"Em 2009, se alguém me falasse do cockpit fechado na Formula 1 ou demais competições de monolugares, eu diria que era algo de ficção cientifica, ou então diria que isso pertenceria à Endurance, onde seria o seu lugar. Creio até que nunca ouvi qualquer conversa sobre o assunto. Talvez porque achava que as coisas já estavam feitas no capitulo da segurança – o que não é verdade, nunca será.
Contudo, numa única semana, os acidentes de Henry Surtees e Felipe Massa fizeram com que ouvisse falar da história dos cockpits fechados, especialmente através de um designer brasileiro, o Ubiratan “Bira” Bizarro Lima, que falou sobre o assunto – creio que até o entrevistei na altura. Como eu, muitos encontravam-se céticos sobre esse assunto, dizendo até que tudo isto tinha sido uma série de acidentes infelizes. E aos poucos, a ideia desapareceu de cena, apesar de saber que a FIA estava a pensar no assunto. (...)
O objeto do qual [Justin] Wilson foi atingido [um pedaço de asa com aproximadamente sete quilos vinda do carro de Sage Karam] equivale a um televisor de tamanho médio. Mais pesado do que a mola que Massa levou do carro de Rubens Barrichello, mais mais leve do pneu que Henry Surtees levou do carro de Jack Clarke, na prova de Brands Hatch de Formula 2. Destes três exemplos, dois foram fatais, e mesmo o brasileiro conseguiu recuperar sem sequelas do seu acidente no Hungaroring porque a mola em questão tinha menos de um quilo. Mas se acham que isto é leve, imaginem esses objetos atirados a 200, 250 ou 300 quilómetros por hora. Não preciso fazer cálculos matemáticos para entender que o impacto é forte, e não há capacete suficientemente forte ou HANS que nos salva. (...)
Em dois meses, o automobilismo sofreu duas perdas: Jules Bianchi e Justin Wilson, ambos em graves acidentes que afetaram a parte mais vulnerável do piloto. Nos monolugares, os cockpits abertos são uma realidade, em contraste com a Endurance. Não sendo um entusiasta, tenho de contudo aceitar a realidade de que tem de se fazer algo para proteger melhor a cabeça do piloto com algo mais do que o capacete. Não é uma solução fácil, os desafios são muitos, mas enfiar a cabeça na areia não é solução.
É sobre isso e muito mais que escrevo este mês no Nobres do Grid.
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