segunda-feira, 23 de julho de 2012

A pose da vitória

Entre mais um Grande Prémio e o começo dos Jogos Olimpicos, que acontecerão esta sexta-feira em Londres, no passado dia 17, quando passeava pela Net, dei por mim a ler este artigo vindo do jornal "Público" que publicava este curioso artigo da revista americana "Science and Human Behavior" em que se analisava as expressões de vitória que os seres humanos têm, o seu grau de espontaneidade e o que podemos diferenciar de algo distintivo do fabricado, como o de mostrar aos outros "Who's the Boss", ou algo assim. E descobriu-se que há a vitória e há o orgulho pessoal, que são expressões completamente destrinçadas.

Eis o artigo na íntegra:

A "pose de vitória" é um gesto universal de triunfo e não de orgulho pessoal

17.07.2012 - 17:52 Por Ana Gerschenfeld

Braços estendidos em forma de “V”, punhos fechados, expressão tensa do rosto, por vezes acompanhada de um grito. É a chamada “pose de vitória”, a que já nos habituámos quando um atleta ganha uma competição. Mas qual é a emoção que a motiva?

Há uns anos, David Matsumoto, da Universidade Estadual de São Francisco, e colegas, tinham analisado uma série de atletas olímpicos e chegado à conclusão de que as suas reacções emocionais imediatas a uma vitória ou a um fracasso – que para os cientistas revelavam, respectivamente, sentimentos de orgulho e de vergonha – eram independentes da cultura do desportista e estavam “programadas” nos circuitos cerebrais de todos os seres humanos.

Mas agora, Matsumoto quis saber se algumas das expressões que na altura tinham sido classificadas como sendo de orgulho não seriam indicadoras de uma outra emoção, bem diferente. Mais precisamente: seria a pose de vitória o reflexo, não do orgulho pessoal sentido pelo atleta no momento da vitória, mas uma emoção ainda mais imediata?

Num estudo que deverá ser publicado na edição de Setembro da revista Evolution and Human Behavior, a sua equipa sugere agora que, efectivamente, a pose de vitória – tão característica, universal e inata – é, afinal, uma expressão de triunfo. A confirmar-se este resultado, o triunfo passaria a ter o estatuto de emoção de pleno direito e não o de componente de outra emoção humana mais complexa.

No novo estudo, os cientistas mostraram a um grupo de voluntários de duas culturas bastante diferentes – norte-americana e sul-coreana – fotografias de judocas de 17 países que tinham acabado de ganhar uma medalha nos Jogos Olímpicos de 2004. E pediram-lhes para definir a emoção retratada, escolhendo-a numa lista de possibilidades que lhes fora fornecida (e da qual constavam, obviamente, “triunfo” e “orgulho”). 

Após uma série de testes deste tipo, constataram que a pose da vitória tinha sido classificada como sendo uma expressão de triunfo. Pelo contrário, nas que foram classificadas como expressões de orgulho, a atitude do atleta era diferente: braços afastados do corpo, mãos abertas, um ligeiro sorriso.

Uma das maiores diferenças entre o triunfo e o orgulho é visível na cara”, diz Matsumoto (ex-treinador olímpico de judo premiado) em comunicado. “Quando alguém se sente triunfante após um concurso ou um desafio, a cara pode apresentar uma expressão bastante agressiva. Como o Michael Phelps quando ganhou os JO [de natação] de 2008. É muito diferente do pequeno sorriso que vemos quando alguém se sente orgulhoso de si próprio.

Uma análise mais aprofundada das fotografias apresentadas aos participantes mostrou ainda que a expressão de triunfo surgia, em média, quatro segundos depois da vitória do judoca, ao passo que as expressões de orgulho surgiam, em média, 16 segundos depois do desfecho do encontro. Para Matsumoto, o facto de a expressão de triunfo anteceder a de orgulho tem uma explicação simples: as expressões de triunfo são declarações de sucesso, enquanto as de orgulho ocorrem quando a pessoa se sente satisfeita de si própria – o que exige alguns instantes de auto-avaliação.

Transportando isto para o automobilismo, pode-se distrinçar isso de modo fácil. Ver pilotos a quererem sair do carro em andamento, levantando o punho ou gritando dentro do seu capacete, como era no passado é mais espontâneo do que o Sebastian Vettel a colocar o dedo indicador em riste. Como é um gesto que já se tornou frequente, pode-se dizer que é a imagem de marca do alemão. O "salto de canguru" Webber também poderá ser considerado como algo espontâneo, mas a melhor altura para ver ambas as expressões será no instante após terem estacionado o carro na boxe, após a corrida, e depois, no pódio, quando se entregam os prémios ou se ouvem os hinos.

Mas de uma certa forma, este estudo e esta explicação das expressões de vitória no final de qualquer realização desportiva, é um assunto interessante. E vai ser mais uma coisa do qual iremos estar a observar no futuro.

1 comentário:

Daniel Médici disse...

Sensacional! Tive aulas de antropologia na faculdade, especialmente uma sobre a diferença entre o sorriso e a risada, que me interessaram muito.

Não acho que o recorte dessa pesquisa seja suficiente para traçar uma expressão 'universal' - atualmente, com a velocidade das comunicações, comparar americanos e sul-coreanos na Olimpíada de 2004 me parece inútil. Mas a proposta do estudo não deixa de ser válida.