terça-feira, 24 de julho de 2012

Sobre as fatalidades nos ralis

O acidente mortal de sábado à noite/madrugada de domingo no Rally Cittá de Lucca, em Itália, veio colocar ao de cima, mais uma vez, a segurança dos carros de rali e das provas em si mesmas. É verdade que já vão em onze as mortes este ano, em vários ralis um pouco por toda a Europa, desde a Itália - é a segunda vez que acontece - até à Republica Checa, passando pela França e Belgica.

Primeiro que tudo, ver alguém a pagar o preço mais alto de um desporto que apesar de toda a segurança já é triste. Mas ainda ficas mais triste quando sabes das circunstâncias do acidente mortal e da dupla envolvida. Valerio Catelani e Daniela Bertoneri eram um casal que tinham uma paixão em comum, que era os ralis. Apesar de gerirem um bar, eram entusiastas o suficiente para terem um Peugeot 207 S2000 e participarem em ralis locais.

Para piorar as coisas, quando o azar acontece, ele nunca vem só. O carro bateu num muro do qual ficou de cabeça para baixo, arrastando-se até uma valeta, do qual eles não conseguiram sair a tempo, devido ao fogo. Quase me fez lembrar o acidente de Henri Toivonen, 26 anos antes, na Volta à Córsega, mas aí as circunstâncias eram diferentes. No caso do piloto finlandês, em 1986, os carros eram de fibra de vidro, tubulares. Agora são chassis a sério. Mas independentemente disso tudo, pelas circunstâncias e pelas fotos que vi, cheguei à conclusão que foi uma enorme fatalidade. Da maneira como o carro caiu, eles não tinham fuga possível.

Mais do que azares a acontecerem numa altura em concreto - há ralis todos os fins de semana um pouco por toda a Europa, sejam eles locais, nacionais ou regionais - e sabendo da segurança que estes carros têm e os protegem de muitos acidentes, creio que deve ser altura da FIA pensar no reforço da segurança desse tipo de carros. Ter "roll-bars" no carro é uma coisa, mas por exemplo, reforçar o chassis no lado do condutor e do navegador para evitar que "guard-rails" e troncos de árvore atravessem carro adentro, como aconteceu com Robert Kubica e como aconteceu de forma fatal com Gareth Roberts (navegador de Craig Breen) na Targa Florio, é outra. 

Sempre fui contido nesse aspecto porque sei parar para pensar e ver no que podia e devia ser feito e no que foi uma pura fatalidade. Acho que a haver algo a fazer, a FIA deveria regular o reforço dos carros na zona entre o motor e os pilotos, de forma a evitar que um guard-rail penetre aquele habitáculo. Criar uma célula de segurança mais forte que existe até agora nos carros de ralis seria uma forma de oferecer mais segurança e diminuir o risco de acidentes mortais. Acho que se deveria fazer algo nesse caso, porque é algo que é alcançável, porque há meios e material para tal.

A fazer isso, diminuiria os acidentes mortais. Mas não os eliminaria por completo. O automobilismo foi, é e será sempre um desporto perigoso. Daí que os carros sejam mais fortes do que o normal e os pilotos sejam mais experimentados e os testes mais exigentes do que o normal. Mas o "risco zero" não existe, é uma utopia. O Acaso encontrará sempre uma forma de demonstrar que levará a melhor, como aconteceu este domingo a um casal italiano que estava ali porque adorava o seu "hobby".

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