quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

As primeiras conclusões de Barcelona

Já acabaram os primeiros testes coletivos em Barcelona, mas as equipas de Formula 1 não se vão embora do paddock porque na segunda-feira há mais, para a segunda bateria de testes, preparando-se para Melbourne, para a primeira prova do ano.

Toda a gente tinha os olhos postos em... todas as equipas, sejamos honestos. Mas uns mais que outros. Todos queriam saber se a Mercedes iria dominar ou iria esconder o jogo, concentrando-se nos "stints" para a corrida, tão importantes como fazer meia dúzia de voltas rápidas na qualificação, por exemplo. Também iriam ver como é que a Ferrari se comportaria, eles que nos últimos dois anos se esforçaram para deslojar a Mercedes do pedestal, para falharem, muitas das vezes de forma espectacular, à frente de milhões, nas largadas de certos Grandes Prémios. E em 2018, ver Sebastian Vettel a derreter-se à frente de todos fizeram com que muitos "entendidos" o atacassem, afirmando ele não ter estofo de campeão. Sim... 

E agora, claro, essa gente torce para que Charles Leclerc se agigante e "coma de cebloada" o alemão. Não estou a brincar, e verdade. Há quem torça por Leclerc só porque querem a queda de Vettel. E parece que há uma razão para isso, depois falo um pouco mais abaixo.

Mas também há quem esteja curioso sobre a Red Bull e a Toro Rosso, porque este ano têm motores Honda. E claro, a McLaren e a Renault, por causa dos seus motores... Renault. E a Sauber Alfa Romeo, que este ano se tornou numa "equipa B" da Scuderia, como como chamo agora, "a mãe da Ferrari".

Mas depois, temos a Williams. Que toda a gente acompanhou nestes últimos dias a sua saga, do chassis que não ficou a pronto a tempo, e que pode ter sido tão mal nascido que os membros da Williams chegaram a um ponto de ruptura com a estrutura dirigente, nomeadamente Claire Williams e Paddy Lowe. Expliquei por aqui, num post que se tornou no mais lido do ano... até agora

Hoje, o Williams rodou a sério, com Robert Kubica ao volante. Vai ser o grande regresso da Formula 1 numa década, desde o regresso de Michael Schumacher em 2010, e a sua competência em testar e arranjar chassis vai ser mais necessária do que nunca. É que se todos os defeitos se revelarem, então teremos grandes problemas. Ver uma Williams virar, não uma Minardi, mas uma Andrea Moda da vida, é um triste fim para os pergaminhos de uma equipa sete vezes campeã do mundo de Construtores, a primeira dos quais há quase 40 anos, com Alan Jones ao volante.

Voltando à Ferrari, de uma certa maneira, parece ser um chassis equilibrado, durável e não mudou de performance em relação ao ano passado. O problema é a concorrência. Parece que a Mercedes caiu de cavalo para burro, e eles andam com problemas no motor. Toto Wolff e James Allison parece que anteciparam o seu regresso a Brackley para ver o que se passa com o W10, e de uma certa maneira, parece confirmar os rumores que se ouvem desde o final do ano passado, que provavelmente o novo motor não é tão potente e tão veloz como a versão anterior, e que tem mais complicações que esperavam.

E hoje, um especialista escreveu no blog da Sky Sports o seguinte: 

"Ferrari meio segundo à frente? A ordem parece bem clara na verdade. Parece que a Ferrari tem talvez quatro ou cinco décimos sobre o resto". e na Formula 1, meio segundo é uma eternidade.

A ser verdade, parece que pela primeira vez desde 2008, a Scuderia tem uma chance real de ficar com ambos os títulos de Construtores, e quebrar uma ordem que existe desde 2014, com a Mercedes a ficar com tudo, e Lewis Hamilton a ser detentor de quatro dos cinco títulos conquistados, com Nico Rosberg a ficar com o campeonato que sobrou, em 2016. Resta saber até que ponto é que será dominante, e se haverá concorrência a beliscá-lo.

É que temos a Red Bull à espreita. É certo que têm o motor Honda, do qual ainda se estão a adaptar - e do qual se ouve uns rumores sobre as suas vibrações serem prejudiciais ao desempenho do resto do chassis - e também não sabemos qual é o seu ritmo de corrida. E se conseguem ser melhores que a Toro Rosso nesse campo. Normalmente, a Red Bull compensava em termos aerodinâmicos pelas fraquezas do motor que tinha - andou de Renault desde 2007 e foi com ela que venceu os quatro campeonatos de pilotos e construtores, entre 2010 e 2013 - e este ano têm uma Honda que pretende fazer um trabalho bem melhor que tem feito até aqui, na Toro Rosso.

Até agora, parece estar ao ritmo da Mercedes, e poderá espreitar por bons resultados. Parece que Max Verstappen poderá ter um carro capaz de lutar pelo título. Mas da maneira como estão as coisas, o grande objetivo é fazer suar os Ferrari. E essa é a grande incógnita.

Ah... já ia esquecendo. A Sauber Alfa Romeo. Eles provavelmente vão dar "o pulo do gato" por causa da experiência de Kimi Raikkonen e a competência de pessoas como o Frederic Vasseur. Mudaram de nome, mas ainda não mudaram de casa - continuam em Hinwill - e vão ser cada vez mais a equipa B da Ferrari. Provavelmente usarão motores melhores, mas mesmo que usem umsa evolução do motor de 2018, como tem autonomia para fazer bons chassis, não ficaria admirado se pegassem em algum do "know how" e fizesse um melhor trabalho. A parte chata é que a luta pelo quarto posto no Mundial de Construtores vai ser bem renhida...

E a McLaren? Pode ser que não saia do seu lugar, o que até é o mínimo. Não anda de cavalo para burro, mas não tem mais um excelente afinador que era Fernando Alonso. Têm Carlos Sainz Jr, que não parece ser um piloto para altos vôos - pelo que se viu nos seus tempos da Renault. A dupla é totalmente nova, pois Lando Norris é um estreante absoluto, e ele tem de ver se tem estofo para correr num mundo totalmente novo. Talento têm, mas a pressão de um fim de semana de Formula 1 é diferente de um Formula 2 ou outra coisa qualquer. E a mesma coisa pode-se dizer do George Russell, na Williams.

E os habituais habitantes do meio do pelotão? E a Renault? A Racing Point e a Haas querem subir, é verdade, e parece que no caso da equipa americana, poderão ter um bom chassis. Agora é ter bons pilotos, capazes de o guiar, porque durante estes testes, a Haas pediu inesperadamente ao Pietro Fittipaldi, um dos netos do Emerson Fittipaldi, para que desse umas voltas ao carro, e cumpriu com distinção aquilo que lhe pediram. Já a Racing Point, parece estar discretos, mas tudo parece funcionar, o que poderá, como disse em cima, acirrar a disputa pelo meio do pelotão.

Quanto à Renault, arrisca a ser a desilusão do pelotão. Eles apostam para este ano a tal subida na classificação, interferir no trio Ferrari-Mercedes-Red Bull, mas pode ser que isso não aconteça por causa não só do chassis que não é uma maravilha, mas porque a concorrência aplicou-se e o sonho de serem os donos do quarto posto irem por água abaixo por não serem capazes. Pontuar mais vezes? Vamos a ver. Racing Point, Haas e Sauber-Alfa também tem essas aspirações..  

Em suma, parece que poderemos ter um líder e um habitante para a cauda do pelotão. O resto anda tudo tão uns ao lado de outros que tudo é possível. Não me surpreenderia ver a Haas ou a Sauber-Alfa na Q3, a Ferrari ficar com a maior parte das pole-positions, com o Max Verstappen a interferir e a Mercedes ser a desilusão do ano, a par da Renault. Mas ainda falta a segunda bateria de testes, que aocntecerá ao longo da semana que vêm.

Ah, só para finalizar: os carros estão cada vez mais resistentes. Para terem uma ideia, esta quinta-feira, cinco pilotos conseguiram fazer mais de cem voltas seguidas nos seus carros: Giovinazzi (Sauber-Alfa), 122 voltas, uma a mais de Leclerc; Gasly, com 110 uma a mais que Lando Norris; e o Toro Rosso de Alexander Albon. 

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