segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Não há heróis na Formula 1

Nas últimas quatro horas, não soubemos quem ficou com o terceiro lugar do GP do México. Primeiro, pensamos que fora Max Verstappen, depois de uma manobra nos limites para se defender de Sebastian Vettel, que lhe deu uma penalização de cinco segundos. O holandês soube na sala de espera no pódio, e olhou para aquilo como se tivessem dito que tinha sido apanhado no controlo anti-doping, ainda antes de ir ao pódio e buscar o prémio. 

Vettel, depois de mandar Charlie Whitting para aquela parte, e ter Maurizio Arrivabene a acalmá-lo e manter a cabeça fria, foi ao pódio, feliz da vida, para ir buscar o troféu, mas a FIA avisou logo de que estava sob investigação por causa das manobras que fez junto ao carro de Ricciardo, e agora, decidiu penalizá-lo em dez segundos, caindo para o quinto posto, atrás... dos Red Bull. Afinal de contas, a penalização do holandês até foi benéfica para ele! 

Eu oiço aqui e ali as pessoas, os fãs de Formula 1, queixarem-se de que "piloto tal e tal é arrogante". Bom... eis uma noticia de última hora que já deveriam saber há muito, e vou "gritar" para que todos entendam: TODOS OS PILOTOS DE FORMULA 1 SÃO ARROGANTES! Se são egoístas, ultra-competitivos e vêm o seu companheiro de equipa como o primeiro piloto a abater. Até o Marcus Ericsson ou o Esteban Ocon tem esse comportamento. O que é que esperavam? Que fossem generosos e descontraídos como o Kimi Raikkonen ou o Juan Pablo Montoya, por exemplo? Eu me lembro que o colombiano, nos seus tempos da Williams e da McLaren, também era um piloto arrogante e irritante. Agora, amadureceu e está no ambiente descontraído da IndyCar, onde as coisas são totalmente diferentes da Formula 1, por exemplo.

As pessoas tem uma certa ideia dos seus heróis. Querem que sejam super-honens e acham que tem de haver um "nós contra eles". Se são fãs do Raikkonen ou do Alonso, tem de ver o Vettel ou o Hamilton como os seus arqui-inimigos ou algo assim. Se vêm o junior Verstappen, querem odiá-lo para sempre, por ter aquelas atitudes em pista. Ele não tem mais do que a atitude do seu pai, uma geração antes, e de por exemplo, um seu conterrâneo, de seu nome Ayrton Senna. Em muitos aspectos, as suas atitudes em pista pavimentaram o caminho destes muitos "meninos mimados" que vemos agora. As manobras duvidosas e as suas atitudes intimidatórias eram cartas que usava quando era necessário, e a manobra de Suzuka 1990 foi a mais conhecida de todas.

Mas voltando ao que vimos esta noite no Autódromo Hermanos Rodriguez... vejam o que isto deu. Sabem quem está a esfregar as mãos de contente? Quem é que acha que os rádios deveriam ser totalmente liberados e ouvirem as queixinhas dos pilotos em cada corrida? Bernie Ecclestone. O anãozinho deve estar feliz da vida, porque estamos todos a falar sobre Formula 1. Falem mal, mas falem. O que ele gosta é que falemos da competição, das polémicas, das manobras. A corrida, sejamos honestos, foi aborrecida, e ele deve estar muito feliz por esta "benção" dos céus, numa prova onde vimos o entusiasmo das pessoas, mas não vimos luta pela liderança, pois os Mercedes logo acabaram com isso. O que salvou esta corrida de ser classificada como "aborrecida" foi esta luta entre terceiro, quarto e quinto, não tanto por causa dos toques, mas por aquilo que ouvimos nos rádios.

E sejamos honestos: quando é que começamos a louvar Kimi Raikkonen? Não foi quando ouvimos os seus desabafos por rádio em Abu Dhabi? E quando começamos a ver outra face de Fernando Alonso? Não foi em Suzuka, em 2015, quando se queixou que o seu motor era de GP2? Pois bem, agora, a rádio do Sebastian Vettel mostrou, mais do que "mais um alemão arrogante", é um piloto que fala do que pensa, e não deixa nada por dizer. Mandar o Charlie Whitting à m****, poucos o fazem, todos lhe apontam o dedo por isso, mas se uns lhe chamam queixinhas, eu o chamo um tipo com tomates. Mesmo que depois tenha perdido um lugar no pódio...

Como disse lá em cima: se procuram a santidade nestes pilotos de Formula 1, desistam. São tão seres humanos como nós, com qualidades e defeitos. Não são heróis, mas também não são os representantes do Diabo na Terra. Apenas são competitivos e querem ganhar ao piloto que está na sua frente, de uma forma limpa e correta, seguindo os regulamentos. E se não segue... que seja penalizado. Simples.  

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