segunda-feira, 29 de junho de 2020

A imagem do dia

Na semana do regresso da Formula 1, a Mercedes decidiu pintar o carro de novo. Agora, a partir deste W11, de "Flechas de Prata", tornaram-se "Flechas Negras". Aparentemente, foi a influência de Lewis Hamilton, que se elevou como cidadão do mundo, e a sua influência dentro da Mercedes, fez com que a equipa tivesse consciência social do mundo à sua volta.

No seu comunicado oficial, a equipa disse que os protestos do movimento Black Lives Matter dos últimos cinco meses “mostraram o quanto precisamos de novas medidas e ações na luta contra o racismo e todas as formas de discriminação. Como equipa, usamos as últimas semanas para ouvir as perspectivas dos membros de nossa equipa, aprender e refletir sobre como ela é a nossa estrutura hoje e como queremos que ela seja no futuro“.

A equipa afirmou que o novo visual faz parte de “uma promessa de melhorar a diversidade na equipa e de nosso desporto, e um sinal do compromisso em combater o racismo e a discriminação em todas as suas formas”. Para terem uma ideia, no Halo está escrita a frase "End Racism".

Mas a própria equipa disse logo que dentro deles, há apenas 3 por cento de funcionários "não brancos", e 12 por cento de mulheres, logo, havia catalisador para a mudança que há muito se pedia.

É uma boa mudança, mas para que isto tenha efeito, tem de ser prolongado no tempo, e tem de ser geracional. É um combate a longo prazo. Mas depois há um dilema: faz-se cotas ou deixa-se entrar por meritócracia? Cada um destes métodos tem os seus prós e contras, por um lado, as cotas poderão rebaixar a qualidade dos seus técnicos, engenheiros, mecânicos e programadores, e haverá pessoas de ramos... privilegiados que não terão chance de entrar porque não tem a "cor certa" ou o "sexo certo", e por outro, se formos pela meritócracia, demorará gerações até haver um vislumbre de igualdade e aparecerão novas ondas de indignação à medida que os anos passam, fazendo pensar - provavelmente de modo injusto - que nada foi feito.

Em suma, as pessoas querem ações, mais do que palavras. E tem outra coisa: o grande impulsionador foi Lewis Hamilton, que é provavelmente o melhor piloto do pelotão. Mas ele tem 35 anos e a sua carreira não terá muito mais tempo. Ele continuará a pegar o bastão depois de fechar a sua carreira como piloto? Porque esta pode ser o combate de toda uma vida, uma igualdade e justiça para todas as minorias, para que se sintam protegidas, que tenham oportunidades iguais e alcancem a felicidade. E se no caso das mulheres, já temos séries próprias de formação, para o resto... se calhar, tem de precisar de um pai multimilionário ou um bom mecenas. Porque o talento é apenas metade da coisa.

Mas de resto, é um bom gesto. Contudo, precisamos de mais. 

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