quarta-feira, 27 de agosto de 2025

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Naquele dia do ano 2000, o Ano do Milénio, a Formula 1 chegava a Spa-Francochamps com Mika Hakkinen a segurar Michael Schumacher por dois pontos. Tinha-o passado depois de ter triunfado no Hungaroring, e claro, o alemão queria reagir na Bélgica, porque afinal de contas, era um campeonato que estava em jogo. Schumacher, que não tinha conseguido fazer um ataque ao título decente em 1999 por causa do seu acidente em Silverstone, tinha no ano 2000 o seu ano decisivo, porque estava há cinco temporadas em Maranello e já sentia a pressão os 21 anos sem títulos que a equipa do Cavalino passava. 

Com esses dois pontos de diferença, chegaram ao GP da Bélgica dispostos a fazerem o seu melhor. Apesar do tempo algo instável durante o fim de semana, a qualificação acontecera debaixo de sol e Hakkinen foi o melhor. Mas o segundo classificado foi surpreendente: o Jordan de Jarno Trulli, que colocava o carro na primeira fila. O terceiro era o Williams-BMW de Jenson Button, que estava na sua primeira temporada, e claro, a conseguir o seu melhor registo da temporada. Schumacher foi apenas quarto, nove décimos mais lento que o piloto da McLaren, e prejudicado pelo tráfego lento e uma bandeira amarela.

13º na grelha estava o BAR do brasileiro Ricardo Zonta, 1,2 segundos mais lento que Jacques Villeneuve, o sétimo.

O dia da corrida iria começar com chuva, que parou uma hora antes da corrida. O asfalto não tinha secado, e decidiu-se que a corrida iria iniciar atrás do Safety Car, com pneus de chuva calçados. Quando a corrida começou, o Sauber de Pedro Diniz despistou-se e bateu no carro de Pedro de la Rosa, com o espanhol a cumprir uma penalização. Hakkinen começou a distanciar-se de Trulli nas voltas seguintes, e parecia que as coisas estavam sob controlo do lado da McLaren.   

Schumacher tinha de se livrar de Button e Trulli para poder perseguir Hakkinen, mas não era fácil. Conseguiu passá-los antes da oitava volta, quando o finlandês já tinha 9,1 segundos de vantagem, e numa altura em que já aparecia uma linha seca, do qual quem colocou pneus secos mais cedo ia beneficiar disso. Hakkinen trocou na volta sete, uma volta depois de Schumacher.

O alemão aumentou o ritmo e na volta 13, tinha reduzido a diferença para 4,6 segundos. Pouco depois, o finlanês cometeu um erro, ao colocar numa das rodas numa parte molhada, em Stavelot, e despistou-se. Regressou à pista, mas o comando era de Schumacher. A partir dali, para o finlandês, era uma corrida para recuperar o prejuízo. 

Mas na volta 21, a meio da corrida, Schumacher, que sempre foi um piloto consistente e com um ritmo superior ao dos outros, tinha conseguido uma vantagem de 11,5 segundos. Parecia que tudo estava resolvido. Ali, fez o seu único reabastecimento e regressou à pista em terceiro, sabendo que os outros iriam parar. Mika, que parou na volta 27, fora avisado pelas boxes que tinha de aumentar o ritmo porque o alemão tinha mais combustível. 

Ele aumentou o seu ritmo, e conseguiu aproximar-se do piloto alemão, que estava a gerir os pneus que melhor podia, pois estavam degradados - tinha colocado "soft compound". Quando amos chegaram à volta 40, o finlandês estava na traseira do piloto da Ferrari e começou a tentar as suas manobras na reta Kemmel. Schumacher defendeu-se, quase à beira da lei - os carros tocaram-se e Mika ficou com a asa marcada - mas Hakkinen defendeu-se. 

No inicio da volta 41, Mika estava bem perto da traseira do Ferrari de Schumacher, porque tinha saído bem da Eau Rouge e do Radillon. E foi nessa altura em que viram o BAR de Zonta, 12º na corrida e prestes a perder uma wolta e a entrar numa disputa pela liderança. Com o piloto pela frente, usaram o instinto: Schumacher pela esquerda, Mika pela direita. Eles saíram dali mais ou menos igualados, mas na travagem para Les Combes, pela direita, ele arrancou melhor. Faltavam duas voltas e meia para o final, mas o finlandês aguentou bem e tinha conseguido a sua segunda vitória seguida no campeonato, e alargava a diferença para quatro pontos. 

Contudo, aquilo que os espectadores tinham visto em casa como algo de entrar na história do automobilismo como uma das ultrapassagens mais espetaculares, para Hakkinen, foi uma manobra perigosa. Zonta disse depois que viu Schumacher nos espelhos... mas não Mika, e o alemão teve suficiente fair-play para aplaudir aquilo que tinha feito. 

Ron Dennis disse depois que com aquela manobra, "Mika irá ser um dos grandes da História do automobilismo", enquanto Derrick Alsop, colunista do jornal britânico "The Independent", afirmou que "provavelmente, ele será alguém que conquistou um lugar no panteão dos heróis". 

No final do campeonato, o derrotado foi o último a rir: Scumacher conseguiu o campeonato para a Ferrari, abrindo as comportas para o seu domínio. Mas há 25 anos, Mika tinha dado o seu melhor para defender os seus títulos. E aquela manobra arriscada, instintiva, foi isso mesmo.

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