quinta-feira, 15 de agosto de 2019

A quadratura do circulo da Formula 1

Se tudo acontecer como foi planeado, em 2020 o calendário da Formula 1 será o mais longo de sempre: 22 corridas agendadas. Começará em Melbourne e terminará em Abu Dhabi, e terá a adição de Vietname e Holanda, com a saída de, provavelmente, a Alemanha ou Espanha, do qual ainda não se sabe muito bem.

E não se sabe ainda muito bem por causa de uma coisa: dinheiro. A Liberty Media adora um bom leilão por lugar e recentemente, o governo da Catalunha anunciou que estava disposto a dar 16 milhões de euros à firma liderada por Chase Carey para ver se fica no calendário de 2020 e dos anos seguintes. E isto foi antes dos organizadores do GP do México terem anunciado que iriam ficar até 2023, com dinheiro privado, sem ser o que o estado injetava e do qual o novo presidente, Antonio Manuel Lopez Obrador, ter dito que iria retirá-lo.

Contudo, as equipas ainda têm uma palavra a dizê-lo. E com razão: por muito que alguns fãs gostassem que ter um Grande Prémio por cada semana do ano, nenhum deles acompanha o circo ao vivo, como acompanham os mecânicos e os jornalistas, esquecendo que essa gente também têm vida. Ao contrário da NASCAR, que podem ter as provas que quiserem, porque são todas nos Estados Unidos, esta gente voa um pouco pelo mundo inteiro, e mesmo os mecânicos e os engenheiros, que são bem pagos para isso - não tanto como os pilotos, diga-se de passagem - ao fim de alguns anos querem ficar mais tempo na fábrica do que a pista, porque ir de um lado para o outro, sem ir a casa por longos períodos de tempo, não é bom para quem tem ou quer ter uma família. Daí se justificar expressões como o "Grande Circo" ou porque esta gente anda de um lado para o outro como nómadas, ou ciganos.

E as equipas não são muito fãs de muitas corridas. E querem contrapartidas para isso. A Julianne Cerasoli, por exemplo, falou no final de julho que a Renault queria tres MGU-K para serem usados por temporada, em vez dos dois que a Liberty Media pretendia a partir de 2021, e a Williams disse que dificilmente aprovaria um calendário de 22 corridas se não existirem mais contrapartidas às equipas.

Mas se a Liberty Media anda com problemas em arranjar mais gente para preencher o calendário - vulgo, contratos mega-milionários como fazia o Bernie Ecclestone - surgiu um novo ator que poderá fazer "baralhar e voltar a dar" e termos de calendário e de ancorar a Formula 1 cada vez mais numa determinada região. No passado dia 8, o governo saudita anunciou planos para acolher a Formula 1 no seu país, e Chase Carey, bem como o seu diretor financeiro, Sean Bratches, tem ido ao país para conversações nesse sentido, e cada vez mais parece que teremos uma terceira corrida na região, depois do Bahrein e de Abu Dhabi. Primeiro que tudo, um acordo de 50 milhões de dólares por ano durante cinco temporadas para o canal MBC (Middle East Broadcast Corporation), a partir de 2020, e depois, planos para a construção de uma pista de Formula 1 na cidade de Qiddiya, a 40 quilómetros de Riyadh, como fazendo parte de uma "cidade do entretenimento" semelhante ao que vemos em Abu Dhabi. Segundo os organizadores, a pista será semelhante a Spa-Francochamps.
  
Contudo, os planos para a pista só estarão prontos em 2022, e provavelmente a primeira corrida seria em 2023, ou seja, só daqui a quatro anos é que a ideia de uma terceira corrida na Península Arábica seria possível. E com a Formula 1 a precisar cada e mais dos bolsos bem fundos do Médio Oriente, um acordo desses seria bem generoso.

Mas há um problema, mais do que calendários longos e pessoas a não ter vida própria fora do paddock. Com as equipas a serem cada e mais resistentes à ideia de um teto salarial, especialmente com as regras para 2021 que precisam de ser apresentadas ainda neste outono, sem nada à vista, e sem a entrada de muito dinheiro nos novos circuitos - fala-se que a entrada do GP do Vietname é o mais modesto dos últimos tempos - a Liberty Media está numa "quadratura do círculo". Se não fecha um acordo para o teto salarial, tem de arranjar mais dinheiro de mais fontes. Mas se meter 22 ou 23 corridas, os mecânicos, engenheiros e jornalistas queixam-se por ser demasiado longo, e eles têm de pedir mais dinheiro aos organizadores e às cadeias de televisão. E essa gente começa a ter problemas em manter o orçamento - daí que muitos deles dependem dos Estados para pagar - e as cadeias de televisão dependem de publicidade e de quantos querem pagar para ver isto todos os anos. E para não falar das crises que aparecem em cada esquina...

Assim sendo, este é um balão que pode rebentar a qualquer momento. E quando rebentar, como é que vão colar os cacos?

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