sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

O homem que não aceita contar os seus milhões

"Bernie Ecclestone tem 87 anos de idade. Bom para ele. É uma bela idade. Nuito notável, dado o seu estilo de vida nos últimos 50 anos. No entanto, no final, ele vendeu tudo [à Liberty Media], embolsou o dinheiro que lhe ofereceram e recebeu o papel de presidente emérito do grupo Fórmula 1. Ele disse no momento em que ele não sabia o que isso significava. Na academia, há um elemento honorífico para a descrição, mas no negócio significa 'Cale-se e vai embora'".

"Mas Ecclestone não quer ouvir isso. Ele está acostumado a dizer às pessoas como é. Ele se acostumou com as pessoas que o seguiam. Obviamente, é difícil para ele aceitar a mudança, mas as participações contam a história e, enquanto Bernie ainda pode mexer algumas cordas com marionetas (e Marretas) no mundo dos media, seu reinado acabou. A liberdade deu-lhe a opção de uma saída graciosa, mas, sendo Bernie a pessoa que é, uma maneira elegante nunca foi fácil."

Estas são as palavras que o Joe Saward lhe dedicou a Bernie Ecclestone quando ele abriu a boca para falar sobre a Liberty Media e o atual estado das coisas da Formula 1. Escreveu-as há quatro dias no seu blog e de uma certa maneira, mostra o atual estado das coisas e como ele é visto no meio: um ancião irritante. Só que não é o avô Simpson, mas sim alguém muito rico e ainda com o cérebro no lugar que não perde uma chance de gritar na imprensa o que pensa e se puder, fazer a vida da Liberty Media o mais complicada possivel.

Durante esta semana, Bernie disse, acerca da vontade da Ferrari ir embora da Formula 1, que a esta precisa de ser controlada com uma mão de ferro, para colocar as equipas na ordem. “A democracia não tem lugar na Fórmula 1. Muito brevemente, os novos donos vão perceber isto, porque até agora não conseguiram nada com esta política”, disse.

Ora, há alguns problemas nesta coisa. Primeiro que tudo, os tempos mudam. Se uma coisa funciona numa geração - e ele fala dos problemas que aturou com a Ferrari - agora há uma nova geração, novos hábitos, novos atores. A Liberty Media tem dinheiro e outro tipo de mentalidade, apesar de estar a lutar para pagar as contas da sua aquisição. Mas em muitos aspectos, a sua atitude é de não ser intimidada, que controla as coisas. Logo, não pisca o olho perante as ameaças de Sergio Marchionne de que irá embora da Formula 1, caso as coisas não lhe sejam favoráveis, usando uma tática com 50 anos, digamos assim.

Só que há outra coisa do qual toda a gente entendeu: Bernie gosta de ribalta, gosta que as pessoas o oiçam, e claro, o outro lado não o quer ouvir. Olha para a sua idade, sabe das suas ideias, e não quer saber dele. Então porque é que fala? Como diz o Joe Saward, ele tem os seus papagaios. E sempre que telefona a um deles e lhe dá algo do qual escreve no dia seguinte no jornal ou site, toda a gente falará sobre ele, mesmo que em termos de conteúdo seja um disparate completo. E nestes tempos de "clickbaits" e de todos estes sites desesperados por atenção, o anão a falar é garantia de atenção.

E porque ainda o ouvimos? Primeiro, porque ainda não está morto. E também por causa da ideia, vinda do nosso subconsciente, de que ele provavelmente tramará algo para desestabilizar a Formula 1 tal como o conhecemos. Aliás, basta lerem as noticias sobre a tal competição feminina automobilística para que alguns digam que ele está a planear uma competição paralela, para minar o trabalho da Liberty Media...

Enfim, em suma, não aceita que o seu tempo passou, mesmo que trame mais alguma. E enquanto o tempo não fazer o seu trabalho, ainda o iremos ouvir mais vezes. E claro, ele terá o seu tempo de antena. Não é da sua natureza retirar-se e contar os milhões.

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