terça-feira, 22 de novembro de 2016

Que Formula 1 vamos ter num futuro próximo? (parte 1)

No Brasil, os rumores são imensos. Fala-se também da Alemanha sair de novo do calendário. O governo malaio acaba de anunciar que não há mais Formula 1 a partir de 2018. E Singapura pode ir pelo mesmo caminho, sabendo-se lá quem mais poderá estar a planear abandonar o barco. Bernie Ecclestone tem 86 anos, mas não admite ainda que os seus tempos áureos ficaram para trás, e a Liberty Media tem uma bela bota para descalçar. Eis o panorama da categoria máxima do automobilismo nos dias que correm, na semana de encerramento da temporada de 2016.

Comecemos com coisas que são reais. A Malásia, que andava desde há alguma tempo a queixar-se que ter a Formula 1 por ali dá mais prejuízo do que lucro, decidiu que após o final do seu contrato, em 2018, não iria receber mais a competição em Sepang, terminando assim uma passagem por aquele país que já vinha desde 1999.

O acordo atual está em vigor entre 2016 e 2018 depois dessa data não teremos mais Formula 1 em Sepang. Os espectadores são cada vez menos. Para além disso o custo de organização do evento aumentou 10 vezes em comparação com a primeira vez que colocámos de pé o Grande Prémio”, explicou o ministro da Cultura, Nazri Abdul Aziz.

As razões para que os malaios não queiram mais a Formula 1 vão um pouco mais além dos custos. A sua moeda, o ringgit, desvaloriza-se face ao dólar; o país vive um escândalo de corrupção e desvio de fundos públicos da parte do seu primeiro-ministro, Najib Razak, e claro, a baixa do petróleo - que vale um terço das receitas do Estado - contribuíram muito para que chegassem a este ponto. Mas também a aparição do GP de Singapura também contribuiu para isso, por causa das rivalidades locais. Singapura fez parte da Federação Malaia até 1965, altura em que se separou e declarou a independência, como uma cidade-estado.

Contudo, mesmo Singapura, que é um sucesso entre pilotos e público, por causa do seu ambiente noturno, já disse que as negociações para a renovação do seu contrato, que termina em 2017, estão a ser "dificeis", pois eles querem uma diminuição dos custos, orçados em 150 milhões de dólares anuais, do qual o governo local cobra 60 por cento.

Claro, Ecclestone, que não gosta de ser contrariado, mandou "bocas" à organização: "Singapura tornou-se de repente algo mais do que apenas um terminal aeroportuário onde as pessoas voam de ou para algum lugar. Agora que eles acreditam que alcançaram os seus objetivos, não querem mais um Grande Prémio", comentou à alemã Auto Motor und Sport.

Mais tarde, ele lá se refreou, dizendo que as negociações continuam a decorrer. Mas as criticas de Bernie tem apenas um objetivo: fazer com que as negociações sejam benéficas para ele e não para a cidade-estado. O governo sabe que os custos tem de ser mais baixos, porque desde que começou a receber a Formula 1, em 2008, houve uma baixa de 15 por cento em termos de espectadores, e claro, isso repercute no orçamento final, do qual vêm os seus lucros diminuírem.

Num extremo, ver a Formula 1 não ir quer à Malásia, quer a Singapura, a partir de 2018, é bem real. Com o calendário a receber 21 corridas em 2016, é provável que no final da década possamos ver menos quatro ou cinco corridas, e com muitos deles mais com vontade de sair do que de ficar, a não ser que diminuam os valores dos contratos de fora a que todos saiam a lucrar com isto. E isso acontece muito por culpa de Bernie Ecclestone. Aliás, ele até adoraria ver a Liberty Media lidar com a hipótese do seu negócio recém-adquirido a desintegrar-se. E isso é bem real, caso nada seja feito. Só que neste momento, eles ainda estão a conhecer os cantos à casa, e preferem ainda confiar... em Bernie, o octogenário patrão, que conhece isto tudo há mais de 45 anos e moldou a Formula 1 para aquilo que é hoje.

Contudo, há muito tempo que digo que Bernie Ecclestone não é para ser levado a sério, especialmente quando ele abre a boca e conta coisas que são "novidades", perante os jornalistas incautos que desejam um "exclusivo". Ontem, por exemplo, Joe Saward comparou-o ao pastor Pedro, da fábula "Pedro e o Lobo", dizendo que diz todas estas especulações porque tem aquele defeito de gostar de ser o centro das atenções. E quer ser, mesmo que tenha de mentir aos comunicadores. Há quem alinhe nas patranhas dele, e queira ser os seus "papagaios", para dar mais vendas (e nos tempos da internet, mais cliques). Claro, no final, quem são os prejudicados são os próprios jornalistas, porque Bernie, o anão, é capaz de escapar entre os pingos de chuva.

Claro, Bernie não gosta de nenhuma noticias que não venha dele mesmo. Quando disse certo dia que odiava o barulho dos motores dos Formula 1 híbridos, tocou num dos nervos dos velhos adeptos, que gostam de tudo que seja tão barulhento que lhes fere os ouvidos. Mas ele também odeia as redes sociais e não gosta lá muito daquilo que a Mercedes e a Ferrari diz em relação aos dinheiros, dizendo que se eles quiserem ir embora, ele aponta a porta de saída, dizendo que eles precisam mais da Formula 1 do que o contrário.

Em suma, ele sabe-a toda e adora uma pequena controvérsia aqui e ali, porque sabe que no final, haverá mais um artigo sobre Formula 1 nos jornais, e as pessoas sabem mais sobre o assunto, mesmo que no final estamos a ler completas fabricações. Ou acham que a ideia das duas corridas de 40 minutos por casa fim de semana segue em frente? Quem sabe a maneira como ele funciona sabe que essas conversas não vão a lado algum. E depois não se admirem que as pessoas se queixem das "fake news" nas redes sociais...

Amanhã, continuo a falar sobre isso, especialmente em relação a duas pessoas que estão a aparecer no horizonte: Zak Brown e Toto Wolff, e como a ascensão da Mercedes está a ocupar o lugar deixado vago pela Ferrari.

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