quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

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Na semana de novo campeonato de ralis, e com a introdução de novas regras, com os Rally1, os primeiros carros híbridos nesta competição, recuo 35 anos no tempo, para novo rali de Monte Carlo, e com novas regras a estrearem-se, no rescaldo de um ano difícil para a competição. 

Com a então FISA a banir os Grupo B e decidir-se pelos Grupo A, mais sólidos, mas menos rápidos, marcas como a Peugeot decidiram retirar-se, enquanto a Audi fez uma participação pouco mais que simbólica com o modelo 200. Assim, os únicos que participaram de corpo e alma eram a Lancia, que sob o comando de Cesare Fiorio, arriscavam a dominar a competição. Especialmente com um "dream team" composto por Markku Alen, Juha Kankkunen, Bruno Saby, Massimo Biason, e ainda um conjunto "B", o Jolly Club, que tinha, entre outros, Alessandro Fiorio, filho de Cesare e competente na competição. 

Os únicos que tinham lido os regulamentos e apostaram nele tinham sido os japoneses. Toyota, Mazda e Nissan iriam meter os seus carros, mas demorariam para chegar. E tinham recrutado gente como Timo Salonen (Mazda) a Lars-Erik Torph (Toyota). A Ford também estava, com o seu Sierra Cosworth, guiados por Stig Blomqist, um regressado Ari Vatanen e um jovem francês chamado Didier Auriol, enquanto a Renault decidiu-se pelos 11 Turbo, guiado por Jean Ragnotti, relegando o 5 Turbo para os Grupo N, a nova divisão secundária do WRC, para carros com duas rodas motrizes. E ainda tínhamos a Volkswagen, com o Golf GTi, numa das suas raras incursões oficiais - a outra só aconteceria 25 anos depois, com o Polo WRC. E eram guiados pelo sueco Kenneth Eriksson e pelo alemão Erwin Weber.

Apesar disto, toda a gente sabia que a Lancia daria "calendários sobre a concorrência." E deu. Essencialmente, foi uma batalha fratricida entre Kankkunen e Biasion, e acabou com o italiano a triunfar porque o outro desistiu. Mas não era isso que Cesare Fiorio queria. 

Eu queria que a vitória fosse decidida de uma forma desportiva, mas também não queria que arriscassem a cada classificativa. Deu tudo errado”, admitiu Cesare Fiorio no final desse rali.

A ideia de Fiorio era que, quem triunfasse em Turini, subiria ao lugar mais alto do pódio em Monte Carlo. Mas com ambos a disputarem a liderança classificativa atrás de classificativa, para delírio dos fãs, Fiorio via uma guerra indesejável para as suas cores. Saby começou na frente, mas aos poucos, era Biasion a ditar as regras nas classificativas geladas dos Alpes franceses, depois de um susto, quando bateu no carro de um espectador numa ligação entre etapas, logo no primeiro dia.

Contudo, no segundo dia, Saby desistia, com problemas na transmissão, e Kankkunen, que ficava com a liderança, tinha problemas na sua caixa de velocidades, e tinha a pressão do seu turbo reduzida para 200 cavalos, no sentido de evitar que esta quebrasse de novo. Claro, em equipa italiana, com um piloto italiano, as suspeitas caíram logo em cima... 

No último dia, com a neve a fundir-se nas estradas, a escolha de pneus era fundamental. "KKK" errou a principio, mas retificou depois, recuperando o tempo perdido, ganhando no Col della Madonna. Mas em Turini, Biasion conseguiu triunfar com 17 segundos de diferença para o finlandês, campeão do mundo de 1986. Kankkunen não gostou, e nem sequer foi ao pódio saudar o público pelo seu segundo posto, com Walter Rohrl a ficar com o lugar mais baixo do pódio, num Audi 200.

E foi assim, há 35 anos, que começava a era dos Grupo A, e o domínio dos Lancia nos ralis, que duraria até 1992.  

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