sábado, 7 de agosto de 2010

Grand Prix (numero 47 - Gran Prémio de España, IV)

(continuação do capitulo anterior)

Madrugada de 18 de Abril de 1970. O telefone toca no quarto de Pete Aaron.

- Conseguiram!
- O quê?
- Eles conseguiram. Chegaram à Terra sãos e salvos.
- Quem fala?
- É o Alex. O meu amigo jornalista me disse que a Apollo 13 aterrou esta madrugada no Oceano Pacifico, sem estragos de maior. Eles estão vivos.
- Espantoso! quando é que isso aconteceu?
- Há coisa de uma hora e meia, duas horas. foram resgatados por um porta-aviões cujo nome não consegui fixar.
- Obrigado, Alex. Não deverias estar deitado?
- Estava, mas fiquei tão excitado que desci e estou no bar a tomar um café. Já não consigo dormir.
- Porquê?
- São quase seis da manhã.
- Já?
- Sim senhora. Só que o pequeno-almoço ainda não está pronto. Só a partir das sete. Vou ver o nascer do sol na avenida.
- És doido!
- Habitua-te...
- Excelente, mas eu vou dormir mais alguma coisa.
- Ok, Até já.
- Até já.

Pete desligou o telefone, murmurando:

- Boa, temos um piloto que também serve como serviço de despertador...

--- XXX ---

Três horas mais tarde, todos eles já estavam no Circuito de Jarama para se prepararem para as primeiras voltas do dia ao circuito espanhol. Os carros já estavam reparados e limpos para mais uma sessão de treinos para o GP de Espanha, onde dos vinte carros inscritos, dezasseis tinham o lugar garantido. E haviam algumas surpresas, positivas... e nem por isso.

Pierre de Beaufort não tinha qualquer tempo marcado e tinha de o fazer para sair do 20º e último tempo, se queria alinhar na corrida do dia seguinte. Os travões que tinham falhado no seu carro tinham sido reparados, especialmente os veios defeituosos, e a Matra tinha mandado durante a noite um terceiro chassis, com mais algumas peças sobressalentes, num camião que tinha feito o percurso sem parar de Paris a Madrid, durante a noite, em estradas quase secundárias, para chegar ao circuito por altura dos primeiros raios de sol. Esperavam que tal não fosse necessário, mas ele estava lá, de prevenção.

Em claro contraste, na Jordan, o ambiente era de confiança. O novo chassis portava-se bem e tinham marcado os melhores tempos. Pieter Reinhardt era o melhor e até Bob Bedford, normalmente um cinzento segundo piloto, até tinha feito um bom tempo, conseguindo o segundo lugar, superando o carro de Bruce McLaren e o Apollo de John O'Hara. Gilles Carpentier era sétimo, atrás do Ferrari de Patrick Van Diemen e do BRM de Bob Turner. Alexandre de Monforte tinha o 12º tempo, atrás de Toino Bernardini, mas melhor do que o Jordan da Holmgren tripulado por Brian Hocking. Era o segundo melhor privado, com o Holmgren de Antti Kalhola a fazer o nono melhor tempo, à frente do BRM de Anders Gustafsson, mas atrás do Apollo de Teddy Solana.

Os McLaren não estavam muito bem. Tirando o patrão, Peter Revson era 15º e John Hogarth o 17º, com o espanhol Cervantes, no Jordan semi-oficial, no 14º lugar. Um outro privado, um Jordan inscrito pelo austriaco Manfred Linzmayer, fechava os lugares qualificaveis. Hogarth sofria com o flat-12 da Lamborghini, enquanto que Revson despistara-se cedo e só tinha feito duas voltas limpas, sem tentar muito. As coisas estavam alfitas nos carros laranja, e tinham de marcar algo, e depressa.

A segunda sessão de treino começaria ao meio-dia. Beaufort e os McLarens começaram primeiro, tentando superar o 1.24.2 de Reinhardt, ou então escapar do 1.30.3 de Linzmayer, e tinham uma hora para tal. Durante mais de dez minutos, somente esses três carros estavam a rodar na pista, um pouco a marcar tempo. Ao fim de quatro minutos, outros carros iam para a pista. Carpentier, Linzmayer, Cervantes, Kalhola, Monforte, Hocking...

Em dez minutos, já começavam a ser marcados os primeiros tempos dignos de registo. Beaufort fez facilmente 1.25.5, e depois baixou para 1.24.9, o que lhe dava um lugar na segunda fila. Revson fez depois 1.26.0 e tinha o seu lugar assegurado. Hogarth lutava para conseguir melhorar e fizera 1.29.2, antes de ir às boxes para verificar se todos os sistemas funcionavam bem.

Cervantes fez 1.29.0 e melhorava um pouco o seu tempo, numa máquina que conhecia mal, apesar de ser nova. Era praticamente o primeiro fim de semana que corria com ele, e estava em fase de adaptação. Perto da meia hora, a pista estava deserta, quando um carro entrou para marcar um tempo que o tirasse da zona perigosa. Era Monforte, que não tendo superado o 1.28.7, tinha caído para o 15º lugar, superado por Hocking, Revson e Beaufort, com Cervantes colado e Hogarth no primeiro lugar dos não qualificados.

Sabendo ele que esta era a altura, colocou pneus pouco usados e partiu para uma série rápida de voltas. Estava um carro a entrar nas boxes quando saiu, logo estava virtualmente sozinho na pista. Depois de uma volta de aquecimento, faz a meta a alta velocidade para fazer a sequência Nuvolari-Fangio o mais veloz possivel. Depois faz Le Mans saindo em "slide", derrapagem controlada, para abordar a curva seguinte da mesma forma. Depois, quase sem tocar no pedal de travão, sobe o mais que pode a Rampa Pegaso e tenta fazer a Ascari da melhor forma que pode, a roçar o despiste.

Na Portago, desceu para a Bugatti travando o mais tarde possivel, faz a curva de novo em slide e acelera o mais que pode, para ganhar balanço para fazer a Curva monza da melhor forma para abordar a Curva Tunel e acelerar, mesmo no limite, para a recta da meta e marcar um tempo. E quando isso aconteceu, superou as expectativas: 1.25.8, dando o nono tempo na qualificação, superando alguns consagrados. Tirara quase três segundos ao seu anterior tempo e arrancara alguns aplausos no circuito, pois era o melhor dos privados.

Descansado, dava a volta de desacelração para as boxes. Quando chegou, O'Hara partia de novo para tentar marcar o seu tempo nas primeiras posições. Sorridente, Monforte tirou o capacete e perguntou:

- Quanto foi.
- Parabéns, foi um bom tempo, 1.25.8. Em principio, és nono, afirmou Pam Aaron
- Fantástico! Agora este carro está perfeito.
- De facto é verdade. É tão bom que superaste o Teddy!
- Lá tem ele de se esforçar.
- É bem que se esforçe, senão troco-vos de lugar amanhã.
- Ahah! Estou certo que ele consegue.
- Para teu bem, espero que consiga.

Com os minutos a passarem, Pierre de Beaufort faz nova tentativa para baixar o seu tempo. O essencial estava feito, agora tinha de partir para buscar a pole-position. Todos estavam atentos para saber o que o carro da Matra poderia fazer. Carpentier tinha marcado 1.25.0, enquanto que Reinhardt tinha baixado para 1.24.7, marcando ainda mais a pole-position. Já havia um pouco mais de borracha no asfalto, e os tempos tendiam a baixar entre os da frente. Já Alex estava de novo no carro para aproveitar a onde quando Beaufort abordava a recta para marcar um tempo que superava tudo e todos: 1.23.8.

- Que tempo! O melhor do dia, sem dúvida, afirmou Sinead.
- Resta saber por quanto tempo. Olha, aí vem o teu irmão... respondeu Pam.

John O'Hara acelerava na recta, tentando marcar um bom tempo, conseguindo melhorar aquele que tinha, mas apenas o reduziu para 1.24.4, conseguindo o terceiro tempo, atrás de Beaufort e Reinhardt. O alemão respondeu, mas não conseguiu mais do que 1.24.2, tirando um décimo. Mais atrás, Monforte melhorou para 1.25.5, mantendo o nono tempo, mas mais afastado de Revson, que quando tentava marcar um tempo, despistara-se à saída da Curva Le Mans, causando a amostragem de bandeiras amarelas e a condicionar os tempos naquele momento. Mas por ali já tinha passado John Hogarth, que tinha conseguido afinar o motor e marca o tempo de 1.28.3 e passara Cervantes, que tinha sido prejudicado com o despiste de Revson, e era 17º e primeiro dos não qualificados. Quando tentou a sua sorte, já se estava a um minuto de fechar o treino e apanhou trânsito, especialmente Bernardini e Bedford, nas suas voltas de desaceleração. Insuficiente para passar, e a desilusão nas hostes da casa.

Pierre de Beaufort estava satisfeito. De último passara para o primeiro lugar e tinha a companhia de Reinhardt e O'Hara, com Carpentier e Van Diemen na segunda linha, McLaren, Solana e Gustafsson na terceira, Monforte e Bedford na quarta, Revson, Turner e Bernardini, na quinta, Kalhola e Hocking na sexta e Hogarth no 16º e último lugar.

A grelha para a corrida do dia seguinte estava encontrada. E os dados para ela estavam lançados.

(continua)

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