Hoje, Emerson Fittipaldi faz 79 anos, e há meio século, mais ou menos por esta altura, estava a abalar o mundo da Formula 1 com o anuncio da sua ida da McLaren para a Copersucar.
Sim, era verdade: o anuncio fora chocante, especialmente quando Emerson tinha sido o vice-campeão do mundo, com 45 pontos, duas vitórias e seis pódios e todos contavam com ele para 1976, contra Niki Lauda e a Ferrari. A cena que vemos no filme "Rush", com Alistair Caldwell, a fumar que nem uma chaminé, a falar da transferência de "Fitti-fucking-Paldi" para a "Coper-fucking-Sucar" até poderá ter sido dramatizado para efeitos de Hollywood, mas na altura, passar de uma equipa com um carro campeão para uma que tinha acabado a sua primeira temporada com um décimo lugar como melhor resultado em 1975, era inexplicável.
Mas as coisas tinham começado um pouco antes.
No verão, Emerson tinha visto os planos do que iria ser o FD04, desenhado pelo Ricardo Divila, o carro que iria aparecer em 1976, e gostou. Tinha inspiração no McLaren M23, o carro era mais tradicional que o FD01, por exemplo. Ele viu e disse que "era capaz de dirigir essa bagaça". O carro ia sendo construído, com o intuito de ser apresentado em dezembro, em Interlagos, a tempo de participar no GP do Brasil de 1976, previsto para o final de janeiro.
Com o campeonato encerrado em outubro, Emerson tratou de avisar que tinha decidido ir para a equipa do seu irmão, alegando que a McLaren não lhe dava mais do que os 500 mil dólares que lhe dava. Mas ninguém acreditou. Quando assinou o contrato com a Copersucar, e a ganhar um salário relativamente chorudo para a época, (uns falam de 650 mil dólares por temporada, outros falam de um milhão de dólares) o seu irmão decidiu pendurar o capacete e gerir a equipa, e um outro piloto, Ingo Hoffmann, seria também o piloto em algumas corridas selecionadas, a começar para etapa caseira, no velho FD03.
Quando anunciou a sua transferência, foi um choque: uma equipa que ia começar a sua segunda temporada completa contratar o vice-campeão do mundo era algo inédito. Abdicar da possibilidade do título de 1976 a favor de ajudar a estrutura familiar, era algo que só gente como Jack Brabham ou Bruce McLaren tinham feito. Mas ele acreditava que a mudança de ares iria ajudar a continuar na Formula 1. E se fizer a bordo de uma equipa brasileira, melhor! E também era o participar no sonho do irmão, que tinha começado ano e meio antes. Mais cedo ou mais tarde, tal iria acontecer, mas a generalidade das pessoas pensavam que ele ainda iria tentar lutar por um terceiro título mundial.
Anos depois, Emerson explicou a mudança:
“Estava a correr um risco, é verdade”, recorda, numa entrevista feita em 2011. “Podia ter ficado numa situação muito confortável e continuar a ganhar corridas noutras equipas. Mas tinha em mente criar a nossa própria equipa. Com certeza, estava mais motivado na minha própria equipa do que estaria noutra.”
Contudo, quando em dezembro, Emerson estava na apresentação do FD04, em Interlagos, era tudo sorrisos, era tudo esperança de bons resultados. E claro, o patriotismo brasileiro no topo da montanha. E falava-se que José Carlos Pace poderia estar a caminho, num futuro próximo. Enquanto isso, na McLaren, para reagir a esta fuga, foram buscar um piloto britânico que procurava por um bom lugar, depois de alguns resultados interessantes na Hesketh. Um tal de James Hunt.
Mas não foi fácil. A McLaren tinha dois patrocinadores com o mesmo peso: a Marlboro e a Texaco. A gasolineira pretendia outro piloto, o belga Jacky Ickx, ex-Lotus, e forçava Teddy Mayer a aceitar o seu piloto. Na Marlboro, John Hogan, o executivo que estava por trás da Marlboro Europa, acreditava mais no britânico, porque achava que os dias de Ickx como piloto competitivo tinham ficado para trás. No final, deu a Hunt um contrato-base pequeno, 50 mil dólares para aquela temporada, com incentivos à medida que alcançasse certos objetivos. Em contraste, para compensar, deu cem mil libras para Ickx competir... pela Wolf-Williams, a equipa onde acabou por ficar em 1976.
De resto... parabéns por mais um ano de vida, Emerson!



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