sábado, 22 de março de 2014

Nos 40 anos da morte de Peter Revson

Passam hoje precisamente 40 anos sobre a morte de Peter Revson, o piloto americano morto durante os testes de Formula 1 pré-Grande Prémio da África do Sul, quando perdeu o controlo do seu Shadow na Barbecue Bend. Todos falam dele como um herdeiro de um império de cosméticos (a Revlon) e um piloto que amadureceu e foi veloz com o passar dos anos e da experiência. Alguns o definem como "playboy", mas isso só subestimou e extrema competência atrás de um volante, traduzido com duas vitórias na temporada de 1973, ao serviço da McLaren.

Sobre Revson, neto de um judeu russo que foi para os Estados Unidos para evitar servir na tropa czarista, descobri recentemente uma coisa contada por Mário Andretti por ocasião das 12 Horas de Sebring, em 1970. O italo-americano guiava um Ferrari e todos sabem que foi Revson que fez dupla com o ator Steve McQueen, um confesso "petrolhead", e que o ator estava lesionado na perna, fazendo com que fizesse apenas o minimo - cerca de meia hora a cada quatro horas - enquanto que o americano fazia grande parte do esforço, que o fez cansar imenso.

Na parte final, quando se soube que a possibilidade de vitória da dupla que corria no Porsche 908 Spyder, Andretti (que guiava outro carro e estava fora da corrida), Mauro Forgheri pediu a Andretti para correr no carro que era partilhado por Ignazio Giunti e Nino Vaccarella, sabendo que ele estava mais fresco do que todos os outros pilotos. O carro estava com uma volta de atraso sobre o Porsche, mas ele guiou como se não existisse mais amanhã e apesar dos problemas que teve nos minutos finais, apanhou o Porsche nos quilómetros finais, ficando com a vitória. 

Ele depois contou: "Quando ouvi pelo altifalante que era Revson o líder, a multidão começou a aplaudir e a incentivar, não ele, mas sim o Steve McQueen. A ideia de ter um ator de Hollywood no lugar mais alto do pódio revoltou-me, pois ele não tinha feito nada para o merecer, e diminuía o esforço feito pelo Revson. Assim sendo, saltei para o carro e guiei que nem um posesso para apanhar o Porsche. Sabia que tinha uma tarefa dificil pela frente, mas sempre acreditei que era possivel."

Apesar de Andretti ter ajudado a Ferrari a vencer em Sebring, o segundo lugar de Revson não o impediu de subir ao lugar mais alto do pódio. É que o seu 908 tinha vencido na classe de 3 litros, e provavelmente foi mais um caso onde os vencedores foram mais subestimentos do que o segundo classificado...

Revson foi um dos que esteve no grupo inicial da McLaren, ao lado de Timmy e Teddy Mayer e Tyler Alexander. Esteve na Europa em 1964, fazendo a sua estreia na categoria máxima do automobilismo, mas os resultados foram modestos e saiu pela porta pequena. Nos Estados Unidos aprendeu a crescer como piloto, sempre ligado à McLaren como piloto da Can-Am e da IndyCar, mas andou também na Trans-Am, ao lado de pilotos como Mark Donohue e George Follmer. E deu-se bem: foi o campeão da Can-Am em 1971, com a McLaren.

Quando regressa à Formula 1, no final de 1971, foi a bordo do terceiro Tyrrell oficial, em Watkins Glen. Mas foi em 1972 que ele faz a sua primeira temporada a tempo inteiro na categoria máxima do automobilismo, dividindo o seu tempo nos dois lados do Atlântico. Enquanto que em Indianápolis, faz a pole-position (e quase vence a corrida, sendo segundo atrás de Mark Donohue), na Europa, aproveita muito bem a sua segunda oportunidade, fazendo uma pole-position em Mosport, no Canadá. Mas ele leva os carros até ao limite: na volta a seguir a fazer a pole, perde o controlo do seu McLaren M19 e bate de traseira com o guard-rail. O triunfo de mão dada com o desastre...

Revson ainda têm compromissos nos Estados Unidos em 1973, mas dedica-se a tempo inteiro na Formula 1. E aos 34 anos, entra no rol dos vencedores: o M23 é um excelente carro e ele sobe ao pódio quando os grandes protagonistas dessa temporada - Jackie Stewart, Ronnie Peterson e Emerson Fittipaldi - não vencem. Em Silverstone e em Mosport, o "Star Sprangled Banner" é tocado em sua honra, e ambas as corridas tiveram uma coisa em comum: foram complicadas.

Mas por essa altura, as relações com Teddy Mayer andam tensas, e ele decide que o melhor seria ir à sua vida. Trocou a McLaren com a Shadow, e o chassis era promissor. Tony Southgate era o desenhista do carro, o DN3, e com ele, conseguiu boas posições na grelha de partida, mas nunca chegou ao fim.

Em 2012, numa entrevista à Motorsport britânica, falou sobre Revson e das circunstâncias do seu acidente fatal: “‘Revvie’ era um tipo fabuloso, fácil de lidar e um excelente piloto. Mas, tragicamente, não ficou conosco por muito tempo. Classificou-se na segunda linha na Argentina e para o Brasil na terceira flia da grelha. Então, ele, eu, o nosso mecânico-chefe Pete Kerr e mais outros dois mecânicos fomos para Kyalami, para testes antes do GP sul africano."

Revvie estava muito bem, muito contente com o carro, e então, depois de ter iniciado uma volta, ele não apareceu. Corremos para a parte de trás do circuito e encontramos o carro enterrado sob as barreiras de proteção, do lado de fora de uma curva rápida [Barbecue Bend]. Peter já estava na ambulância quando chegamos. Liguei para o hospital, e eles me disseram que eu tinha que ir para a morgue e identificá-lo. Quando a notícia saiu, foi um inferno, com todos os jornalistas a bater na porta do meu hotel, até que o advogado da família Revson chegou e assumiu o controle."

"Estávamos a usar bastante titânio no DN3, que era então um novo material. Titanio é delicado, tem que ser trabalhado de forma suave e a sua superfície bem polida, e descobrimos que tinha havido uma junta esférica que tinha sido feita de forma grosseira sobre ele, e foi aí que quebrou. Ali [no local do impacto] havia apenas uma camada de Armco e o carro, em vez de ser desviado ou parado, o carro conseguiu entrar até à zona do cockpit.

Senti-me pessoalmente responsável. Foi uma época muito difícil. Desapareceu o glamour da Fórmula 1, e foi substituído por uma espécie de solidão. Você não tinha outra hipótese que não trabalhar. Claro, na corrida seguinte, substitui todos os componentes de titânio por aço.", concluiu.

No momento do impacto, alguns comissários tentaram salvá-lo, bem como dois pilotos: os veteranos Dennis Hulme - seu ex-companheiro na McLaren - e Graham Hill. Contudo, os esforços foram inuteis. Aparentemente, foi esse o momento que o piloto neozelandês, campeão do mundo em 1967, decidiu que iria pendurar o capacete no final da temporada.

Quando morreu, Revson estava noivo da Miss Mundo de 1973, Majorie Wallace, que tinha conhecido em Indianápolis. E ele iria ser o herdeiro da cadeia de cosméticos, do qual era dono o tio Charles. Tinha perdido um irmão, Douglas, num acidente de Formula 3 em 1967, na Dinamarca. De facto, as coisas corriam muito bem para ele. Pode-se especular que caso tivesse vivo para herdar o império dos cosméticos, poderia fazer uma de três coisas: largar o automobilismo e tomar conta do império, vender a sua parte e continuar a correr. Ou então, montar a sua própria equipa. Na altura em que morreu, a Revlon valia cerca de mil milhões de dólares, o que era uma fortuna e tanto.

Mas no final, resta a memória de um piloto versátil e de um dos últimos cavalheiros do automobilismo. 

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