor-se muito aos andamentos de Peter Solberg e Thierry Neuville, que o passaram ao longo do dia de hoje. Contudo, os seus objetivos de acabar no "top ten" continuavam intactos, pois está a mais de cinco munutos de Evgueny Novikov, o 11º classificado.

Não tivemos um dia muito positivo pois, para além de um furo na classificativa maior do dia, apanhamos em outras especiais o pó de adversários que estavam com problemas e perdemos algum tempo." começou por dizer o piloto português na chegada à zona de assistência instalada em Villa Carlos Paz.

"Apesar de tudo, estamos a conseguir não comprometer a nossa continuidade em prova e mantivemo-nos dentro do top-ten. Não tem sido uma prova fácil e vamos lutar para conseguir terminar dentro dos objectivos que traçamos”, concluiu.

Amanhã é o último dia do Rali da Argentina, com os concorrentes a percorrerem mais 132,19 km cronometrados, 65,74 dos quais na classificativa de Matadero/Ambul, a mais longa do Mundial. 

sábado, 28 de abril de 2012

Os 60 anos de Ari Vatanen


Esta sexta-feira assinalaram-se os 60 anos do nascimento de Ari Vatanen, provavelmente um dos melhores pilotos de ralis da sua geração. Foi um daqueles pilotos que epitomizaram a garra finlandesa nas classificativas um pouco de todo o mundo, aquela filosofia que um dos seus rivais, Markku Alen, resumiu numa só palavra: “maximum attack”.

Vatanen foi um dos meus ídolos de infância. Tenho aquele privilégio de ter começado a seguir os ralis em pleno auge dos “Grupo B”, monstros com mais de 500 cavalos, em carros feitos de fibra de vidro, cujos chassis eram tubulares. Carros de difícil controle e que tiveram o seu inevitável após o acidente mortal de Henri Toivonen, na Volta à Córsega, a 2 de maio de 1986. Mas esse acidente tinha sido apenas o culminar de uma série de avisos, cujo começo tinha acontecido quase um ano antes, na Argentina, envolvendo o Peugeot 205 Turbo 16 de… Vatanen. Sobre isso, falo mais adiante.

Teve uma carreira longa e consistente com a sua rapidez, quer nos Ford Escort que lhe deram o seu único título mundial, em 1981 – tendo como navegador David Richards, o fundador da Prodrive – quer depois quando se transferiu para os Opel Ascona 400. Era veloz e destemido. Lembro-me de ver um vídeo onboard de um Manx Rally, em 1983, ainda no tempo dos Ascona, em que ia de pedal a fundo, numa estrada estreita e não levanta o pé, mesmo quando atravessa uma estreita ponte. O navegador, que estava concentrado em “cantar” as notas, não deixa de soltar um impropério ao vê-lo passar por aquela ponte, sem hesitar, instintivamente.

Quando o vi a vencer com o Peugeot 205 Turbo, pensava que naquele ano de 1985, ele seria o devido campeão, porque parecia ser o piloto ideal para aquela máquina. Tinha outros pilotos por ali, claro: Timo Salonen, Bruno Saby, mas parecia que Vatanen era o piloto ideal de um carro ideal. O anti-Audi, o anti-Lancia, embora no inicio de 1985, este ainda não tinha colocado na estrada o seu Delta S4.

Depois, veio o acidente na Argentina. Foi um grande golpe na busca do seu titulo mundial – não mais ganharia - mas tinha outra batalha pela frente, que era o de voltar a competir. Tinha quebrado tudo: as pernas, a bacia, fraturas no pescoço. Tinha levado transfusões de sangue ainda na Argentina – e por alguns tempos temeu que tinha contraído o vírus HIV – e esteve mais de um ano em reabilitação. Mas depois recuperou e voltou a correr, de novo na Peugeot, desta vez no Dakar, onde venceu por quatro vezes e poderia ter vencido uma quinta, em 1988, caso não tivessem roubado o seu carro em Gao, a meio de mais um Dakar.

Após isso, regressou aos ralis, mas de forma mais esporádica. Esteve na Subaru do seu velho amigo David Richards, e ao lado de Markku Alen, mas ambos tinham visto passar os seus melhores anos. Voltou ao Dakar e reformou-se aos poucos, para se dedicar à sua carreira politica, como deputado do Parlamento Europeu.

Depois em 2009, decidiu tentar a sua sorte como presidente da FIA, representando uma candidatura “rebelde”, da corrente que já estava cansada de Max Mosley, mas este não se candidatou e no seu lugar veio o seu ex-patrão na Peugeot, Jean Todt. Pode não ter ganho, mas deu algum ar fresco numa instituição demasiado fechada nela mesma e que cada vez mais se distancia da realidade, como qualquer organiasmo supra-nacional dos nossos dias, e que tem leis que o tornam num estado dentro de um estado, como a FIFA, no futebol, e o Comité Olimpico Internacional.

Mas creio que hoje em dia, Ari Vatanen é uma pessoa feliz. Fez aquilo que gostava de fazer, provou que não estava acabado, quando a contrariedade apareceu à sua frente, e saiu dela vencedor. Divertiu-se e teve uma boa vida, algo que poucos podem afirmar hoje em dia.

Apesar de estar atrasado, aqui vai: Feliz aniversário, Ari! 

WRC 2012 - Rali da Argentina (Dia 1)

O primeiro dia do Rali da Argentina foi marcado pelas extensas classificativas, onde apesar de terem sido apenas seis que os pilotos percorreram, nenuma delas tinha menos do que... 19 quilómetros, sendo a maior de todas a de Aguia de Oro, com quase 52 quilómetros de extensão e do qual fizeram duas passagens. E apesar de toda esta extensão e dureza, no final do primeiro dia, a diferença entre o primeiro e segundo classificados é de... 0,1 segundos, com Sebastien Löeb a levar a melhor sobre Mikko Hirvonen.

Mas o dia começou com Peter Solberg a ser melhor do que Sebastian Löeb na primeira classificativa, mas depois o francês fez dois piões na Aguia de Oro, perdendo 26,5 segundos para o piloto norueguês, que assim consolidava o comando da corrida. Solberg parecia alargar a sua vantagem, até que na quarta classificativa, quebra o braço da suspensão, perdendo imenso tempo e por consequência, o comando do rali. Para piorar as coisas, isto aconteceu numa altura em que Löeb estava a recuperar tempo, vencendo as duas especiais da segunda secção e conseguindo passar Dani Sordo primeiro e, depois, trocar com Hirvonen, que tinha herdado o comando de Solberg. 

Pior do que Solberg ficaram o estónio Ott Tanak e o russo Evgueny Novikov, ambos a danificarem a roda traseira direita e a perderem muito tempo. Tanak teve de trocar a suspensão traseira do seu carro para poder prosseguir, embora muito abaixo da classificação geral. Contudo, os danos no carro do piloto russo, segundo em Portugal, foram demasiado grandes e não prosseguirá no rali. Outra das casualidades do dia foi Thierry Neuville, que capotou na quinta especial, quando seguia na quarta posição.

Contudo, os dois pilotos da Citroen estavam muito juntos, e no final do dia, a diferença era a mais mínima possivel: 0,1 segundos, com o francês a levar a melhor."O início da especial não foi muito bom, mas o final foi bom, pelo que vamos ver o que vai acontecer", referiu Hirvonen no final, ao passo que Löeb confessou ter tido algumas dificuldades de visibilidade, que condicionaram o seu ritmo.

Atrás dos Citroen está o Ford de Dani Sordo, que substitui o lesionado Jari-Matti Latvala. O piloto espanhol anda calmamente na terceira posição, e não está muito longe deles, pois encontra-se a 13,1 segundos, e provavelmente terá uma palavra a dizer nos dois dias seguintes. Mads Ostberg, o norueguês vencedor do Rali de Portugal, é o quarto, a quase um minuto dos da frente. O qatari Nasser Al Attyah é quinto, apesar de estar limitado fisicamente devido a dores no pescoço, a mais de cinco minutos do primeiro. Martin Prokop é o sexto, não muito longe de Al Attyah, e com os Skoda de Sebastien Ogier e Anders Mikkelsen logo atrás.

Quanto a Armindo Araujo, decidiu como sempre, andar num andamento cauteloso, no sentido de levar o seu carro até ao final, e recolher pontos. A meio do dia, esse andamento tinha resultado no nono lugar da geral, não muito longe dos Skoda de Sebastien Ogier e Anders Mikkelsen: "Tentei não perder muito tempo e não cometer erros. Há muitas pedras na estrada e estou a ser mais cauteloso. Estou satisfeito com o carro”, referiu Araújo no final da quarta classificativa à World Rally Radio.

Na parte da tarde, o piloto de Santo Tirso continuou com a sua abordagem cautelosa, embora tenha tido alguns problemas em relação ao turbo, que limitou a potência do seu carro e o impediu de alcançar os Skoda S2000. "Da parte da manhã tudo correu bem mas, infelizmente, na ligação para a quarta especial, partiu-se a válvula solenóide do turbo e as coisas ficaram mais difíceis. Com cerca de noventa quilómetros pela frente antes da assistência sabíamos que perderíamos muito tempo para os nossos adversários directos mas não havia nada a fazer.", começou por afirmar no seu site oficial.

"Apesar do amargo de boca que sentimos por percebermos que poderíamos estar melhor posicionados, estamos actualmente na nona posição e há ainda muito rali pela frente e muita coisa pode acontecer. O nosso objectivo é pontuar e vamos continuar a lutar por isso”, concluiu.

Este sábado continua o rali da Argentina, num dia que obrigará os concorrentes do WRC a disputar 166,54 km, em sete especiais cronometradas de classificação.  

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Noticias: Ecclestone vai-se casar pela terceira vez

Esta sexta-feira parece ter espaço para o "Momento Caras" do dia. Digo isto porque foi hoje que se soube que o anão Bernie Ecclestone anunciou o seu noivado com a advogada brasileira Fabiana Floisi, que tem a bonita idade de... 36 anos. Sim, tem idade para ser a sua neta!

"Estamos muito felizes. Já não é mais uma questão de 'se' mas sim de 'quando'. Estamos juntos há mais de dois anos e o que faz esta relação funcionar é que ela tem um fabuloso sentido de humor, e quando se vive comigo, é preciso ter um fabuloso sentido de humor. Mas tenho de afirmar que estou muito feliz por a ter comigo.", concluiu. O anuncio do noivado foi celebrado com uma prenda de cem mil libras, sob a fora de um anel de diamantes.

Caso ele viva o suficiente para celebrar o dia do seu casamento, Ecclestone, que tem 82 anos e toma conta da Formula 1 há mais de 40 anos, irá casar-se pela terceira vez, depois de um primeiro casamento nos anos 50, que lhe deu uma filha, e de se ter casado em 1984 com a modelo croata Slavica, de quem teve mais duas filhas, Tamara e Petra. E espero que ele seja acionista da farmacêutica Pfizer, que assim poderá pedir amostras grátis de certo comprimido azul...

Liberdades artisticas no Rush?

Como sabem, estou a seguir muito atentamente as filmagens de "Rush", o tal "biopic" sobre a rivalidade entre Niki Lauda e James Hunt na temporada de 1976. Pelo que tenho visto das imagens de Ron Howard, o realizador deste filme, ele tem tentado seguir a história da melhor maneira possivel, sendo o mais rigoroso possivel com a história, com os carros da época. Mas hoje leio o Jalopink e aparece uma noticia que está a causar dúvidas: será que Howard anda a ter muitas liberdades artisticas com o filme?

No dia em que mostrei o filme sobre as filmagens da cena do acidente de Niki Lauda, houve quem tenha achado estranho ver Emerson Fittipaldi como um dos salvadores do austríaco em Nurburgring. Na realidade, ele estava lá e de facto ajudou a tirar o austríaco do carro, sendo um dos cinco que o fizeram (os outros quatro foram Harald Ertl, Arturo Merzário, Brett Lunger e Guy Edwards). Apesar das dúvidas terem pairado no ar, provou-se que Howard estava a seguir a história. Agora surgiu um novo alerta, desta vez relacionado com o inicio da carreira de ambos os pilotos, na Formula 3.

Aparentemente, Ron Howard está a recriar uma corrida de Formula 3 na pista de Crystal Palace, em Londres - que já não é mais usado. Essa corrida, que aconteceu em outubro de 1970, fez com que as pessoas começassem a ouvir falar de James Hunt e do seu estilo de condução que lhe deu a alciunha de "Hunt, the Shunt". E de uma briga - a sério, com punhos e tudo - com Dave Morgan. Howard esteve a filmar no mesmo local dos acontecimentos de há 41 anos, e existem algumas incorreções, como por exemplo, o carro de Hunt, que no filme vai ser verde, quando na realidade era vermelho. E mais ainda: está a colocar Lauda na corrida, quando na realidade, ele não estava presente nesse dia. E outro pormenor ainda: aqui, Hunt tem capacete "à antiga" quando em 1970, a maior parte dos pilotos já tem capacete integral.

Essa corrida (cujo video podem ver por aqui) ficou famosa devido à sua luta pelo duelo pela segunda posição, numa corrida ganha pelo australiano Dave Walker - que na altura já era piloto da Lotus - e pela luta entre Hunt, Mike Beuttler, Tony Trimmer e o escocês Gerry Birrell, que morreria três anos depois numa corrida de Formula 2 em Rouen. Outro piloto que participou nessa corrida foi José Carlos Pace


Confesso que estou a ficar com expectativas sobre o filme, mas não gostava nada que se "embelezasse" a história para ver se ganham um Óscar...

O piloto do dia - Helmut Marko

Hoje em dia, todos o conhecem como um dos dirigentes da Red Bull e descobridor de talentos de pilotos como Gerhard Berger e Sebastian Vettel. Mas só os que conhecem melhor é que sabem que este homem, que hoje comemora o seu 69º aniversário natalício, foi também piloto. E dos bons. Colega de escola de Jochen Rindt, só apostou a sério no automobilismo depois de se licenciar... em Direito. Venceu as 24 Horas de Le Mans, numa das vezes em que venceu com o modelo 917, e fez dez corridas de Formula 1 até que um acidente em Charade o fez cegar de um olho e terminar abruptamente a sua carreira de piloto. Nesta sexta-feira, falo sobre Helmut Marko.

Nascido a 27 de abril de 1943 na cidade de Graz, na Áustria, Helmut Marko começou a correr a meio dos anos 60, acompanhando o seu companheiro de escola, Jochen Rindt. Contudo, ao contrário de Rindt, que se empenhava a tempo inteiro e chegou cedo à Formula 1, Marko fazia-o nos tempos livres, enquanto estudava Direito, tendo concluído o curso de 1967, aos 24 anos. A partir daí, começou a dedicar-se ao automobilismo a tempo inteiro, começando pelas corridas de Endurance. Ao serviço da Porsche, começava a dar nas vistas em provas como os 1000 km de Nurburgring e a Targa Florio.

O seu primeiro momento alto acontece em 1971. Ao lado do holandês Gijs Van Lennep, leva um modelo oficial do Porsche 917 com as cores da Martini até ao primeiro lugar nas 24 Horas de Le Mans, cobrindo a maior distância até então: 5335 quilómetros, uma distância que só seria batida em 2010. O que nem ele, nem Van Lennep sabiam era que aquele carro era feito de magnésio, um material muito leve, mas também muito volátil. Para terem uma ideia: no ano anterior, Piers Courage tinha morrido em Zandvoort quando o seu De Tomaso foi pasto das chamas após uma colisão.

Nesse mesmo ano, Marko começava a correr na Formula 1, na pista de Nuirburgring, com um McLaren da Ecurie Bonnier. Contudo, a sua experiência é de curta duração, pois ele fica sem combustível na sua primeira volta lançada e zanga-se com o patrão, Jo Bonnier. Quinze dias depois, na Austria, paga para correr na BRM, tal como faz um compatriota seu chamado Niki Lauda. Mas ao contrário dele, Marko fica e faz as quatro últimas corridas do ano, sem contudo pontuar.

No ano seguinte, continua na BRM como piloto pagante, enquanto corria a Targa Florio pela Alfa Romeo. Apesar de temer pela sua segurança, devido ao facto de tentar recuperar vários segundos de atraso sempre no limite nas tortuosas estradas sicilianas, conseguiu a sua melhor volta da corrida, que é atualmente o recorde da prova, fazendo o circuito de 78 quilómetros em 33 minutos e 41 segundos.

Em paralelo, Marko continuava na BRM, com resultados crescentemente melhores. No GP de França, que nesse ano era em Clermont-Ferrand, Marko conseguia o sexto posto na grelha e tinha pela primeira hipóteses reais de pontuar num Grande Prémio. Contudo, na oitava volta da corrida, quando rolava na quinta posição, uma pedra vinda de um dos carros da frente atingiu a viseira de Marko, ferindo-o gravemente no olho. Parcialmente cego, a sua carreira automobilística chegara ao fim.

Depois disso, Marko tornou-se agente de pilotos, tentando descobrir talentos e levá-los para a Formula 1. Depois de primeiras tentativas azaradas – Helmut Koinnigg, Markus Hottinger e Hans-Georg Burger morreram em acidentes - o primeiro grande resultado foi com Gerhard Berger, e depois, fundou uma equipa que fez correr na Formula 3 e depois na Formula 3000, onde correram pilotos como Jorg Muller e o colombiano Juan Pablo Montoya. No inicio da década, arranjou o patrocínio da Red Bull, que depois comprou a sua equipa e o trouxe de volta à Formula 1, com mais um talento vindo das categorias de base: Sebastian Vettel.

5ª Coluna: o calendário e o seu possivel alargamento


Passadas as atribulações do GP do Bahrein, do qual já foi devidamente e exaustivamente explicados nos dias e semanas anteriores a esta corrida, seguimos para três semanas sem Formula 1, pois as coisas se arrumam para a Europa, mais concretamente para Barcelona, palco do GP de Espanha. Mas pelo meio teremos uma sessão de testes, a começar na terça-feira, 1 de maio, no circuito italiano de Mugello. Algo que os pilotos - e algumas equipas, claro - recebem de braços abertos, para recuperarem dos maus arranques da temporada.

Nesta terça-feira, véspera de feriado por estas bandas, houve algo que me chamou a atenção. Ao fazer a minha visita habitual ao Joe Saward quando li o seu post sobre as negociações do Pacto de Concórdia e a sua proposta de alargamento do calendário. Segundo ele, Bernie Ecclestone anda a tentar convencer as equipas de que, no novo Pacto de Concórdia, o limite de corridas no calendário passasse de 20 para 24.


Mais quatro corridas significariam - caso façamos as contas pela média de 40 milhões por corrida - 160 milhões de dólares nos cofres da FOM e de Bernie Ecclestone. Mas há limites: as equipas exigem um mínimo de doze semanas entre uma temporada e outra, e as habituais três semanas de pausa no verão, habitualmente em agosto, o mês de férias por excelência no Hemisfério Norte. E de acordo com o atual acordo, pelo menos metade dessas corridas tem de acontecer na Europa e nos Estados Unidos.

Por mim, à partida sou favorável ao alargamento. Mas qualquer negociata com Bernie Ecclestone por trás, tem algo mais pertinente. O dinheiro é o mais óbvio: mais 160, 200 milhões nos bolsos da Formula 1 são bem vindos, mas essas quatro viriam de onde? Vejamos as hipóteses: um regresso à Argentina e à Africa do Sul, dois clássicos, poderiam tornar a competição mais mundial. Mais uma prova no Qatar poderia fazer a competição mais centrada no Golfo Pérsico, e mais uma prova nos Estados Unidos, como está previsto para New Jersey a partir de 2013, seriam as hipóteses mais plausíveis.

Mas depois fico a pensar: uma "nascarização" da Formula 1 significa aumento de custos, caso esse alargamento seja à custa da Europa. Corridas em quatro semanas consecutivas seriam certamente plausíveis no Velho Continente, mas por exemplo fazer um Malásia-China-Bahrein cada uma com uma semana de intervalo, será seguramente mais complicado. O aumento de custos por parte das equipas e principalmente, aqueles que acompanham o automobilismo, como por exemplo, os jornalistas, irá certamente afastar muita gente da competição, como Joe Saward afirma no post. A NASCAR faz isto bem porque 98 por cento das suas provas são nos Estados Unidos, que apesar de ser um pais grande, tem uma máquina bem oleada. E não há as barreiras alfandegárias que tem o resto do mundo.

E claro, há o custo humano em termos de mecânicos, engenheiros e pilotos. Colocá-los fora dos seus entes queridos e respectivas familias pelo menos em metade do ano é um fardo enorme para essas pessoas. Haverá uma altura em que terão de escolher entre o automobilismo e a familia, e certamente haverá uma altura em que se fartarão de passar dias a fazer percursos aeroporto-hotel-circuito. Poderá ser uma maravilha para os que estão sentados em casa a ver as corridas, mas para os que acompanham, será uma competição de desgaste tão rápido como na pista.

Mas este artigo de Joe Saward também significa uma coisa: o Pacto, que muitos achavam alinhavado e definido, ainda não foi fechado. Aliás, estou desde há muito convencido que a "fonte" das noticias sobre o Pacto é o próprio Ecclestone, que coloca a sua versão como um "fait accompli", o que, como podem ver, está longe disso. Os eventos no Bahrein não deram muito para discutir mais pormenores, mas sabe-se que a Mercedes está a colocar muita oposição a ela, porque quer receber dinheiro não só dos seus tempos na Formula 1, mas pelas equipas que estiveram ali antes: Brawn GP, Honda, BAR e Tyrrell. Em suma, tudo o que alcançou desde 1970, que é tanto como a McLaren, por exemplo.

Em suma, o alargamento do calendário é mais um dos pormenores de um Pacto que por muito que Ecclestone diga o contrário, ainda está por fechar. Ainda faltam dois meses e pouco para o verão, altura que espero ver esse dossier fechado.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Os 75 anos de Jean-Pierre Beltoise

Quando Jean Behra morreu, a 1 de agosto de 1959, Maurice Trintignant apelou para  aparecessem mais talentos franceses no automobilismo, pois tirando ele, não havia mais ninguém. E Behra era a última grande esperança de uma vitória tricolor, pois Trintignant nessa altura já tinha 42 anos, e ele tinha sido o unico a fazer tocar "La Marseillese" por duas vezes, no Mónaco.

Quando foi a vez de Trintignant pendurar de vez o capacete, em 1964, parecia que era o deserto na Formula 1, mas nas categorias inferiores, começava-se a trabalhar nisso, graças a competições como o Volant Shell e o Volant Elf, e depois as iniciativas de marcas como a Matra e a Alpine, que depois será absorvida pela Renault, da mesma forma que tinha feito à Gordini, algum tempo antes.

Todo esse trabalho de base iria ter resultados a partir de meados dos anos 70, e a partir da segunda metade, iriam aparecer pilotos como Francois Cevért, Jean-Pierre Jarier, Jacques Laffite, Patrick Depailler, Didier Pironi, Patrick Tambay, Jacques Laffite, Jean-Pierre Jabouille, entre outros. Mas houve antes disso um piloto que por vezes sozinho, carregou a bandeira francesa nas pistas de corridas, e tornou-se na "grand espoir" do hexágono de vencer corridas, e depois, de vencer o campeonato do mundo: Jean-Pierre Beltoise. Entre 1967 e 1974, a bordo de máquinas da Matra e da BRM, deu o seu melhor e sobreviveu para contar a história.

Começou no inicio dos anos 60 no motociclismo, onde foi várias vezes campeão nacional em 125, 250, 350 e 500cc. Teve um acidente grave em Reims, que deu cabo do seu cotovelo, paralisando-o de uma forma. Beltoise pediu que ficasse de forma a poder conduzir automóveis. Ele decidiu seguir essa vertente em 1966 e cedo teve sucesso na Formula 3 e na Formula 2, aproveitando também o sucesso do programa da Matra. Foi assim que chegou à Formula 1, ainda em 1967, ao lado de outro francês talentoso, Johnny Servoz-Gavin.

Em 1968, a Matra tinha decidido atacar o título mundial, com a ajuda de um antigo lenhador inglês, Ken Tyrrell. Este tinha um piloto talentoso, o escocês Jackie Stewart, e motores Cosworth V8, que se tinham tornado no melhor do pelotão. Tyrrell e Jean-Luc Lagardére, patrão da Matra, combinaram que iriam usar esse motor para Stewart, enquanto que Beltoise ficaria com o motor francês. Dito e feito, e a Matra alcançava o seu título mundial no ano seguinte, com Stewart a dominar essa temporada. Mas no ano seguinte, Tyrrell não usou os motores Matra V12 que a marca queria usar, e seguiu a sua vida, com Stewart atrás.

Assim, Beltoise era o primeiro piloto da marca. Mas o sucesso na Formula 1 sempre fugiu a ele, por vários motivos: sorte, azar, talento da concorrência, os recursos demasiado espalhados na Formula 1 e na Endurance, pois Lagardére queria vencer também as 24 Horas de Le Mans. E tinha muitos bons pilotos, para além de Beltoise: Henri Pescarolo, Gerard Larrousse e os acima citados Jarier e Cevért. 

Entretanto, Beltoise sofrera uma tragédia pessoal, pois tinha perdido a sua primeira mulher em 1966, vitima de um acidente de viação. Conhecera e casara-se com Jacqueline, cujo irmão era um dos seus rivais nas pistas: Francois Cevért. Era curioso ver que as duas grandes esperanças francesas tinham uma ligação familiar a uni-los, e provavelmente uma vitória seria um assunto de família. E isso ficava acima de qualquer rivalidade de pista. 

O seu segundo momento infernal aconteceu em 1971, em Buenos Aires. Os 1000 km locais eram uma forma de comemorar o regresso da Argentina ao automobilismo mundial e tinham chamado muitos e excelentes pilotos. Beltoise estava ali, ao serviço da Matra, e mais ou menos a meio da corrida, o seu carro entra em pane seca. Em vez de abandonar o carro e dar o dia por terminado, decidiu empurrá-lo para as boxes e ver se recuperava alguma coisa. Só que o seu carro estava do outro lado da pista e decidiu atravessá-lo ao empurrão. E o tinha no meio da pista quando apareceu os Ferraris de Mike Parkes e Ignazio Giunti, com este último a bater em cheio no carro do francês, matando-o.

O caso causou rebuliço no meio, com muita gente, incluindo os pilotos, a desejaram que se lhe retirasse a licença de piloto, mas acabou por ver apenas suspensa por três meses. A sua temporada na Matra foi fortemente prejudicada, e a sua estrela empalideceu um pouco. Pior ficou quando o seu cunhado conseguiu aquilo que a França perseguia desde 1958: uma vitória na Formula 1, quando bateu Jackie Stewart na pista americana de Watkins Glen.

Mas após um momento mau, aparece sempre um momento bom. E isso aconteceu quando se transferiu para a BRM em 1972. A equipa estava cheia de dinheiro, graças ao patrocinio da Marlboro, e estava num bom momento, depois de duas vitórias no ano anterior. Esse momento de glória aconteceu num Mónaco debaixo de intensa chuva, onde conseguiu bater a concorrência, dando uma volta de avanço a quase toda a gente, menos o segundo classificado, Jacky Ickx. Fora no mesmo local onde Maurice Trintingnant tinha vencido, 14 anos antes, e claro, estava exultante por, enfim, fazer parte da galeria dos vencedores. E alguns meses depois, fazia parte da festa que a Matra fazia por vencer as 24 Horas de Le Mans, embora ele não pilotasse o carro vencedor.   

O seu terceiro momento infernal na sua carreira aconteceu a 6 de outubro de 1973, quando viu uma coluna de fumo e um carro totalmente destruído na berma de uma curva no circuito americano de Watkins Glen. Ao ver um Tyrrell, pensou que o piloto afetado tinha sido Jackie Stewart, que toda a gente pensava que iria abandonar a competição nessa corrida. Mas quando viu o carro de Stewart e do neozelandês Chris Amon, terceiro piloto da marca, encostados na berma, percebeu que o piloto morto era o seu cunhado. E ele tinha de telefonar para a França, no sentido de dar a má noticia à sua mulher. Pensou seriamente seguir a mesma decisão da Tyrrell, de se retirar para a corrida do dia seguinte, mas decidiu correr na mesma.

A página da Formula 1 fechou-se definitivamente no final de 1975, quando Guy Ligier decidiu desafiá-lo num "shoot out" em Paul Ricard, com o seu compatriota Jacques Laffite. No final do ano anterior, Beltoise decidira sair da BRM e fazer um ano sabático, ajudando Ligier no seu projeto da Formula 1. Desenvolvera arduamente chassis que viria a ser chamado de JS5, na esperança de um regresso aos circuitos em 1976. Contudo, nesse "shoot out", quem sai vencedor deste confronto é Laffite, que não era tão novo assim - seis anos de diferença - e tornou-se piloto titular em 1976. Beltoise seguiu a sua vida, correndo nos Turismos franceses até finais dos anos 80, com muito sucesso, diga-se.

Hoje em dia, goza uma velhice tranquila com Jacqueline, a sua mulher. Os seus filhos Anthony e Julien tentaram a sua sorte no automobilismo, como o seu pai e o seu tio, mas nunca chegaram muito longe. Beltoise aparece em algumas corridas históricas, mas de resto anda um pouco recluso. A sua mais recente aparição pública aconteceu em novembro, quando em Montlehry, foi inaugurada uma rua com o seu nome. Estava em forma e agradeceu a homenagem, pois apesar de ser feita em vida - algo que é sempre pouco habitual - demonstra que não foi esquecido no seu país. 

Ao menos isso. Joyeux Anniversarie, Jean-Pierre Beltoise!

Youtube Testing: O teste do "roll-hoop" da FIA



A FIA anda a experimentar há mais de dois anos várias técnicas que façam reforçar a segurança dos pilotos em caso de impacto frontal com objetos voadores, como os que aconteceram a Felipe Massa, na Hungria, e uma semana antes, tinha matado o britânico Henry Surtees, numa prova de Formula 2. Depois de terem colocado vidros em plexiglass resistente para proteger a área frontal, agora libertaram um filme onde se vê um "roll-bar" frontal semelhante ao que existe na parte de trás do piloto.

Teoricamente, esse "roll-bar" seria colocado na parte da frente do carro, de forma a não prejudicar a visão do piloto, como acontece hoje em dia nos aviões, e os testes estão a ser realizados neste momento. "O 'roll-hoop' fez um bom trabalho em afastar a roda da cabeça do piloto", começou por afirmar o conselheiro técnico da FIA, Andy Mellor. "O problema continua a ser em termos de visibilidade para o piloto, porque pode potencialmente prejudicar a sua condução", concluiu.

Apesar dos testes, Mellor afirma que o objectivo não é ainda de implementar tal coisa nos carros de Formula 1 a curto ou a médio prazo: "Ainda não estamos à procura de soluções definitivas. Este tipo de trabalho é meramente exploratório, pois o que queremos é descobrir a biomecânica deste tipo de impactos no sentido de, mais tarde, encontrar soluções para proteger a cabeça dos pilotos neste tipo de impacto", concluiu.

Os resultados destes testes serão depois entregues à direção técnica da FIA, que recomendará depois possiveis soluções.

WRC 2012: Rali da Argentina (Antevisão)

Um mês depois de Portugal, temos o Rali da Argentina, a segunda incursão do WRC fora da Europa. E este é o primeiro rali onde se vai experimentar um novo tipo, com classificativas longas. Pode ter 19 classificativas cronometradas, mas no total, terá 500 quilómetros, contra os 350 em média. E a mais longa terá 65,74 quilómetros, que começará no domingo, pelas oito horas locais.

Este tipo de rali assegurará certamente novos desafios para os pilotos que os vão enfrentar, mas para pilotos como Sebastien Löeb, não o fazem desanimar: “Depois da minha deceção lusitana, estou determinado a vencer, numa prova que tem um ambiente incomparável. Mais uma vez, a escolha da ordem de partida para a primeira fase do rali pode ser uma verdadeira dor de cabeça. Em Portugal tínhamos 35 quilómetros no primeiro dia e foi um risco calculado sair na frente. Na Argentina são mais de 200 logo na sexta-feira”, referiu, em declarações captadas pela Autosport portuguesa.

Daniel Elena, o monegasco navegador de Löeb, tem uma visão interessante sobre esta nova configuração do rali argentino: “O mais engraçado, se assim podemos dizer, é que esta classificativa jamais foi realizada no passado, nesta configuração, já que o percurso foi utilizado, mas sempre dividido em várias especiais. Sempre dava para descansar pelo meio”, começa por afirmar.

As especiais argentinas podem ser muito rápidas ou muito duras e nós não sabemos muito bem o que esperar. O que é certo é que nenhum piloto conseguirá estar a 100% do primeiro ao último quilómetro. As diferenças podem ir aumentando e diminuindo, mas no final podemos ficar separados por poucos segundos. Esta classificativa não será a única a ter um papel importante, pois teremos duas passagens pelos 52 km de Asconchiga/Agua de Oro, os 39 km e Intiyaco/Golpe de Agua...”, concluiu.

Mikko Hirvonen, depois de um rali de Portugal que venceu na pista, mas que foi desclassificado na secretaria, deseja deixar esse mau momento para trás e conseguir um bom resultado nas Pampas: “Fico contente de alinhar em qualquer rali com a Citroën. É verdade que a Argentina é um rali à parte. O ambiente é incrível e algumas especiais, como Mina Clavero/Giulio Cesare, são diferentes de quaisquer outras. Obtive o meu melhor resultado no ano passado, quando terminei em segundo. Espero fazer pelos menos tão bem desta vez, embora esteja disposto a bater-me com os mais rápidos. Em todo o caso será um rali interessante, que tem um formato diferente e que privilegia a resistência”, afirmou.

Com a Ford a usar o espanhol Dani Sordo em substituição do lesionado Jari-Matti Latvala, a Mini tem Armindo Araujo e Paulo Nobre aos comandos, no sentido de conseguir, acima de tudo, terminar o rali e conseguir mais alguns pontos para o campeonato, ainda por cima, quando se sabe que só vai poder usar o Mini com as novas especificações a partir da Acrópole, a meio de maio.

Apesar de ser uma prova completamente nova para nós os objectivos que traçamos são os mesmos e por isso tudo faremos para terminar entre os dez primeiros da geral. Não temos grandes referências ao nível da afinação e partiremos de uma base que nos permita andar o mais rápido possível e tentar evoluir durante os dias de prova. Sabemos que a concorrência se apresenta sempre muito forte mas vamos tentar contrariar essa tendência“, começou por dizer o piloto de Santo Tirso.

Em relação à nova realidade do rali argentino, Armindo Araujo tenta ter uma abordagem mais pragmática possivel: “Depois de no México termos sido brindados com uma especial muito extensa, na Argentina são várias as classificativas com mais de quarenta quilómetros. O rali inicia-se com dois troços enormes e logo aí será preciso não comprometer os objectivos. Sabemos que nestas situações ninguém pode ser tão rápido como nos ralis mais curtos pois a abordagem terá de ser obrigatoriamente diferente. A durabilidade dos pneus terá maior importância e poderá baralhar muito as contas. Vamos procurar um compromisso que nos garanta a possibilidade de chegar ao que pretendemos“, concluiu.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Os 30 anos da corrida de Imola

Interessante saber que esta semana, quase por uma coincidência no calendário, os eventos do Bahrein e de Imola estejam separados por três dias... e trinta anos. Foram eventos totalmente diferentes, mas há algo a uni-los: Bernie Ecclestone. Em 1982, ele era o patrão da Brabham e da FOCA, a associação de construtores que queria o seu quinhão no dinheiro das transmissões televisivas, contra a FISA, então liderada pelo francês Jean-Marie Balestre, e que por causa de vários pretextos, como o uso dos motores Turbo - ironicamente, Ecclestone tinha começado a usar nesse ano motores BMW nos seus carros - até a questões relacionados com o efeito-solo - a abolição das saias, ordenada por Balestre em 1980, tinha sido o estopim - levou a que neste dia 25 de abril de 1982, apenas 14 carros tinham alinhado em Imola.

Nesse dia, as equipas de fábrica, quase todas não-britânicas, estavam lá: Renault, Ferrari, Alfa Romeo, ATS, Osella. Houve equipas britânicas que furaram o boicote, como a Tyrrell e a Toleman, mas no primeiro caso, tinha a ver com os patrocinadores italianos, trazidos por Michele Alboreto. No segundo caso era porque eles tinham motores turbo, preparados por Brian Hart. Curiosamente, todos os que boicotaram eram britânicos, excepto a Ligier, que tinha motores Matra V12, mas que decidiu ser solidária.

Não foi por ausência deles que a corrida não deixou de ser animada. E mais engraçado ainda: o circuito estava cheio de "tiffosi", sinal de que não estavam tristes por verem metade do pelotão. Queriam ver a Ferrari ganhar. De 14, apenas chegaram seis - depois de cortar a meta, o ATS de Manfred Winkelhock foi desclassificado - e a luta foi, até meio da corrida, entre Renault e Ferrari. Quando os carros franceses foram ao ar devido aos seus Turbos defeituosos, parecia que iria ser um passeio para Gilles Villeneuve e Didier Pironi.

Só que, claro, não foi. Apesar das ordens em contrário, Pironi decidiu mandar a hierarquia às malvas, o que teria significado seguir Gilles Villeneuve em comboio até à meta, e decidiu entrar em duelo com ele. Parecia sacrilégio, mas os "tiffosi" pensavam que fazia parte do espectáculo. Claro, aplaudiram o gesto, mas não sabiam que aquilo tudo era obra própria de Pironi. Villeneuve viu que a hierarquia tinha sido desrespeitada e andou atrás dele, até ficar com o comando, julgando que as coisas se acalmariam. Não foi, e Pironi só se acalmou depois da bandeira de xadrez, com ele no primeiro lugar. O canadiano ficou lívido, e sem saberem, tinham desencadeado a sequência de eventos que teriam um final trágico duas semanas depois, em Zolder.

Enquanto Bernie Ecclestone for vivo, a Formula 1 não verá nada parecido. Porque primeiro que tudo, é ele que manda, e a máquina está melhor oleada do que em 1982. Personalidade dominante, ele fez o possível nestes últimos 30 anos para que fosse ele a mandar, e sabendo que as equipas queriam apenas o seu quinhão do dinheiro, deu-lhes o que queriam. Aliás, depois da sua manifestação de força em Imola, as duas partes chegaram a um acordo, que chamamos hoje de Pacto da Concórdia, renovado a cada quatro ou cinco anos. Todos ficaram satisfeitos, especialmente o patrão da Brabham, que a partir dali, construiu grande parte da sua fortuna. Em 2012, ele é o quarto homem mais rico da Grã-Bretanha.

E também há outra coisa que nos dirá que Imola não se repetirá: agora na Ferrari, há uma hierarquia, onde ao primeiro piloto é dado tudo, é exigido tudo, onde se concentra o trabalho. Ao segundo piloto será dado o poder de seguir o lider e o substituir em caso de queda, algo nestes dias que correm é cada vez mais raro. 2012 na Ferrari está a ser um inferno, tal como foi em 1982, mas ao contrário do que se passa agora, a Scuderia tinha a certeza de que ter uma máquina ganhadora, mas que a ambição das pessoas a fez deitar tudo por terra. E depois de Imola, foi o fim: o carismático primeiro piloto estava morto dali a 15 dias, o segundo piloto, transformado em primeiro, ambicionou demasiado e foi como Ícaro: aproximou-se demasiado do Sol e queimou as suas asas.

Vocês estarão a ver Felipe Massa a comportar-se como Didier Pironi? Claro que não. Teve a sua oportunidade e não a aproveitou. 

Os circuitos do calendário e a sua história

Como é sabido, ontem Bernie Ecclestone anunciou que o GP de França está assegurado no calendário do Mundial de Formula 1 em 2013, provavelmente a alternar com o GP da Belgica, que se corre num dos clássicos do automobilismo, que é Spa-Francochamps. A razão é simples: dinheiro, ou a sua falta. A organização do GP belga tem tido prejuízos nos últimos anos, e com a crescente exigência de mais dinheiro por parte de Bernie Ecclestone, os promotores locais viram com a solução de receber a corrida a cada dois anos, alternando com outra pista, e o governo francês veio com a solução do GP de França, como forma de aliviar a carteira dos promotores locais e não sobrecarregar o do governo francês.

Só no final do ano é que veremos como ficará o calendário, para ver onde e quando é que se realizará a corrida francesa. Mas uma coisa é certa: por fim, Jean Todt cumpriu um dos seus objetivos eleitorais, que era o de recolocar o GP de França no calendário, desaparecido desde 2008. Quanto ao circuito, todos falam de Paul Ricard, mas Magny-Cours é também uma hipótese.

Assim sendo, ao ver que o regresso de uma prova histórica será às custas de outra, parece que a Europa, aos poucos, desaparece do mapa da Formula 1: a partir de 2013, terá provavelmente sete pistas, em vinte possíveis. Provavelmente será o primeiro ano na história da Formula 1 que existirão mais provas fora do Velho Continente do que dentro. A única novidade europeia prevista será a Rússia, que aparecerá em 2014 num tilkódromo desenhado nas ruas de Sochi, a cidade que acolherá os Jogos Olímpicos de Inverno nesse ano.

O que muitos ficam revoltados - e com razão - é ver que um circuito tão desafiador como Spa-Francochamps possa desaparecer e dar lugar a um circuito construído em "nenhures", pago por um exêntrico qualquer, que decidiu levar a Formula 1 para o seu quintal. Por acaso, essa é a premissa detrás de Paul Ricard, mas o circuito situado no sul de França foi construído em 1970, e já teve mais do que tempo para entrar nos livros de História.

Estava a ver ontem a versão portuguesa do Autosport quando dei por mim a ler uma noticia sobre a lista dos circuitos do atual calendário, e as suas datas de construção, e vejo que em 2012 temos um grande constraste entre os clássicos, ou seja, os circuitos com mais de 15 anos, e os "tilkódromos": é que estes últimos já são quase metade das provas no calendário.

GP da Bélgica, Spa-Francochamps, 1922 
GP da Itália, Monza, 1922 
GP de Monaco, Mónaco, 1929 
GP da Alemanha, Hockenheim, 1932 
GP do Brasil, Interlagos, 1940 
GP da Grã-Bretanha, Silverstone, 1947 
GP do Japão, Suzuka, 1962 
GP do Canadá, Montreal, 1978 
GP da Hungria, Hungaroring, 1986 
GP da Espanha, Catalunha, 1991 
GP da Austrália, Albert Park, 1996 

GP da Malásia, Sepang, 1999. É o primeiro "Circuito Tilke", e por acaso é aquele que mais gosto. É uma mistura dos dois tipos: veloz e algo lento. Tem duas enormes retas e muitas zonas de média velocidade. E também uma chicane logo na primeira curva, onde os pilotos passam de um lado e para o outro. Bernie Ecclestone gostou tanto da experiência de Hermann Tilke que o elegeu oficiosamente como o seu arquitecto. Depois...

GP da China, Shangai, 2004 
GP do Bahrein, Shakir, 2004 
GP da Europa, Valência, 2008 
GP de Singapura, Singapura, 2008 
GP de Abu Dhabi, Abu Dhabi, 2009 
GP da Coreia, Yongam, 2010 
GP da Índia, Nova Deli, 2011 
GP dos EUA, Austin, 2012

Nesta lista já não está Istambul, o circuito turco feito em 2005 e que saiu do calendário em 2011. Curiosamente, dos muitos que criticavam os "tilkódromos", quase todos diziam que o circuito turco era dos melhor desenhados, especialmente aquela Curva 8. Mas o que salta mais à vista de toda a gente é que, se dúvidas ainda existem, esta Formula 1 é cada vez mais moldada para o seu dono: Bernie Ecclestone. Foi ele que disse às pessoas interessadas em receber o Grande Circo o que devem fazer, como devem fazer, quanto custa e a quem devem entregar o projeto de desenho do circuito. E cada vez mais, as coisas são moldadas à sua imagem.

E a caminhada não acaba aqui: em 2013 haverá outro circuito desenhado pela mesma personagem: New Jersey, a corrida que Ecclestone sempre sonhou para Nova Iorque. E já se fala nos regressos da Argentina e do México... com isto tudo, alguém saltará para fora, nesse aspecto poderá ser outro "tilkódromo". Provavelmente Valencia, que ou desaparece por completo, ou alternará com Barcelona a realização do GP de Espanha. Este quadro é como disse acima, é o espelho atual da Europa: um continente arrasado pelo peso das dívidas e a viver uma recessão, não tem capacidade de acompanhar as exigências cada vez mais crescentes de dinheiro, para alimentar a "galinha dos ovos de ouro" que se tornou a Formula 1 hoje em dia.

O calendário de 2012 demonstra que, se dúvidas ainda haveria, a Formula 1 é moldada por Bernie Ecclestone, que pede a Hermann Tilke que desenhe os circuitos a seu bel-prazer. Quando desaparecer, daqui a alguns anos, a Formula 1 do passado não será mais do que uma mera recordação, pois ele modificou-a completamente, fazendo com que seja pouco mais do que um nome. Nada tem a ver com que vimos e conhecemos nos anos 70 e 80 e um pouco dos anos 90. É uma "Formula Ecclestone", uma "Formula Tilke". Mas se antigamente, muitos criticavam o projetista alemão pelo facto das suas pistas serem um longo sonífero, nos últimos dois anos, as modificações nas aerodinâmicas dos carros, como o DRS e as asas moveis, fizeram com que as ultrapassagens aumentassem exponencialmente, e as criticas aos "tilkódromos" decresceram bastante.

Amanhã volto a falar mais um pouco mais sobre o calendário, o futuro dos circuitos, e claro, da Formula 1.