quinta-feira, 29 de março de 2007

O regresso do Rali de Portugal

Daqui a poucas horas começa no Algarve o Rali de Portugal. Para mim e para toda a comunidade automobilística tuga, é um belo dia, pois marca o regresso de uma prova mítica, considerada durante muitos anos como “O Melhor Rali do Mundo”, e um dos motivos de orgulho nacional. Sei perfeitamente que não há mais as classificativas de Arganil, Fafe-Lameirinha, Figueiró… este ano concentraram tudo no Algarve, e isto está a ficar cada vez mais concentrado num só sitio, depois de saber que este Verão arrancarão as obras do Autódromo de Portimão, palco de um possível GP de Portugal de Formula 1…

Enfim… decidi puxar da minha memória as recordações que tenho deste Rali. A minha recordação mais forte era a do público. Antes de 1986, o público era “louco”: invadia a estrada e só se afastava quando os carros passavam, um segundo antes, a mais de 180 Km/hora… O nosso público era louco! E tamos a falar de carros de Grupo B, com motor Turbo, com mais de 600 cavalos!

Qual era a minha classificativa favorita? Uma ao qual nunca fui ao vivo: Fafe-Lameirinha. Não tanto pelo salto, mas para o que vinha antes. Cortavas à direita, em terra, descias até à estrada nacional, em asfalto, cortavas à esquerda, andavas 50 metros, depois cortavas à direita, voltavas a terra, subias, cortavas à esquerda, e depois era o salto. No salto, andavas mais uns 200 metros e a classificativa acabava aí. Pelo menos era assim nos anos 90… Era uma das classificativas que a RTP sempre transmitia. Podia meter Arganil, Figueiró, Coruche… mas Fafe aparecia sempre!

Depois lembro-me do momento em que o “cocktail explosivo” entre público e carros do Grupo B explodiu: Lagoa Azul 1986. Nesse ano, fizeram uma primeira etapa baseada somente nas classificativas da Serra de Sintra. Com o público aos magotes, o desastre tinha que acontecer. Mas quando aconteceu, pensava que isso aconteceria com um Alen ou um Biasion. Mas foi com o Joaquim Santos, um piloto da casa, num Ford RS 200. Matou duas pessoas e mandou 40 para o hospital. Foi forte. E no final desse dia, os pilotos de fábrica decidiram boicotar o resto da prova, mas o rali continuou. Dois meses depois, Henri Toivonen morria no Rali da Córsega, e aí baniram de vez os carros do Grupo B. Ainda bem.

E depois, vieram os anos 90. Sainz, McRae, Kankunnen, Makkinen, Burns, Auriol… a invasão espanhola nas classificativas do Norte, só por causa do Sainz (embora o Moya fosse galego)… desse período lembro de uma classificativa que fui ver. Em 1997, o rali partia da Figueira da Foz, numa especial na Serra da Boa Viagem. Fui ver com uns amigos meus. Estavam lá pelo menos 60 mil pessoas… A classificativa foi primeiro encurtada, depois anulada. Arrepiante!

Depois, foi o vendaval de 2001. Dias e dias de chuva, tinha acontecido o desastre de Entre-os-Rios… para a FIA, foi um bom motivo para o correr o nosso rali do calendário, em favor de ralis que nunca tínhamos ouvido falar. Chipre, Turquia, Japão… já viram o público no Japão? Não há!

Felizmente, está de volta. Mas é um rali concentrado no Algarve (parece que foi o trato com a FIA). Espero que volte a ter a popularidade dos anteriores. Fizeram uma Super-Especial no Estádio Algarve, que só por si deve levar milhares de pessoas, mais as centenas de milhares que vão encher os hotéis, as casas de aluguer… vai ser com se fosse Verão. Ou então a repetição das cenas do Lisboa-Dakar…

2 comentários:

José António disse...

Artigo interessante.
Apenas peca por não referir o maior vencedor do Ralie de Portugal: o finlandês Markku Alén que ganhou por cinco vezes o nosso ralie (1975, 1977, 1978, 1981 e 1987).

Anónimo disse...

Tem aqui um arquivo muito interessante.
Mas falta dizer que o troço Fafe-Lameirinha foi considerado por 5 anos o melhor do mundo.