domingo, 4 de agosto de 2024

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Há 50 anos, a Formula 1 estava no Inferno Verde, na sua passagem anual pelo Nurburgring Norschleife. Se na corrida, Clay Regazzoni foi o melhor no seu Ferrari, batendo o Tyrrell de Jody Scheckter e o Brabham de Carlos Reutemann, outro destaque era um acidente, onde a frente do carro de desfazia e o seu piloto sofria ferimentos nas pernas. O que não se sabia ainda era que o azarado do dia tinha acabado de fazer a sua última corrida na Formula 1. 

Mike Hailwood era uma lenda do motociclismo (quatro títulos na classe 500cc, mais duas nas 350cc e três nas 250cc) quando em 1967, decidiu trocar as duas pelas quatro rodas. Queria as quatro porque já tinha tido uma experiência em 1963-65, na Formula 1, pela Reg Parnell Racing, sem grandes resultados a não ser um sexto lugar no Mónaco. Quando regressou, em 1968, correu primeiro na Endurance e GT's, mas em 1971, um outro ex-motociclista, John Surtees, o convidou para correr na sua equipa de Formula 1. Entrou no GP de Itália, e andou a lutar pela vitória até ao último metro, perdendo uma chance de pódio por pouco mais de um carro. 

A temporada seguinte, em 1972, foi bem melhor. Uma volta mais rápida em Kyalami, para dois quatro lugares em Nivelles e no Osterreichring antes de em Monza conseguir um segundo lugar, perdendo apenas para Emerson Fittipaldi, que ganhou ali o seu primeiro campeonato do mundo. No final, conseguiu 13 pontos e o oitavo lugar na geral.

Mas se as coisas correram bem nessa temporada, a próxima foi o Inferno. O TS14A foi um carro pior, e não conseguiu qualquer ponto. Para piorar as coisas, foi batido pelo seu companheiro de equipa, José Carlos Pace. Mas pelo meio, em Kyalami, envolveu-se num acidente e não hesitou em sair do carro e ir ter com outro acidentado, o BRM de Clay Regazzoni, para retirá-lo do carro em chamas. Por causa desse gesto, Hailwood foi condecorado a George Medal, a segunda mais alta condecoração por bravura no Reino Unido.

No final desse ano, ele foi para a McLaren. A ideia era a seguinte: a equipa tinha recebido o gigantesco patrocínio da Marlboro, e que vinha da BRM, mas eles tinham a Yardley, a firma de cosméticos britânica, e o contrato ainda não tinha acabado. Tentando evitar que fossem processados por eles, decidiram que iriam inscrever um M23. E Hailwood foi o escolhido, correndo ao lado de Emerson Fittipaldi e Dennis Hulme.

"Mike, the Bike" teve um grande inicio, com três lugares nos pontos nas três primeiras corridas, culminando com um terceiro lugar em Kyalami, depois de ter partido do 12º posto na qualificação. Um quarto posto na corrida dos Países Baixos a colocou, a certa altura no quinto lugar do campeonato, ficando apenas atrás de Fittipaldi, Scheckter, Regazzoni e o outro Ferrari de Niki Lauda

Quando chegou a Nurburgring, Hailwood partia de 12º na grelha, numa corrida que tinha 32 inscritos, e do qual passavam apenas 25. O fim de semana tinha sido agitado, logo na qualificação, quando Howden Ganley tinha-se acidentado no seu carro e magoado nos tornozelos. Hailwood andou relativamente bem, mas a duas voltas do final, na curva Pflanzgarten, o carro aterrou mal e perdeu o controle, acabando nos guard-rails, destruindo a frente do seu M23 e a sua perna direita ficou seriamente lesionada. 

E ali, discretamente, acabava a carreira de Hailwood. Mas a sua vida foi bem rica, bem preenchida. 

Nascido Stanley Michael Bailey Hailwood a 2 de abril de 1940, em Great Milton, no Oxfordshire britânico, teve uma vida privilegiada, porque o seu pai era um próspero empresário que negociava com motas, entre outros negócios. E como competia nos tempos livres, passou o bicho da competição para o seu filho. Começou a competir aos 17 anos, em 1957, e a partir dali... não parou. Em 1967, era um dos motociclistas com maior palmarés do pelotão, e era piloto oficial da Honda, depois de ter passado pela Trimph, NSU e sobretudo, MV Agusta.

Regressou ao motociclismo uma década depois de a ter abandonado, aos 37 anos, disposto a correr na Man TT, e sobretudo, mostrar à nova geração que ainda era capaz de vencer, numa altura em que Barry Sheene era o piloto do momento nas mentes dos britânicos apreciadores das duas rodas. Não regressou ao Mundial de Velocidade, mas ganhar na ilha de Man ainda tinha prestigio. Em 1978, a bordo de uma Ducati de 900cc., triunfou na categoria F1, e no ano seguinte, numa Suzuki de 500cc, ganhou na categoria geral, pela 14ª vez na sua carreira. Tinha 39 anos, e ali, decidiu pendurar de vez o capacete. 

Infelizmente, não viveu muito mais tempo. Quase dois anos depois, a 21 de março de 1981, sofreu um acidente de estrada quando ia às compras com as suas duas crianças. A sua filha morreu de imediato, ele, dois dias depois, aos 40 anos de idade.    

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