quarta-feira, 2 de maio de 2012

Caro Henri

Caro Henri Toivonen:

Há uns tempos descobri uma coisa muito engraçada sobre ti. Sabia que tinhas corrido algumas provas de Formula 3 britânica, em finais de 1982, e até nem tinhas saido mal. Mas o melhor foi que correste uma jornada em Snetterton ao lado de Ayrton Senna, onde ele venceu e tu foste quarto classificado. Fiquei espantado, porque faz-me lembrar daqueles eclipses que acontecem em determinado lugar, ou a passagem do Cometa Halley, que faz a sua visita ao Planeta Terra de 76 em 76 anos. Em suma, é algo bem raro, quase único, direi.

Tinhas talento para as pistas, tão bem como para as classificativas. Aliás, foste para os ralis por conselho paterno, que achava que era mais seguro do que o asfalto. Numa altura em que tinhas a concorrência de pessoas como Ari Vatanen, Markku Alen ou Walter Rohrl, foste diferente. Deste o teu melhor com carros ultrapassados como o Talbot Lotus ou o Opel Ascona, e quando tiveste o carro que querias, deste o teu melhor, até ao limite e para além dele.

Hoje em dia, todos falam da era dos Grupo B como se fosse magia. Como sabes perfeitamente, não foi. Apenas foi uma luta de titãs entre o ser humano, como tu, e as máquinas que o preparavam. Aos poucos, foram máquinas que lentamente perdem o controlo. E tu parecias ser a excepção, depois de pegares no carro e vencido no RAC e em Monte Carlo. 

Tu já sabias até que ponto isto tinha ido. Deves ter tido essa sensação quando soubeste do que aconteceu na Lagoa Azul, na Serra de Sintra. Deves ter sentiudo isso quando pegaste no novo Delta S4 e foste dar umas voltas ao circuito do Estoril. Ficarias espantado, se tivesses ficado mais uns meses  neste planeta, e soubesses que o teu melhor tempo daria um lugar na terceira fila de um Grande Prémio de Formula 1. Para veres até que ponto era leve o teu carro, e até que ponto era potente o teu motor. Tu mesmo disseste, horas antes de morreres, que tinhas guiado um rali inteiro naquele dia. Estavas prestes a perder o controlo e sabias.

Como sabes - ou pelo menos deverias saber - o ser humano só reagem quando um dos seus se vai. Seja num acidente aéreo, seja num acidente de comboio ou quando o Titanic se afundou e se perdeu dezenas ou até centenas de vidas, as pessoas tomam precauções para que as coisas não aconteçam no futuro. No seu caso e do teu co-piloto Sergio Cresto, eles foram implacáveis: acabaram com os carros do Grupo B, os carros que parecias ser o unico que conseguias guiar. Por tua causa - obviamente não foste o culpado, foste vítima - terminou uma era nos ralis.

Felizmente, os ralis evoluiram. Continuamos a admirar os finlandeses, só que agora é uma nova geração. Os Vatanens e os Alens são agora os Hirvonens, já não temos mais um Salonen que fuma e o mais próximo de ti é um rapaz chamado Jari-Matti Latavala. Bateu o teu recorde de precocidade em termos de vitória, mas ele acaba mais vezes na valeta do no lugar mais alto do pódio, mas os ralis são assim. Onde quer que esjejas, não te preocupes, que o teu pais continua a fabricar "finlandeses voadores". Mesmo que nos nossos tempos, o campeão do mundo continua a ser o mesmo senhor.  

"Kiitos", Henri. Por tudo o que fizeste. Viveste pouco, mas bem rápido. E não te preocupes, que ninguém te esquece de ti.

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