UM FINAL À AMERICANA
Pela meia-noite e meia, um grande acidente colocou quatro carros fora de prova nos Esses, envolvendo dois dos Ferrari. Jean Guichet fizera um pião, no seu Ferrari oficial, e saía do local sem danos quando Robert Buchet, num 906, se despistou e bateu ali. Pouco depois, Jo Schlesser, no seu Matra, também bateu ali, e quando os carros estavam a ser retirados, o Ferrari 330P de Scarfiotti despista-se a bate forte nos carros que lá estavam, acabando no hospital com escoriações.
Dois Ferraris fora de prova. Desta vez, o azar calhava ao lado de Maranello.
Pouco depois das três da manhã, novo golpe da Ferrari, quando o NART de Pedro Rodriguez e Richie Ginther retirava-se com a caixa de velocidades quebrada. e uma hora mais tarde, o carro de Mairesse/Muller também abandonava quando seguia na quinta posição, também com o mesmo problema. Com isso, na frente só havia Ford. E ainda por cima, todos eles eram Shelby-American. Apenas um dos Holman-Moody permanecia, e estava muito longe dos da frente. Quando o dia amanheceu, o melhor não Ford era o Porsche 906 de Jo Siffert, que corria no sexto posto.
Apesar dos Ford dominarem, havia um duelo pela liderança, contra todas as instruções de Shelby. Gurney e Miles queriam o lugar, mas Miles tinha perdido tempo por causa dos discos de travões, que estavam incandescentes. Ele voltou para a pista lutando pela liderança, mas por volta das nove da manhã, o carro de Dan Gurney desistia com o radiador furado. Por essa altura, o tempo mudara, e voltava a chover, logo, os carros tinham de abrandar o seu ritmo.
Pelas 11 da manhã, Henry Ford II chegava de helicóptero a Le Mans para ver a situação "in loco". Tinha tudo controlado, e tudo era da Ford, especialmente os da Shelby. Iria finalmente bater a Ferrari em Le Mans, como tinha prometido três anos antes. Estava acompanhado pela familia, nomeadamente Edsel Ford II, o seu filho, e a sua segunda mulher, que tinha apostado mil dólares... contra a Ford. Desta vez, parecia que iria perder a aposta.
A Ford juntaram-se Leo Beebe e Don Frey, e foram ter com Shelby. Todos estavam felizes por vencerem - e claro, manterem os empregos - e esta altura, começaram a discutir como é que isto deveria acabar. Shelby disse que a vitória deveria ser para Ken Miles. Mas Leo Beebe tinha outra ideia: queria que os carros cruzassem a meta em formação, para celebrar a vitória que tanto procuravam.
"Faltando aproximadamente duas horas para o final, Leo Beebe, Don Frey e outros membros do Comité de Le Mans encheram a boxe. Iam ganhar a guerra do senhor Ford contra o senhor Ferrari, pelo menos isso dava para se perceber. Iam manter os empregos. No entanto, permanecia ainda um toque de sobriedade, um presentimento de que estava iminente o inesperado. A conversa virou-se para a chegada. Os executivos perguntaram a Shelby como é que achava que aquela história deveria terminar.
- Bem, raios - afirmou Shelby à medida que os carros iam passando a todo o vapor a poucos metros de distância - o Ken tem estado a liderar todas estas horas. É ele quem deveria ganhar a corrida.
Olhou para Beebe.
- O que acha que deveria acontecer, Leo?
Beebe ponderou por um momento:
- Não sei - respondeu - Eu até gostava de os ver os três atravessar a meta juntos.
Shelby achou a proposta interessante. Se os carros nas primeira três posições atravessariam juntos a linha de chegada, a equipa inteira da Ford ganharia. Podiam encenar um empate entre Miles e McLaren e não teriam qualquer razão para correr um contra o outro até ao fim e arriscarem um despiste ou o rebentamento de um os motores. O Ford numero 2 estava apenas a uma volta de distância do Ford numero 1.
- Oh, para o Diabo - disse Shelby - façamos isso, então."
A.J. Baime, "Como uma Bala", pgs. 275-76.
A Ford decidiu-se por um empate, e os organizadores até anuíram com a ideia. Assim sendo, foram para a frente.
Pelas 11 da manhã, Henry Ford II chegava de helicóptero a Le Mans para ver a situação "in loco". Tinha tudo controlado, e tudo era da Ford, especialmente os da Shelby. Iria finalmente bater a Ferrari em Le Mans, como tinha prometido três anos antes. Estava acompanhado pela familia, nomeadamente Edsel Ford II, o seu filho, e a sua segunda mulher, que tinha apostado mil dólares... contra a Ford. Desta vez, parecia que iria perder a aposta.
A Ford juntaram-se Leo Beebe e Don Frey, e foram ter com Shelby. Todos estavam felizes por vencerem - e claro, manterem os empregos - e esta altura, começaram a discutir como é que isto deveria acabar. Shelby disse que a vitória deveria ser para Ken Miles. Mas Leo Beebe tinha outra ideia: queria que os carros cruzassem a meta em formação, para celebrar a vitória que tanto procuravam.
"Faltando aproximadamente duas horas para o final, Leo Beebe, Don Frey e outros membros do Comité de Le Mans encheram a boxe. Iam ganhar a guerra do senhor Ford contra o senhor Ferrari, pelo menos isso dava para se perceber. Iam manter os empregos. No entanto, permanecia ainda um toque de sobriedade, um presentimento de que estava iminente o inesperado. A conversa virou-se para a chegada. Os executivos perguntaram a Shelby como é que achava que aquela história deveria terminar.
- Bem, raios - afirmou Shelby à medida que os carros iam passando a todo o vapor a poucos metros de distância - o Ken tem estado a liderar todas estas horas. É ele quem deveria ganhar a corrida.
Olhou para Beebe.
- O que acha que deveria acontecer, Leo?
Beebe ponderou por um momento:
- Não sei - respondeu - Eu até gostava de os ver os três atravessar a meta juntos.
Shelby achou a proposta interessante. Se os carros nas primeira três posições atravessariam juntos a linha de chegada, a equipa inteira da Ford ganharia. Podiam encenar um empate entre Miles e McLaren e não teriam qualquer razão para correr um contra o outro até ao fim e arriscarem um despiste ou o rebentamento de um os motores. O Ford numero 2 estava apenas a uma volta de distância do Ford numero 1.
- Oh, para o Diabo - disse Shelby - façamos isso, então."
A.J. Baime, "Como uma Bala", pgs. 275-76.
A Ford decidiu-se por um empate, e os organizadores até anuíram com a ideia. Assim sendo, foram para a frente.
Ken Miles queria vencer por uma razão simples: tinha vencido em Daytona e Sebring, e Le Mans seria a "Tripla Coroa" da Endurance. Estando ele na frente, tinha tudo para ganhar, mas não sabia que McLaren e Amon estavam na mesma volta que ele. Tinham ordenado que abrandasse e deixasse que os neozelandeses o apanhassem para fazer o final para as câmaras.
Contudo, quando a formação estava feita, Bill Reiber, da Ford França, veio da cabine dos organizadores com uma má noticia: os regulamentos não permiriam um empate. Caso ambos os carros atravessassem a meta ao mesmo tempo, o vencedor seria aquele que percorresse mais metros. E nesse caso, tinha sido McLaren, que partira oito metros mais atrás que Miles na grelha de partida. Quando Reiber avisou a Leo Beebe, já era tarde.
Quando a bandeira de xadrez foi mostrada, ambos os carros estavam lado a lado, como tinham pedido. McLaren e Amon estavam vinte metros mais atrás que Miles, mas foram declarados como vencedores, para revolta de Miles, que desejava a "Tripla Coroa" da Endurance. "Estou desiludido, é claro, mas o que se pode fazer?" E mesmo os vencedores não estavam muito felizes com o final, pois não era assim que desejariam vencer aquela grande prova da Endurance. Mas acima de tudo, a Ford era a grande vencedora.
Nas boxes, Miles comemorava com uma Heineken, e um pouco mais tarde, cruzou-se com McLaren. Depois de se olharem um para outro, deram um abraço apertado.
A VIDA É INJUSTA
Depois de Le Mans, as coisas continuaram: se naquele verão, para McLaren e Amon, as recepções na América como heróis era o pão nosso de cada dia, para Miles, havia mais testes com a nova evolução do GT40, que aconteciam na pista de Riverside, não muito longe de Los Angeles. Mas dificilmente engolia o facto de ter perdido aquela corrida por um pormenor técnico, e sobretudo, politico.
Alguns dias depois, deu uma entrevista a Bob Thomas, jornalista do Los Angeles Times. Ali, não deixou de exprimir a sua amargura em relação ao resultado:
"Pensei que tínhamos ganho", disse sobre a foto da chegada. "Mas ficamos em segundo por um pormenor técnico. Sinto que a responsabilidade disto reside na decisão da Ford, ignorando os meus protestos, de fazer da chegada um empate. Eu disse-lhes que não achava que ia funcionar". Apos a entrevista, Miles suplicou ao repórter. "Robert", disse, "por favor, tem cuidado com a forma como relatas o que eu disse. Eu trabalho para estas pessoas. Eles têm sido extremamente bons para mim".
A.J. Baime, "Como Uma Bala", pg. 281.
O dia 17 de Agosto de 1966 era de canícula em Riverside. Lá, Miles testava o "J Car", um carro experimental da Ford que queria levar para as 24 Horas de Le Mans de 1967. Ele iria ter nova chance de vitória em La Sarthe, e ali, provavelmente, teria todas as chances de vitória. Ainda por cima, a Ford iria investir mais dez milhões de dólares para o programa.
Depois de toda uma manhã a bater recordes de pista no carro, uma pausa para almoço, e mais testes com o carro. No final da tarde, Ken Miles acelerava a mais de 290 km/hora na reta principal quando o carro não travou e bateu forte no banco de areia, catapultando-se no ar e indo parar a outro lado. O carro estava totalmente desfeito, a arder, e o piloto estava cinco metros fora do carro. Tinha sido projetado pelo impacto, visto que ainda tinha o banco, e os cintos de segurança à volta do seu corpo. Quando os socorros chegaram, eles simplesmente constataram a sua morte. Tinha 47 anos.
(continua)
Nas boxes, Miles comemorava com uma Heineken, e um pouco mais tarde, cruzou-se com McLaren. Depois de se olharem um para outro, deram um abraço apertado.
A VIDA É INJUSTA
Depois de Le Mans, as coisas continuaram: se naquele verão, para McLaren e Amon, as recepções na América como heróis era o pão nosso de cada dia, para Miles, havia mais testes com a nova evolução do GT40, que aconteciam na pista de Riverside, não muito longe de Los Angeles. Mas dificilmente engolia o facto de ter perdido aquela corrida por um pormenor técnico, e sobretudo, politico.
Alguns dias depois, deu uma entrevista a Bob Thomas, jornalista do Los Angeles Times. Ali, não deixou de exprimir a sua amargura em relação ao resultado:
"Pensei que tínhamos ganho", disse sobre a foto da chegada. "Mas ficamos em segundo por um pormenor técnico. Sinto que a responsabilidade disto reside na decisão da Ford, ignorando os meus protestos, de fazer da chegada um empate. Eu disse-lhes que não achava que ia funcionar". Apos a entrevista, Miles suplicou ao repórter. "Robert", disse, "por favor, tem cuidado com a forma como relatas o que eu disse. Eu trabalho para estas pessoas. Eles têm sido extremamente bons para mim".
A.J. Baime, "Como Uma Bala", pg. 281.
O dia 17 de Agosto de 1966 era de canícula em Riverside. Lá, Miles testava o "J Car", um carro experimental da Ford que queria levar para as 24 Horas de Le Mans de 1967. Ele iria ter nova chance de vitória em La Sarthe, e ali, provavelmente, teria todas as chances de vitória. Ainda por cima, a Ford iria investir mais dez milhões de dólares para o programa.
Depois de toda uma manhã a bater recordes de pista no carro, uma pausa para almoço, e mais testes com o carro. No final da tarde, Ken Miles acelerava a mais de 290 km/hora na reta principal quando o carro não travou e bateu forte no banco de areia, catapultando-se no ar e indo parar a outro lado. O carro estava totalmente desfeito, a arder, e o piloto estava cinco metros fora do carro. Tinha sido projetado pelo impacto, visto que ainda tinha o banco, e os cintos de segurança à volta do seu corpo. Quando os socorros chegaram, eles simplesmente constataram a sua morte. Tinha 47 anos.
(continua)
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