sexta-feira, 27 de julho de 2012

Extra-Campeonato: a boa e a má parte dos Jogos Olimpicos

É hoje. Vai ser hoje. está a acontecer agora. Sete anos depois de ser escolhida, quatro anos depois da última vez que vimos tudo isto em Pequim, agora é a vez de Londres acolher pela terceira vez na sua história os Jogos Olímpicos, depois de eventos em 1908 e 1948. Os Jogos Olímpicos são definitivamente a coisa desportiva mais importante do mundo, pois coloca lá todas as nações reconhecidas pelas Nações Unidas e pelo Comité Olímpico Internacional. Por lá andarão dez mil e quinhentos atletas de todo o mundo, dando o seu melhor para chegar às medalhas. Mas para muitos, só participarem lá já é um feito, pois trabalharam muito para chegar, demonstrando que são os melhores do seu país, mesmo que a medalha seja uma mera ilusão.

Pessoalmente, eu gosto muito dos Jogos Olímpicos. Ainda me lembro da primeira vez que vi uma cerimónia de abertura, em 1984, em Los Angeles. Tinha então oito anos, e para mim foi algo que me fascinou quase de imediato. Não sabia, então, que todo o Bloco de Leste tinha boicotado os Jogos Olímpicos, com retaliação pelo boicote americano e ocidental pelos Jogos de Moscovo. Lembro-me de ver na TV os feitos de Joaquim Cruz, o brasileiro que venceu os 800 metros, e que por causa disso, provavelmente, me deu um especial fascinio por essa distância, mas também vibrei, especialmente com a medalha de ouro de Carlos Lopes, na Maratona.

Para quem me lê no Brasil, o feito de Lopes foi quase o equivalente a vencer a Copa do Mundo ou algo parecido. É que até ali, nenhum atleta português tinha vencido uma prova nos Jogos Olímpicos. Vencer medalhas, sim. Mas a de ouro, nunca. E quando milhares de pessoas ficaram de pé, sem dormir, madrugada adentro, a vibrar e a chorar quando ouviram pela primeira vez o hino nacional a ser tocado num evento como estes, sabiam que estavam a viver um momento único, como se nunca pensaram que tal coisa iria acontecer nas suas vidas.

Os anos passaram, e o meu fascínio tem os seus altos e baixos. Mas por um tempo pensei em ser atleta olimpico, quando tinha doze anos. Pensei entre natação e atletismo - os tais 800 metros... - mas nunca consegui grandes resultados. A febre passou e concentrei-me noutras coisas.

Eu posso estar adormecido nestas coisas, mas sinto que por estes dias, a minha febre está a voltar. Tem um lado bom - vou estar mais atento à televisão - mas tem um lado mau. O lado mau chama-se "medalhite". Não que eu exija que todos os atletas que estão na delegação olímpica ganhem medalhas, mas sei que a cada quatro anos, as pessoas acordam de uma letargia e depois pensam que isto é como no futebol, que "vamos buscar o caneco" ou que "o caneco é nosso". Vivo em Portugal, um pais cujos niveis de atividade fisica são das mais baixas da Europa. O numero de atletas filiados em clubes é baixo, seja em que modalidade for.

É certo que se verificaram avanços nos últimos anos em várias modalidades individuais, como o atletismo, o judo, a canoagem, o triatlo, o ciclismo, os saltos de trampolim, o ténis de mesa. Temos muitos campeões e finalistas europeus, mas estamos desfalcados de muitos dos nossos bons atletas. O campeão olimpico do triplo salto, o Nelson Évora, está de fora devido a lesão. Francis Obikwelu e Naide Gomes, a saltadora em comprimento, está também de fora. Vanessa Fernandes, a medalha de prata no triatlo em Pequim, está também de fora porque teve um esgotamento nervoso em 2010. Portanto, as expectativas portuguesas andam em baixo. E num pais em que consegue uma média de duas a três medalhas por cada edição dos Jogos Olimpicos, teme-se o pior.

Essa é a má parte. Mas se falo da perspectiva portuguesa, a brasileira não deverá ser muito melhor. Afinal de contas, estamos a falar do país que vai receber os próximos Jogos Olimpicos, no Rio de Janeiro, que vai ter de fazer um enorme investimento em termos de infraestruturas e também em termos humanos, para não passar mal no quadro das medalhas. E o Brasil vai querer bater o recorde de medalhas aqui em Londres, para depois "pulverizar" no Rio. Não é fácil, não será fácil. As pressões serão enormes.

Francamente, gostaria de ver os Jogos tal qual como é e como deveria ser: uma celebração. E espero vê-los dessa forma. Mas o outro lado vai assombrar ao longo destes 16 dias, isso sei eu. As pessoas tem uma auto-estima muito bipolar...

1 comentário:

Julio Cezar Kronbauer disse...

Também gosto muito dos Jogos Olímpicos, mas tenho uma forte tendência a acompanhar de perto apenas os esportes de velocidade, como os 100, 200, 400, 800, 1.500, 3.000 metros e afins.