segunda-feira, 8 de agosto de 2016

A imagem do dia

"Eu realmente queria vencer Le Mans em 1967, por Lorenzo [Bandini]. Eu estava partilhando um P4 com Nino Vaccarella, o professor vindo da Sicília, um piloto bom, muito competente. Ia ser difícil porque a Ford teve o MkIV e estávamos mais lentos em 32 km/hora, pelo menos. Mas nós pensamos que se nós fossemos a fundo, nós ainda iríamos terminar, enquanto Ford poderia ter que controlar a sua velocidade e favor da fiabilidade".

"Pouco antes da meia-noite eu estava a passar nas boxes quando senti o pneu traseiro direito a furar. O pior lugar - uma volta inteira para voltar para as boxes. Eu diminuí imediatamente, mas você acha que está a andar devagar, mas provavelmente ainda está fazendo 160 por hora. No Mulsanne havia faíscas a saltar [das rodas], e eu pensei, 'eu vou ter que mudar esse pneu'. As Ferraris carregavam uma roda de reserva e um kit de ferramentas com macaco pneumático, martelo e tocha, então no meio da reta, eu encostei. Eu estava na parte de trás com os carros a passar a duzentos e tal milhas por hora. Eu tenho a traseira aberta, encontro a tocha - e a bateria estava flat. Então, eu só tinha os faróis [dos carros] que passam para poder ver. Eu tenho o martelo e esperei por algumas luzes e, em seguida, um golpe arrancou a calota e a cabeça do martelo desapareceu. Então eu pensei que eu ia começar a coisa levantar e tirar a roda fora dali com uma das chaves inglesas. Então eu descobri que tinha esquecido de colocar a dita...

"Então, eu tive que dirigir de volta às boxes. Tentei andar com cerca de 90 km/hora, mas o pneu quebrou uma linha de combustível, e de repente a coisa toda estava em chamas. Saltei e rolei para uma vala. O P4 andou mais um pouco e depois caiu para a vala mais abaixo na estrada, o chassis a pegar fogo. Os comissários e os gendarmes correram para ali, e eles estavam perguntando onde estava o piloto. Eu apareci e toquei num deles no ombro..."

Este é o relato que Chris Amon faz das 24 Horas de Le Mans de 1967, uma edição marcada por mais uma vitória dos Ford GT40, face aos Ferrari e os Porsche, com os 908. A aparição de Amon, na sua primeira temporada da Ferrari, foi complicada: em pouco mais de um mês, Lorenzo Bandini esta morto, e Nino Vacarella iria correr no seu lugar, pelo menos na clássica de La Sarthe. Dali a alguns dias, Mike Parkes terá em Spa-Francochamps o acidente que iria terminar a sua carreira, e Ludovico Scarfiotti decidiria sair da Scuderia.

Mas a edição de 1967 deveria ser aquela em que a Scuderia reagiria à vitória da Ford no ano anterior. Para além de Amon/Vacarella, e Parkes/Scarfiotti, havia um terceiro carro para Peter Sutcliffe e Gunther Klass. Ambos conseguiram levar o carro longe, mas desistiram na 19ª hora, quando o seu motor rebentou. Parkes e Scarfiotti acabou a corrida no segundo posto, a quatro voltas do Ford vencedor, com A.J. Foyt e Dan Gurney.

Aquele resultado nem serviu para apagar o péssimo ano da Scuderia: Klass acabaria por morrer numa subida de montanha em Mugello, a 22 de julho, a bordo do modelo Dino 206SP. Para o seu lugar apareceu Jonathan Williams, que no final do ano, faria a sua única aparição na Formula 1.

No fim, apesar dos azares dos outros, pode se dizer que teve mais sorte do que pensava, pois sobreviveu para contar esta história.  

Sem comentários: