sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O piloto do dia - Damon Hill (1ª parte)

Se há pilotos que sentiram o peso da herança dos pais, este é especial. Damon Hill lutou durante muitos anos para se livrar das expressões que o qualificavam de "filho de Graham Hill", ao mesmo tempo que lutava para conseguir chegar ao topo da carreira automobilistica. E quando lá chegou, numa idade em que muitos pensam na retirada, teve tempo para deixar uma marca na Formula 1 e ser o primeiro filho de campeão a se tornar campeão. E correu até perto dos 40 anos. Hoje falo de Damon Hill, no dia em que comemora o seu 50º aniversário.

Damon Graham Devereaux Hill nasceu a 17 de Setembro de 1960 no bairro de Hampstead, em Londres. Filho de Graham Hill, que nesse ano era piloto da BRM, e de Bette Hill, cresceu num ambiente automobilistico, onde o seu pai, que venceu dois títulos mundiais em 1962 e 68, era um dos mais famosos e reconhecidos ingleses do seu tempo. Tinha duas irmãs mais velhas, Samantha e Bridget, e tinha uma vida confortável, à medida que o seu pai estendia a sua carreira para além dos anos 60 e inicio dos anos 70.

Em 1972, o seu pai começou a construir a sua equipa de Formula 1 no sentido de prolongar a sua carreira. Correu até 1975, aos 47 anos, quando Damon tinha 15 e já pensava numa carreira sua. Contudo, a 29 de Novembro de 1975, as facilidades acabam quando o seu pai e mais cinco pessoas, entre os quais o seu piloto Tony Brise, morrem numa avioneta pilotada por ele, num campo de golfe ao norte de Londres. A familia Hill descobre que a avioneta, bem como os seus ocupantes, não tinham seguro, e tiveram de pagar as indemnizações subsequentes. E a vida ficou complicada para a familia Hill. Para completar os seus estudos, Damon teve de trabalhar de moto como estafeta numa empresa de entregas.

Em 1981, decidiu começar a sua carreira como piloto de motociclismo. Durante dois anos andou na classe de 350cc em corridas locais, mas odis anos depois, a conselho da sua mãe, decidiu experimentar o automobilismo, inscrevendo-se na francesa Winfield Racing School, que no passado dera imensos talentos para a Formula 1. No ano seguinte, começou a correr na Formula Ford, primeiro de forma esporádica e depois de forma mais concreta em 1985, acabando a temporada com seis vitórias e um terceiro lugar o Formula Ford Festival, em Brands Hatch, numa prova ganha por Johnny Herbert, que também acabaria na Formula 1.

Em 1986, Damon Hill tinha como objectivo correr na formula 3 pela West Surrey Racing, uma das melhores do campeonato. Até então, tinha dado títulos ao britânico Jonathan Palmer e aos brasileiros Ayrton Senna e Mauricio Gugelmin. Contudo, o seu companheiro, o canadiano Bertrand Fabi morre num acidente durante os testes de pré-época, mais a perda do patrocinio da Ricoh, faz com que Hill mudasse de planos e corresse por uma mais modesta, depois de pedir um empréstimo bancário de cem mil libras. Após uma primeira temporada consistente, venceu duas corridas em 1987 e outras duas em 1988, terminando no terceiro lugar no campeonato britânico.

Em 1989, Damon Hill queria ir para a Formula 3000, o ultimo passo antes da Formula 1. Mas não tinha dinheiro suficiente para uma temporada completa, e então decidiu aceitar tudo o que aparecesse pela sua frente. Correu uma ronda do campeonato britânico de Formula 3000, correu no BTCC, nas 24 Horas de Le Mans e a meio da época, arranjou um lugar numa equipa de Formula 3000 pouco competitiva, onde só ficou com o lugar por causa do nome, pois no teste que fez com o seu compatriota Perry McCarthy (futuro piloto da Andrea Moda e o primeiro "The Stig" no Top Gear), ambos tinham andamento semelhante. Fez cinco corridas sem resultados, mas foi o suficiente para lhe dar um lugar na Middlebridge Racing em 1990, onde conseguiu três pole-positions e um pódio, mas apenas seis pontos no campeonato.

Em 1991, correu de novo na Formula 3000, desta vez na Jordan Racing, onde os seus resultados foram modestos, mas consistentes. Terminou com um pódio e o sétimo lugar na classificação geral. Mas nesse ano já tinha os seus primeiros contactos com a Formula 1, ao ser piloto de testes da Williams. Estava assim no inicio de 1992, quando teve a chance de iniciar a sua carreira na categoria máxima do automobilismo, ao serviço da Brabham, então no seu estretor final.

Nesse ano, tinha começado com o belga Eric Van de Poele e a italiana Giovanna Amati, mas ao final da quarta prova do campeonato, Amati saiu e Hill entrou com alguns patrocinadores. Contudo, o seu carro era demasiado lento e começou a colecionar não-qualificações. A sua primeira corrida foi na Grã-Bretanha, onde conseguiu levar o carro até ao fim, na 16ª e última posição, a quatro voltas do vencedor, o seu compatriota Nigel Mansell. Iria ser o último piloto a guiar um carro da marca, no GP da Hungria, e conseguiu terminar a corrida, desta vez na 11ª posição, a três voltas do vencedor. Pouco depois, a marca fechou portas de vez.

Contudo, as suas performances não passaram despercebidas a Frank Williams. No final de 1992, com Nigel Mansell de saída, foi contratado o francês Alain Prost, que regressava à competição depois de um ano sabático. contudo, pouco dpeois, o outro piloto da equipa, o italiano Riccardo Patrese decidiu aceitar a oferta da Benetton para correr ao lado de Michael Schumacher. Assim, Frank Williams decidiu promover Damon, então com 32 anos, ao papel de segundo piloto. Uma idade tardia para ser piloto de alta competição, mas quando o seu pai também tinha a mesma idade, estava a dar os seus primeiros passos na BRM...

Outro imbróglio que tinha surgido então eram os numeros. Com Nigel Mansell na CART, e sem o numero um a poder ser usado, Prost ficou com o numero dois, que em principio, deveria ser de Hill. A solução encontrada foi simples: Hill iria usar o numero zero, algo que só fora usado uma vez na Formula 1, no final de 1973, pelo sul-africano Jody Scheckter. E os dois iriam ter duas coincidências: usariam esse numero no inicio das suas carreiras, e iriam ser campeões do mundo.

A temporada de Hill não começou bem ao desistir na Africa do Sul, vitima de uma colisão com o Lotus de Alex Zanardi. Mas depois conseguiu dois pódios, no Brasil e em Donington Park, ambos superados pelo McLaren de Ayrton Senna. Quando Prost falhava, era Hill que salvava o dia na Williams, como o segundo piloto que não comprometia. Mas a sua primeira vitória - e a primeira de um filho de piloto de Formula 1 - aconteceu na Hungria, palco de, no ano anterior, da sua última corrida pela Brabham. Uma vitória simbólica e bem merecida, pois nas duas corridas anteriores, Grã-Bretanha e Alemanha, tinha desistido com a meta à vista, enquanto liderava essas corridas.

A partir dali, ganhou mais duas provas, na Belgica e em Itália, antes de Alain Prost conseguir o seu quarto título no GP de Portugal. Hill conseguiu mais dois pódios e terminou o ano na terceira posição, com 69 pontos. Para uma primeira temporada na melhor equipa de então, foi um excelente começo.

Em 1994, Hill iria ter como novo companheiro de equipa o brasileiro Ayrton Senna. Curisoamente, ambos tinham nascido no mesmo ano, mas tinham tido percursos diferentes. Senna ia para a sua décima temporada, com 41 vitórias e três títulos mundiais, Damon Hill ia para a sua terceira temporada, apenas com três vitóirias, todas conquistadas na temporada anterior. Dois mundos antagónicos...

Senna decidira usar a mema tática de Prost no ano anterior, e pelo segundo ano consecutivo, Damon Hill ficava com o numero zero, algo que aceitou sem problemas. Tudo indicava que nesse ano, mesmo sem as ajudas eletronicas - banidas pela FIA no final do ano anterior - Senna e Hill eram os claros favoritos ao título. Mas a Banatton de Michael Schumacher decidiu estragar os planos ao ganhar as duas primeiras corridas do ano, Interlagos e Aida, no Japão. E na terceira corrida do ano, em Imola, foi a catástrofe.

De repente, Damon Hill se viu como primeiro piloto da equipa, após a morte de Senna, Contra Michael Schumacher, num carro que muitos diziam "à boca cheia" que tinha ajudas electronicas ilegais, Hill se viu num combate de titãs, no qual deu o seu melhor. Não era uma situação nova na familia Hill: o seu pai se vira nessa mesma situação em 1968, quando Jim Clark morrera numa corrida de Formula 2, em Hockenheim. tinha de levar a equipa ao colo para conseguir alcançar os objectivos da equipa: vencer o título. Assim, venceu em Barcelona, quase 26 anos depois do seu pai ter feito a mesma coisa em Jarama, e depois só conseguiu nova vitória em Silverstone. Depois foram três corridas de seguida em Spa-Francochamps, Monza e Estoril, e nova vitória em Suzuka. E à partida para o GP da Austrália, nas ruas de Adelaide, tinha de simplesmente ficar à frente de Michael Schumacher para conseguir o título mundial.

Mas em Adelaide, as circunstâncias em que a batalha pelo título mundial foram negras. Na volta 36, quando ambos se aproximavam da East Terrace Corner, Schumacher perde o controlo do seu carro e raspa o muro de cimento. Vendo o seu adversário em apuros, Hill tenta passá-lo, mas nese preciso momento, Schumacher dá uma guinada para a pista, exactamente na trajectória do britânico, levando os dois a baterem. Schumacher desistiu na hora, Hill conseguiu levar o carro até às boxes, apenas para descobrir que tinha um dos braços da suspensão danificados. Até hoje, Damon Hill considera que Michael Schumacher fez aquilo de propósito, para evitar que ele conseguisse o título.

(continua amanhã)

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