terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

A imagem do dia

Somos todos seres humanos. Isso é um facto. 

E como temos dias gloriosos, também temos "dias de cão". Só que alguns se esquecem que, quando estão em posições de charneira, eles não poderão cometer qualquer deslize. Nenhum. Porque a responsabilidade é enormíssima. E não é por serem, por exemplo, "role models" para centenas de milhares, senão, milhões de pessoas. 

Mas também para uma minoria, essa gente - humana, volto a referir - que espera qualquer deslize para que este caia. E com o maior estrondo possível. A alguns, poderá ser pessoal. Mas a outros, aplicam o principio falado há mais de cinco séculos por Niccoló Machiavelli: Aos amigos, tudo, aos inimigos, toda a força da Lei. Ou seja... politica. 

E Christian Horner é um ser humano que entrou na história por ser um dos diretores desportivos mais importantes da história da Formula 1, a par de gente como Alfred Neubauer, Colin Chapman, Ron Dennis, Frank Williams ou hoje em dia, Toto Wolff. E conquistou títulos mundiais pela Red Bull - sete, até agora - e uma dupla imbatível com Helmut Marko, com Adrian Newey nos bastidores. Aos 50 anos, o britânico, ex-piloto (medíocre) que pegou na Arden, na Formula 3000 e começou a treinar-se para pegar na Red Bull, onde está desde 2005, e conseguiu colocar onde ela está, poderá ter os dias contados no seu "bebé".

Porquê? Porque, aparentemente, foi humano. E todos os humanos tem um dia de cão. E quando tens os teus dias de cão, cometes deslizes que mais tarde, regressarão a ti como se fossem boomerangs.

Segundo as noticias que correm desde segunda-feira, dia 5 de fevereiro, na imprensa internacional, Horner está a ser investigado por "conduta imprópria". E essa conduta, agora que se sabem dos pormenores, refere que ele mandou imagens de si mesmo a uma funcionária da Red Bull. E aposto o que quiserem, não são aquelas imagens que dão para autógrafos. São do outro tipo. Creio que a palavra - em inglês - começa por D... 

É uma bola de neve. Séria. Muito séria. E pelo seu lado humano, nestes dias que correm, a sua imagem pública ficou afetada. E também nestes dias que correm, pessoas que cometem este tipo de assédio, só tem uma saída: a da porta. E lá, tem de entregar o cartão. 

Só que, caso aconteça isso, poderá desencadear uma avalanche. É assim: se Horner sair, existem cláusulas no contrato dele que podem levar à saída de... Adrian Newey, o projetista dos carros vencedores da equipa. E como sabem, a equipa, como todas as outras, é feita de muita gente, e estes dois, mais Max Verstappen, foram parte de uma espinha dorsal vencedora. E eis o dilema: se for considerado culpado, a porta da rua terá de ser indicada, e se calhar, sem que pague indemnização (que se calhar, é isso que a Red Bull quer). Mas com isso, poderá ficar sem diretor desportivo, sem projetista... e será que garantirá o seu piloto principal, aquele que está a ganhar tudo? 

Não sabemos se foi um erro, se foi um assédio, ou um deslize, mas a história está a aparecer e poderá ser tão forte quanto a da saída de Lewis Hamilton da Mercedes para rumar à Ferrari. A saída de um dos mais titulados diretores desportivos do automobilismo, no auge da sua trajetória vencedora, por um erro humano - ou assédio proposital - é uma machadada numa das equipas mais bem sucedidas da história do automobilismo. 

Claro, pode-se perguntar: "mas o Helmut Marko manda umas bocas e não acontece nada.". Depende. Hoje em dia vivemos numa cultura que já não tolera coisas que eram toleradas no passado. Sexismo, racismo, assédio sexual, homofobia, transfobia... em certos países, é crime. E se algum dia, o teu patrão te manda "dick pics" ou te chantageia, afirmando que "se não abres as pernas, não te dou o aumento que mereces", isso é chantagem. Muito grave. E parece que as acusações que Horner está a ser referido cabem nesta categoria. 

Logo, pode não ter escapatória. Mas se acontecer... a casa poderá ir abaixo. 

Ainda é cedo para saber, mas inesperadamente, para Christian Horner, os seus dias na Red Bull poderão estar contados. Veremos como isto acabará, mas como se costuma afirmar, cá se fazem, cá se pagam. 

E o pagamento poderá ser avultado.        

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