quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

5ª Coluna: A relativa importância que dou aos testes

Por fim, as especulações acabaram e os chassis de 2011 mostrados à imprensa. Hoje deverá ser o ultimo dia de testes no circuito Ricardo Tormo, em Valencia, mas nem toda a gente apresentou os seus chassis. Exemplo? Só amanhã é que veremos o novo chassis da McLaren. E ainda temos de ver os novos chassis da Virgin, Force India e Hispania, que provavelmente nos testes seguintes, em Jerez, Barcelona e no Bahrein, teremos mais do que tempo para os apreciar.

Quanto aos testes em si, confesso não dar tamanha importância no assunto. Não digo logo no primeiro dia que lá porque a Ferrari coloca o seu carro na frente se diga que vai ser a candidata ao título, e a mesma coisa se passará na Red Bull. Não. Só vou me importar realmente com isso quando for o primeiro fim de semana competitivo no Bahrein, dentro de sete semanas. E porquê? Pois sou um cão velho e já conheço muitos truques.

Explico: quando tinha 15 anos, assisti aos testes do Ferrari F92A, um chassis desenhado por Jean-Claude Migeot, que muitos diziam ser "do outro mundo", pelo fato de ter um fundo duplo, de ter um bico alto - era o primeiro da história da Scuderia - e que tinha outros "gadgets" que iria colocar a McLaren e a Williams num canto. E mostrava que "era o melhor" nos testes no Estoril, que normalmente era o palco por excelência dos testes de Inverno. No final, era tudo "propaganda". Os tempos eram adulterados com o carro abaixo do peso e com o depósito quase vazio, só para impressionar. E o resultado é que naquele ano, o Williams FW14 papou tudo e o F92A passou para a história como um dos piores chassis de sempre da Scuderia. E quem pagou tudo isso foi o pobre do Ivan Capelli, que só conseguiu arruinar a sua carreira na categoria máxima do automobilismo...

O moral da história é que os testes de Inverno são o que são. Servem para testar os componentes do carro, detetar qualquer problema de juventude e simular situações de corrida. Os pilotos da frente não se preocupam em marca tempos para dar nas vistas. Quem faz isso é uma Hispania, por exemplo. E acho que ontem o Narain Karthikeyan fez isso.

Quanto aos pneus da Pirelli, que volta após vinte anos de ausência, acho que aí não consigo ser muito relativo. É certo que são os primeiros quilómetros com as outras equipas, e é certo que isto não acontece a toda a gente, mas ao ver que os pneus italianos largam mais borracha do que os Bridgestone em um dia e meio, e o asfalto do Circuito Ricardo Tormo nem é tão abrasivo como alguns outros - e ainda estarmos no Inverno - causa preocupação. Ainda é cedo para soar as campainhas de alarme, mas quando se ouvem os boatos de que se puxam os cabelos em Milão pelos maus compostos que trouxeram para lá, no mínimo, fica-se atento ao que se passa.

A Pirelli prometeu que iria ter compostos que não fossem tão duráveis como os Bridgestone, causando um equilíbrio artificial, obrigando pelo menos duas trocas de pneus por corrida. Esta obsessão por um equilíbrio artificial em termos de aerodinâmica e de pneus, em claro contraste com a quase indestrutibilidade em termos de motores, chassis e caixas de velocidades, com os escapamentos em asfalto, em vez da gravilha, cheira-me no mínimo a um paradoxo, para não dizer outra coisa. Um pouco de consistência nos regulamentos seria o ideal, não acham?

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