segunda-feira, 17 de agosto de 2020

A imagem do dia

Há 45 anos, um gorila venceu na Formula 1 e o animal comemorou destruindo o seu carro. Claro, não foi um gorila a sério, era apenas o apelido de Vittorio Brambilla, o italiano que era tão veloz como não era... polido. Era o filho de um garagista de Monza e ele, como o seu irmão mais velho, Ernesto "Tino" Brambilla, começara no motociclismo, antes de passar para as quatro rodas. Mas ao contrário do irmão, ele teve muito mais sucesso nas quatro rodas, competindo pela Alfa Romeo na Endurance e depois na March, durante boa parte da sua carreira, especialmente no carro laranja do patrocinador local Beta, especializado em ferramentas.

"Ele nunca foi devidamente avaliado. Nunca poderíamos entender isso", disse Robin Herd, um dos fundadores da March, numa entrevista em 2006 à Motorsport britânica.. "Acho que o snobismo estava envolvido; as pessoas o desprezaram porque ele era um mecânico [vindo] da Itália. Do meu ponto de vista, sua compreensão de um carro de corrida o tornou ótimo para aqueles com quem trabalhava. Ele foi um dos melhores pilotos de teste que já tivemos. É verdade que ele não tinha medo e às vezes corria muitos riscos em corrida, mas era um piloto muito bom. Tinha um controle de carro fantástico, devido ao seu desempenho [mais que provado] no piso molhado.", concluiu.

Chegou tarde ao automobilismo. Foi quatro classificado no campeonato da Formula 2 em 1972, com duas vitórias e mais dois pódios, mas aos 34 anos, pensavam que não teria tempo para fazer algo na Formula 1. Contudo, acabou por fazer sete temporadas, entre March, Surtees e Alfa Romeo, e como disse Herd, os seus desempenhos no molhado foram memoráveis. E o seu melhor ano, muitos acreditam, foi 1975, com o 751.

Era apenas um Formula 2 com DFV nas costas - mas era pequeno, leve, rápido em linha recta e bem equilibrado. Não tínhamos dinheiro para fazer isso durar a distância em ritmo de corrida completo; tinha apenas travões de Formula 2, por isso adorei a exuberância com que Vittorio atacava as primeiras voltas. Ele também era sensacional na qualificação.”, contou Herd.

Apesar dessas qualificações, a sua pole em Anderstorp foi polémica, pois na realidade foi Herd que "enganou" os cronometristas oficiais, mudando os sinais décimos antes de ele passar pela meta. Mas isso não queria dizer que ele era lento. Em Zeltweg, partia de oitavo na grelha.

A corrida tinha sido adiada por causa da chuva, mas quando largou, Brambilla ficou com o terceiro posto, atrás de Niki Lauda e James Hunt. A chuva era consistente, mas os carros eram navegáveis na pista. O piloto da Hesketh ficou na liderança na volta 15, e pouco depois, foi o piloto da March que era segundo, aproximando-se da liderança, pois ele tinha problemas de motor. Quando ambos chegaram ao carro do americano Brett Lunger, Hunt hesitou e o italiano aproveitou.

Depois, foi-se embora. Na volta 28, tinha 27 segundos de vantagem sobre o britânico, numa altura em que chovia fortemente e a organização decidiu parar a corrida, depois de pressões por parte da GPDA, desde Luca de Montezemolo a Bernie Ecclestone para fazer isso. Afinal de contas, tinha sido um fim de semana cheio de incidentes, o mais grave deles o March de Mark Donohue, na manhã da corrida, que viria a ser fatal.

Quando mostraram as bandeiras - não era essa a intenção, era apenas de parar a corrida - Brambilla fez a saudação que entrou na história. Despoistou-se e bateu, danificando o seu nariz. Ele ficou com ela e pendurou na sua garagem até morrer, a 26 de maio de 2001, num ataque cardíaco quando aparava a relva da sua casa em Monza.

Sem comentários: