Andei ao longo destes anos a escrever sobre ti, neste meu pequeno espaço. Lembro-me da noticia do teu acidente, naquele sábado de abril, e sabia da gravidade do assunto, mas pensava que tu te safarias com umas luxações e um torcicolo. Não pensava que irias morrer. Pensava que isso tinha desaparecido de vez, agora com carros mais fortes, de fibra de carbono, que resistiam a todos os choques. Afinal, estava enganado. Estavamos todos enganados. E no dia seguinte, o choque foi ainda maior para o resto do mundo.
Com o tempo, conheci-te a tua história de alto a baixo. De como o teu sonho de correr na Formula 1 se tornou a tua obsessão. De como te zangaste com a tua familia, quando contrariaste os desejos do teu pai. Que foste correr no Japão e fizeste amigos para toda a vida, como o Heinz-Harald Frentzen e o Mika Salo, e depois pediste a um jornalista, Adam Cooper de seu nome, para que publicasse coisas tuas na imprensa, pois tinhas medo de que a tua oportunidade se passasse, estando tu longe da Europa, que pensavas ser o centro do Universo automobilístico. Ainda o é hoje em dia, mas um pouco menos.
Tinhas talento para correr em tudo que era carro. Escalaste todos os escalões do automobilismo, e às vezes fizeste coisas que ninguém pensava fazer, por exemplo, ires a um desenho animado britânico, porque eras o "Roland Rat". Como exemplificaste neste caso, niunca existirá má publicidade...
Só estiveste três fins de semana de Formula 1, mas hoje em dia, todos te lembram de ti. Mas acho-te injusto que te lembram apenas porque morreste um dia antes de Ayrton Senna. Mas acho isto tremendamente injusto, porque não era isso que querias que ficasses na história. Gostaria que as pessoas soubessem que justaste dinheiro para correr. Que vendeste a tua casa e o teu adorado Fusca (Carocha) amarelo para comprares cinco corridas na Simtek. Que no final, conseguiste reconciliar-te com o teu pai e com o resto da familia, que por fim, todo aquele sacrificio que fizeste compensou. Mesmo que o preço tenha sido muito elevado.
Durante muito tempo, tive dúvidas sobre a razão porque tipos como tu eram capazes de vender tudo para chegarem à Formula 1, mas um dia encontrei algo que Emerson Fittipaldi disse no dia em que alinhou no seu primeiro Grande Prémio da carreira, em Brands Hatch: "Alinhei na última fila, ao lado de Graham Hill, meu ídolo de infância. Se morresse nesse momento, morria feliz. Tinha atingido o meu sonho - alinhar num Grand Prix de Formula 1".
No final, colocaram na tua tumba a frase "Viveu para o seu sonho". Há muita gente que te inveja, porque fizeste o que querias e tiveste tomates para isso. Viveste apenas 33 anos, mas provavelmente foram muito preenchidos. Por causa do teu sonho, foste para lugares distantes, correstes todo o tipo de carros, de quase todas as categorias, chamaram-te de "Rato" e apareceste num programa infantil. Se tivesses um trabalho de secretaria, achas que terias conseguido tudo isto? Talvez não.
Parabéns, conseguiste o teu sonho, mesmo que o preço que pagaste tenha sido o mais elevado de todos. Invejo-te, porque viverei mais tempo do que tu, mas não tenho nem metade da tua coragem. Nunca iria vender a minha casa, nem o meu adorado carro para completar o orçamento para cumprires o teu sonho. Mas se calhar deste-nos um exemplo para todos, e no fim de tudo, foste feliz. E no final, deve ser por isso que estamos por cá. Já que não vivemos para sempre, ao menos vivamos para ser felizes. E esse amor que nos compensa.
Um abraço onde quer que estejas, Roland. E eu farei o meu melhor para não te esquecer, prometo.
Um abraço onde quer que estejas, Roland. E eu farei o meu melhor para não te esquecer, prometo.
4 comentários:
Acho que ninguém o esquecerá... Por ter sido um dos últimos, por ter ido no mesmo fim de semana que Ayrton.
E por ultimo, por ele mesmo, que todos diziam ser um cara nota dez.
Era. E o Cezar Fittipaldi, pelos vistos, conheceu-o.
Parabéns!
Belo post, Speeder_76, belo post...
Belo texto, como sempre, Speeder! Sobre a morte do Roland, certa vez o Max Mosley explicou porque preferiu ir no enterro dele ao invés no do Senna, com a seguinte frase: "Achei que deveria ir no enterro do Roland, porque todos iriam no o Senna." Abraço!
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