segunda-feira, 9 de abril de 2007

O piloto do dia - Jim Clark (2ª parte)

(continuação do dia anterior)

Colin Chapman tinha dois trunfos para 1967: o Lotus 49 e o motor Cosworth DFV, o motor mais bem sucedido da história da Formula 1. Estreado no GP da Holanda, deu a Clark e o seu novo companheiro de equipa, Graham Hill, uma combinação vencedora. Clark venceu esse GP, e os da Inglaterra, Estados Unidos e México. Contudo, isso não foi suficiente para ganhar o título mundial, que foi parar às mãos do neozelandês Dennis Hulme. Contudo, os 41 pontos alcançados foram o resultado de quatro vitórias, seis pole-position e quatro voltas mais rápidas.

Para 1968, Chapman estava a experimentar uma solução revolucionária. Enquanto que qualquer um podia comprar motores Cosworth a 7500 libras por unidade, decidiu que colocar mais carga aerodinâmica sobre as rodas traseiras seria ideal para conseguir maior aderência, logo mais velocidade em curva. Enquanto isso, a FIA baniu as pinturas no chassis baseadas nas cores nacionais. Sendo assim, Chpaman não perdeu tempo: arranjou um patrocínio da Gold Leaf, uma marca de tabaco, por 60 mil libras, mais do que suficiente para sustentar as suas equipas de Formula 1 e Formula 2.

Jim Clark foi o primeiro piloto a experimentar a asa num carro, ao correr numa prova das Tasman Séries na Nova Zelândia: era a pá de um helicóptero adaptada ao carro. Mas em Kyalami, no primeiro dia desse ano, Clark não usou nem as asas, nem o patrocínio da Gold Leaf, para ganhar o GP local, a sua 25ª vitória na Formula 1, batendo o “record” de 10 anos pertencente a Juan Manuel Fangio. Também fizera no dia anterior a sua 33ª pole-position, um “record” que ia ficar até 1989.

A 7 de Abril, Clark deveria participar nas 1000 Milhas BOAC de Brands Hatch, uma prova de Turismos em Inglaterra. Contudo, Colin Chapman tinha um compromisso com a Firestone, e queria que ele experimentasse o novo Lotus de Formula 2 em Hockenheim, na Alemanha. Isso também convinha para Clark, pois para escapar à máquina fiscal inglesa, não podia ficar muitos dias por ano em Inglaterra, e estes eram reservados para testes e corridas.

Jim Clark era um homem que raramente cometia erros. O seu único acidente grave tinha sido o de Monza, seis anos e meio antes, e era um piloto seguro. Apesar de todos saberem que esta era uma competição perigosa e fatal, poucos acreditavam que algo poderia suceder a Jim Clark. Contudo, à quinta volta…


“Jim acelerou pelo bosque fora… um solitário comissário de pista ouvui o Lotus aproximar-se depois dos lideres terem passado, e de repente, a máquina vermelha e dourada começou a ziguezaguear de um lado para o outro, com o piloto lutando com o volante. Depois, saiu da pista, de lado, a uns 225 km/hora, até se partir ao meio contra uma árvore” (Doug Nye)

Clark teve morte imediata. Chapman estava em St. Moritz em férias, e ordenou de imediato um inquérito. A peritagem do carro, feito pelo engenheiro aerodinâmico Peter Jowitt, especializado em acidentes aéreos, concluiu que a causa do acidente tinha sido uma perda de pressão do pneu traseiro direito, provocada, não se sabe com que destroço.

Quase vinte anos depois, em 1986, Jowitt recordou a investigação:

“Encontrei um corte estranho no pneu traseiro direito, e não vi qualquer destroço que o tivesse provocado. Se o pneu tivesse furado, há um efeito que conheço bem: a alta velocidade, em recta, a força centrífuga segura o pneu de tal forma que o piloto nem nota o furo. Em curva, aumentada a carga do pneu, ele torna-se instável e perde a aderência que o piloto dele espera. O conta-rotações mecânico mostra que Jim tinha continuado a acelerar até ao embate , tentando controlar o carro. O pneu traseiro estava descolado do aro e metade de fora. Havia lama em todo o piso do pneu (…) Em pistas actuais, um acidente como este não causaria mais do que uma batida contra os rails e um regresso a pé para as boxes…”

Colin Chapman ficou devastado com a morte de Clark. Afirmou publicamente que “tinha perdido o seu melhor amigo”, e que esteve prestes a abandonar a Formula 1, mas graças ao título mundial que Graham Hill alcançou no final desse ano, dedicando-o a Clark, decidiu continuar.

A morte de Jim Clark tinha deixado a comunidade da Formula 1 em transe: Chris Amon disse na altura, quando se soube da sua morte que “muitos de nós achávamos que éramos inatingíveis, e isso acabou aí…”. Para piorar as coisas, nos três meses seguintes, três pilotos iriam perder a vida, todos num dia 7: Mike Spence em Maio, Ludovico Scarfiotti em Junho, e Jo Schlesser em Julho…

A sua brilhante carreira, em termos estatísticos, fica assim: 72 Grandes Prémios, 25 vitórias em corrida, 33 pole-positions, 28 voltas mais rápidas, e os títulos mundiais de 1963 e 1965. Para além disso, foi o vencedor das 500 Milhas de Indianápolis, também em 1965, o primeiro com um motor traseiro, e foi tri-campeão das Tasman Séries (1965, 1967 e 1968). Para além disso foi terceiro classificado nas 24 Horas de Le Mans de 1960, guiando um Aston Martin.

Clark foi enterrado em Chrinside, no Berwickshire, perto da sua amada Duns, a cidade onde cresceu. No Hockenheimring, perto da curva que levava o seu nome, existe uma pequena cruz a assinalar o local do seu acidente fatal. Ainda em Duns, existe um pequeno museu em sua honra, o “Jim Clark Memorial Room”. Também existe um rali em sua honra, que se disputa todos os anos em Outubro, e que conta para o campeonato britânico.

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