quinta-feira, 29 de março de 2012

5ª Coluna: Grandes corridas e mentalidades tacanhas

Domingo passado valeu a pena levantar da cama para ver o GP da Malásia. Tivemos a chuva a cair incessantemente, tivemos emoção na pista e a demonstração de que mesmo com um mau carro entre mãos, Fernando Alonso conseguiu um milagre: vencer um Grande Prémio com um carro muito mau entre mãos. Uma performance que fez lembrar Gilles Villeneuve em 1981, com o "Cadillac sobre rodas" que tinha à mão, devido mau chassis que tinha entre mãos, mas que foi capaz de vencer duas corridas, no Mónaco e em Jarama.

As performances do piloto espanhol demonstraram que é - se alguém ainda tinha dúvidas em relação a isso - um piloto excepcional, feito da massa que são feitos os campeões do mundo ao longo da história, como Juan Manuel Fangio, Jim Clark, Jackie Stewart ou Ayrton Senna. Mas também foi a corrida em que assistimos à excepcional performance do jovem mexicano Sergio Perez, que aos 22 anos, consegue o seu primeiro pódio da Sauber desde 2009, nos tempos da BMW.

Houve alturas na corrida em que se ficou com a sensação de que Perez iria apanhá-lo e passá-lo, para conseguir algo que o México espera desde os tempos de Pedro Rodriguez: uma vitória na Formula 1. Mas após um aviso do seu engenheiro para que tivesse cuidado, e que o segundo lugar já era muito bom, Perez sofre um despiste, quando já começava a esboçar uma ultrapassagem a Alonso. Imediatamente surgiram as teorias da conspiração: que Perez tinha feito aquilo de propósito para que a Sauber não perdesse os motores que a Ferrari lhes fornece desde há muitos anos.

Acho que todas essas "teorias da conspiração" são perfeitamente idiotas. Por imensas razões: a Sauber não é a equipa B da Ferrari, apesar de Sergio Perez ter testado um carro da Scuderia em 2010. Trouxe imensos patrocinadores do México, mais concretamente da Telmex de Carlos Slim, logo, o piloto não está dependente da Scuderia para nada. Não é a Ferrari que lhe paga o salário, ou o salário da Sauber. Segundo, a Ferrari já ganhou como "carro-cliente", recorde-se o GP de Itália de 2008, palco da única vitória da Toro Rosso, com Sebastian Vettel, e terceiro, as pessoas tendem a esquecer que Alonso é um homem que sabe resistir à pressão, obrigando outros a cometerem um erro. Já se esqueceram de Pastor Maldonado, na semana anterior, na Austrália? Se sim, só justifica aquilo que digo quando afirmo que muita gente por aí tem "memória de peixe"...

A Ferrari tem um mau carro nesta temporada, e é somente Fernando Alonso que está a disfarçar esse mau carro. Se fosse o contrário, muito provavelmente dominaria o campeonato com muito mais à vontade e o seu companheiro de equipa não estaria muito longe dele. As diferenças gritantes de andamento entre Fernando Alonso e Felipe Massa demonstram isso: que os resultados são mais devido ao piloto do que ao carro. Todos os 35 pontos que a Ferrari têm devem-se a ele.

Mas claro, nunca nos livraremos do "cuspir no ar", das adivinhações, dos "achismos". Nada do que dizem está certo, mas numa era da Internet e de redes sociais, toda a gente tem uma opinião e esta se espalha como fogo em mata seca. É preciso ter uma mente treinada para poder separar "o trigo do joio", e nem toda a gente tem esse treino. 

Na mentalidade futeboleira que existe, a corrida malaia definiu em muitas cabeças de que Felipe Massa deveria ser já despedido e que Sergio Perez deveria imediatamente tomar conta do lugar. Mais um disparate pegado, que esconde o óbvio: a culpa é do carro, e não tanto do piloto. Mesmo que isso acontecesse, quer Perez, quer Alonso não são santos milagreiros. São muito bons pilotos de Formula 1. 

E há outra coisa mais: Alonso não quer pilotos que ameacem o seu domínio. Em todas as equipas que passa, é o "deos ex machina" da equipa, do qual tudo se centra sobre ele. E Sergio Perez demonstrou que é um piloto excepcional, que é capaz de igualar Alonso, quando for mais maduro. Alonso preferirá um Massa mais secundário, mas prestativo, do que Perez. Pode ser que vá para a Ferrari, mas não esta temporada. Aliás, acho que não haverá troca de pilotos este ano, porque não se ditam sentenças, nem se definem campeonatos após a segunda corrida. 

Aliás, este vai ser um ano em que se pode esperar... o inesperado. Creio até que teremos um ano parecido com 1982 em que tivemos onze pilotos vencedores em dezasseis corridas. Não direi que chegaremos a isso, mas se eu achava que no inicio da temporada existiam cinco equipas com reais hipóteses de pódio, pelo menos, não tinha colocado a Sauber nessa equação. Agora... se calhar acho que das doze equipas presentes no campeonato, oito irão ao pódio, e dez conseguirão pontos. Não fiquem admirados se no final do ano isso acontecer.

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