quarta-feira, 24 de maio de 2023

A imagem do dia


No passado dia 21, passaram-se 45 anos sobre o dia em que o campeonato de 1978 tinha acabado. A favor da Lotus, graças aos seu modelo 79, praticamente, o triunfo do efeito-solo, um conceito que Colin Chapman tinha imaginado três anos antes, quando passava férias em Ibiza. Não era nada de totalmente novo - Tony Rudd tinha imaginado em 1969, quando estava na BRM, e chegou a projetar um carro, só que o seu piloto principal na altura, John Surtees, não aprovou a ideia. 

Mas o que pouca gente sabe é que foi ali, na pista de Zolder, que Gilles Villeneuve deu nas vistas. Quatro anos antes de ele ter o seu triste final, a pista belga foi ótima para ele porque foi ali que conseguiu os seus primeiros pontos. E conseguiu logo a tempo, porque o canadiano estava sob brasas porque ele era rápido, mas inconstante.

Gilles fora uma aposta pessoal de Enzo Ferrari. Depois da sua estreia pela McLaren, em Silverstone, onde impressionou muita gente, dado o seu "background" quase desconhecido - Formula Atlantic canadiana, e antes disso... snowmobilles - o Commendatore deu um teste em Maranello para ele. No final de 1977, quando Niki Lauda decidiu abandonar a equipa, rumando à Brabham a troco de - alegadamente - um milhão de dólares, o canadiano foi o seu sucessor natural. Mas logo na sua segunda corrida pela Ferrari, em Fuji, falhou a travagem e bateu na traseira do Tyrrell de Ronnie Peterson e voou para um grupo de espetadores, matando dois. 

No inicio de 1978, o canadiano marcou a volta mais rápida na Argentina, mas apenas acabou na oitava posição. E nas corridas seguintes, as coisas não correram bem. Em Jacarepaguá, por exemplo, bateu de novo em Peterson, agora na Lotus, quando discutiam uma posição nos pontos e o sueco chegou a afirmar que ele era um perigo na pista.

Mas o pior aconteceu em Long Beach. A Ferrari monopolizou a primeira fila, e na partida, o canadiano foi mais rápido que todos e ficou com a liderança. E à medida que as voltas passavam, ele se distanciava da concorrência, e parecia que guiava como se fosse um veterano. Contudo, na volta 38, quando dobrava o Shadow de Clay Regazzoni... sofreu um choque, que acabou com a sua corrida, e a paciência de alguns tiffosi também. Alguns até queriam que Ferrari colocasse um rapaz de 19 anos, de seu nome Elio de Angelis, que tinha testado com um carro, com resultados satisfatórios.

Mas o "vecchio" decidiu confiar no canadiano, porque sabia que o azar não dura para sempre. E na corrida belga, Gilles qualificou-se na quarta posição, e na partida, passou para segundo porque Reutemann partiu mal e conseguiu passar Ronnie Peterson, que ainda andava no 78. Andou na segunda posição, tentando perseguir quase inutilmente o carro de Mário Andretti, porque o carro era bem superior, graças ao feito-solo que aquele carro tinha conseguido dominar. Contudo, na volta 40, ele sofreu um furo e teve de ir às boxes, caindo para a quinta posição.  

Gilles tentou apanhá-los, mas na altura, Peterson, que também tinha ido às boxes para trocar de pneus, foi bem mais rápido que o canadiano, e na frente Reutemann lutou com o Ligier de Jacques Laffite para o segundo posto, que se resolveu a duas voltas do fim quando o francês sofreu um acidente. Apesar de tudo, acabou na quinta posição, atrás de Gilles, que conseguia assim os seus primeiros pontos na Formula 1. Iria conseguir mais, mas iria ser um processo de aprendizagem duro. Mas acabaria por ser recompensador, com a aposta do Commendatore a ser bem sucedida.  

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