Dois ralis normalmente não querem dizer nada sobre o que vai ser este campeonato, mas eu já vejo duas coisas. A primeira, que vai ser um campeonato mais equilibrado do que todos os outros - agora que a Volkswagen está fora de cena, não se sabe por quanto tempo - e que quem escorregar agora, dificilmente recuperará nas carreiras seguintes. As quatro marcas presentes tem carro para vencer, e são capazes de alcançar o lugar mais alto do pódio ao longo desta temporada. Mas em termos de favoritos, posso dizer que o primeiro candidato desperdiçou a sua hipótese. E não falo de Sebastien Ogier.
Posso dizer que daquilo que vi de Thierry Neuville, ele poderia ter saído deste rali com 58 pontos e provavelmente um avanço nada desprezível sobre a concorrência. Mas neste momento, o belga da Hyundai sai do Rali da Suécia com oito pontos, o oitavo lugar no campeonato... e nenhuma chegada no "top ten". Todos estes pontos resultam das suas posições no Power Stage, fraca consolação pelas lideranças perdidas em Monte Carlo e na Suécia. No primeiro caso, foi o azar que o acompanhou. Meros vinte centímetros é a diferença entre vencer e bater numa berma, acabando com um pneu furado, danos na suspensão e a chance de vitória esfumada. Contudo, no segundo, foi mais azelhice - ou excesso de confiança - que o levou a bater no muro e danificar a direção, perdendo dez minutos e nova chance de vitória, "entregando o ouro ao bandido" a Jari-Matti Latvala.
Ontem à noite, escrevendo na página deste sitio no Drivetribe, disse não saber o que aconteceu na cabeça de Neuville. Posso pensar que foi simplesmente um azar, mas é como na velha frase: "à primeira, todos caem, a partir da segunda, só cai quem quer". Portanto, com aquele incidente, só posso pensar em duas coisas: ou é azelhice, ou então pode ser que ele não aguente a pressão de estar à frente. Quero acreditar que tem a ver com um erro que cometeu, e não porque ele quebra sob pressão, para ir ao contrário da publicidade a certa marca de relógios.
E se falei de Neuville, agora falo de Latvala. O João Carlos Costa, jornalista da Eurosport, fazia a pergunta, hoje, na sua página do Facebook: "Quem dava algo por ele?" Como favorito para vencer o campeonato, creio que ninguém, para além do sonho secreto do próprio Jari-Matti. Ele tem 31 anos, e pela primeira vez na sua "longa carreira" (a sua primeira vitória na Suécia foi há nove!), ele comanda o campeonato do mundo. E hoje, depois de saber que comandava o rali, com uma diferença pequena sobre o Ford de Ott Tanak, dominou as especiais deste domingo e venceu com autoridade, alargando a diferença para os 30 segundos!
É um piloto maduro, correndo o que tem a correr, sem nada a perder. É um ano zero para a Toyota, e lidera o projeto fino-japonês. Contudo, dar uma vitória à marca no segundo rali após o seu regresso, algo que - interessantemente - conseguiu na Volkswagen, em 2012. Mas pelos vistos, Jari-Matti está a mostrar que não é mais o "Bate na Vala" ou o "Lata na Vala", que os acidentes são uma coisa no passado. Contudo, dois ralis não significam nada. O verdadeiro ponto da situação, se calhar, deverá acontecer a meio do ano, em Portugal, o quinto rali do ano. Mas Latvala, pelos vistos, está a mostrar que temos de contar com ele para as vitórias. Mas os resultados que teve foram mais por estar no lugar certo à hora certa do que um duelo contra este ou aquele piloto. Anda a dar o seu melhor sem pisar o risco. Talvez tenha encontrado em Tommi Makkinen o mentor perfeito para que ele brilhe ainda mais e melhor.
Contudo, temos de pensar nisto: poderemos estar perante um dos campeonatos mais equilibrados dos últimos quinze anos. Aquela era de domínio dos "Sebastiões" poderá ter chegado ao fim. Com Loeb agora noutras paragens, e Ogier a adaptar-se à Ford, pode ser que com todo este equilíbrio entre as quatro marcas presentes, poderá dar aos fãs uma temporada equilibrada e imprevisível, como muitos gostariam de ter e que acham que o automobilismo deveria ser.
Sabemos que não é assim... mas deixemos os fãs sonharem, por agora. Daqui a um mês, no México, há mais.
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