quinta-feira, 20 de outubro de 2011

5ª Coluna: Quando o pior acontece, ouvem-se asneiras

Não vi o acidente de Dan Wheldon em direto porque não tinha intenções de seguir a corrida. Contudo, quando mal soube da coisa, via Twitter, cerca de vinte minutos depois de o acontecer já estava atento aos acontecimentos que vinham de Las Vegas. E á medida que os minutos passavam e se ouvia aquele silencio ensurdecedor, o teu íntimo começava a consciencializar de que o pior tinha acontecido. E muito antes do anuncio oficial, eu e muitos outros já sentiamos que Dan Wheldon, que cinco meses antes tinha inesperadamente vencido das 500 Milhas de Indianápolis, estava morto na corrida que queria ganhar para voltar a casa mais rico em cinco milhões de dólares.

Hoje em dia, quando olho para esta foto em que aponta para publicitar o evento de Las Vegas, não deixo de olhar para ela num misto de arrepiante prenomonição e de uma profunda tristeza pelo talento que foi perdido e pelo excelente marido e pai que foi.

Contudo, à medida que os dias passam e se continua a falar sobre a IndyCar, a pista de Las Vegas e a carambola em si, sinto o típico ambiente de "caça às bruxas" que se instalou na opinião pública, que tipicamente acontece após algum acidente grave. É certo que existem aspectos censuráveis, como o fato da IndyCar, na pessoa de Randy Bernard e Brian Barnhardt, previlegiarem o espectáculo do que a segurança, de estarem 34 carros numa pista curta demais, com os carros a alcançarem os 360 km/hora, logo, as hipóteses de acidente grave serem expoencialmente maiores Aí, acho que as criticas são pertinentes.

Mas em todo o resto, é pura idiotice. Nesse aspeto, direi que se perde uma enorme oportunidade para ficarem calados, porque não sabem do que falam, logo, espaço para o disparate. Mas compreendo esta histeria: é do instinto das pessoas dizer que "isto não pode voltar a acontecer", porque foi algo que milhões viram na televisão em direto foi-lhes chocante ver algo que pensavam ser puro entretenimento transformar-se num cenário do "Extreminador Implacável", como disse Ryan Briscoe, um dos concorrentes.

O meu motivo porque eu chamo aos que criticam por criticar de "idiotas" é porque esses chamaram aos pilotos de "suicidas" ou que tenham "desejo de morrer". Não é assim, porque demonstram o seu enorme desconhecimento pelo fato da segurança do automobilisimo ter evoluido bastante nos últimos anos. Já não há mortes na Formula 1 desde 1994, e mesmo assim a FIA não descansou em cima da bananeira, continuando a apresentar caracteristicas de segurança aos carros e a pilotos. Exemplos recentes disso são o HANS, o suporte extra que os pilotos têm para evitar fraturas na base do crânio, e agora, uma proteção extra nas suas viseiras, para evitar que os pilotos fiquem feridos por peças soltas, como aconteceu a Felipe Massa em 2009.

Contudo, não quero abrir a boca só para dizer que lamento a perda de um enorme talento do automobilismo. A ironia no caso de Dan Wheldon é que ele andou a experimentar o carro para 2012, que tem caracteristicas de segurança que permitem - no papel - impedir que rodas voem soltas após um choque e matem outros pilotos, por exemplo. Mas acho que a IndyCar Series devia aproveitar esta ocasião para melhorar a sua organização e mudar um pouco a sua mentalidade. Não no sentido de abolir as ovais do calendário, porque isso vai contra a sua natureza, mas que oiçam mais os pilotos.

A carambola de Las Vegas foi o culminar de vários pequenos incidentes ao longo da temporada, onde os pilotos criticaram duramente as decisões da organização, especialmente o incidente da oval de New Hampshire, onde os organizadores decidiram lançar a bandeira verde numa oval, mesmo com chuva miudinha, causando uma carambola nos primeiros metros. Em jeito de conclusão, fico com a sensação é que aquele acidente não foi culpa do carro ou do circuito. Fico com a sensação de que a organização da IndyCar deixa imenso a desejar. E numa organização que deve ser 120 por cento profissional, foi um enorme tiro no pé, só que com consequências nefastas.

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