quarta-feira, 5 de abril de 2017

Questão de culturas

Toda a gente sabe que há palavras com imensos significados. Uma palavra (ou um gesto) por aqui pode significar uma ofensa no outro lado do mundo, e por vezes as marcas de automóveis, para fazer com que os seus automóveis soem melhor do que números ou letras, por exemplo, escolhem coisas bonitas no seu país, sem verem o que poderá significar noutro lado. É que muitas das vezes, num cantinho neste planeta Terra, poderá significar algo... ofensivo.

Esta semana, a apresentação de um novo modelo de SUV da Hyundai deu brado. A fabricante coreana decidiu dar o nome de uma característica nas ilhas do arquipélago do Hawaii, porque achava que iria apelar ao espirito de aventura. Assim sendo, decidiram batizar o carro de... Kona. Na linguagem havaiana, "kona" significa "sotavento", ou seja, está contra o vento (ou área mais seca, nessas ilhas), só que do outro lado do mundo, ou seja, nestas bandas, é "calão" para vagina. E não é só cá, também os galegos usam esse termo "carinhoso".

Assim sendo, a Hyundai Portugal decidiu que o nome seria outro: o carro chamar-se-á de Kauai, o nome de outra ilha havaiana. Tá resolvido, mas não haverá quem saiba desta história por aqui e goze com isso. E claro, a história do Kona/Kauai (já agora, é também a marca de uma bicicleta de montanha) não é a primeira, e nem será a última de uma longa lista de nomes ofensivos ou embaraçosos em certos lugares do mundo.

Vamos começar pelo exemplo anterior. Este não foi o primeiro carro que teve este nome... infeliz. Nos anos 70, a Opel decidiu batizar um dos seus modelos com o nome de uma famosa estância de ski italiana. O nome era Ascona e claro, por estas bandas deu brado. A marca decidiu rebatizá-la por aqui pelo 1604 ou 1904, mas os emigrantes (e os estrangeiros) que traziam esses carros para Portugal, no verão, por essas alturas, não podiam esconder a verdade... ele ficou por cerca de uma década, até ser substituído pelo Kadett.

Muitos se lembram do Mitsubishi Pajero nos anos 90. Um carro extremamente popular um pouco por todo o mundo, nos países de língua espanhola, o carro tinha o nome de "Montero". E a razão desta mudança de nome era semelhante ao que se passou com o exemplo acima. É que em Espanha - e provavelmente na Latinoamerica, um "pajero" era calão para masturbador. Portanto, já podem imaginar se os japoneses algum dia decidissem batizar um todo o terreno com o nome de "punheteiro"... mas aconteceu.

E não é caso único de "carro masturbador": a Seat teve de mudar o nome do Málaga na Grécia porque a sonoridade era semelhante a "malakas", que em grego é... exatamente isso. Resultado final: o carro chamou-se de Gredos.

Mas há mais, claro. A indiana Tata decidiu há uns tempos batizar um dos seus modelos de "Zika", sem saber que estavam a dar o nome a uma doença que afligiu o Brasil no ano passado, a poucos meses dos Jogos Olimpicos, e que deu tanto brado, mas no final, não deu em nada. Ou então, quando a Mazda decidiu batizar um dos seus "kei-cars" de Laputa, prestando homenagem a uma das ilhas imaginárias das "Viagens de Gulliver", sem saber que em espanhol (e português) significa.. isso mesmo. A sorte é que esse carro não se vendeu na Europa. Outra marca nipónica, a Toyota, teve de modificar o nome do seu desportivo MR-2 (terceira geração na foto) porque em francês, o carro soa como "merdeux", ou seja, uma bosta. O que fizeram foi simples: tiraram o número, ficando MR. E ainda outra, a Honda, decidiu dar o nome de um dos seus modelos de Fitta. Ora, nos países nórdicos, é o nome que usam para... (ver paragrafo da Kona)

Mas não foram só construtores do outro lado do mundo que meteram nomes inusitados. Os italianos também foram "muito bons nisso". Em 1996, quando quiseram batizar o Cinquecento mais veloz de "Sporting", foi mais do que óbvio que por estas bandas, o carro teve de mudar para "Sport" porque ainda achavam que a marca tinha escolhido o seu lado futebolístico. E a Lancia também teve um problema com um dos seus carros, quando em 1969 decidiram batizar um três volumes de... Marica. A sorte é que não passou de um concept car e nunca foi produzido em série. E por acaso, o carro até é bonito...

Em jeito de conclusão: queremos acreditar que as marcas escolhem esses nomes com a melhor das intenções, ou que isto não passa de piadas internas das marcas de automóveis numa qualquer reunião de "brainstorming". Mas o facto de uma coisa interessante numa determinada língua significa algo ofensivo noutra é algo do qual temos de estar sempre alertas. Se calhar por isso que certas marcas limitam-se a fazer siglas ou combinações de números, não?

E eu acho que as marcas deveriam ter dicionários de calão para as seis ou sete principais línguas do mundo, para evitar os constantes embaraços...

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