Contudo, nem todos conseguiram fazer das fraquezas, forças. E o caso de Ettore Bugatti pode ser visto como o desaparecimento do herdeiro acabou por precipitar o final de uma marca que prosperou nos anos 20 e 30 do século passado. E para piorar as coisas, as circunstâncias da sua morte, aliadas à iminência de uma guerra, trouxeram uma carga dramática.
Ettore Bugatti, nascido a 15 de setembro de 1881, em Milão, emigrou cedo para a França, a convite do Barão Adrien de Turckheim, que detinha duas fábricas pertencentes à Lorraine-Dietrich. Estas fábricas estavam em... dois países, uma em França, outra na Alemanha. Com conhecimentos de engenharia, além do gosto pelo belo - o pai e um dos irmãos eram escultores - construiu uma fábrica com o seu nome em 1909, em Molsheim, na Alsácia. Construiu motores de aviões na I Guerra Mundial e depois, passou aos automóveis, onde fez toda a sua fama e fortuna.
No final dos anos 30, a Bugatti tinha apostado na Endurance, construindo o Type 57G Tank, ganhando as 24 Horas de Le Mans de 1937 e de 1939, às mãos de gente como Jean-Pierre Wimille, Pierre Veyron e Robert Benoist. Atrás deste sucesso estava um jovem de 30 anos, Jean Bugatti, filho de Ettore. Engenheiro, desenhador e principalmente, testador, tinha desenhado e construído modelos como o Type 41 e o Type 57, este último o vencedor das corridas de Le Mans.
No verão de 1939, Bugatti sentia os ventos da guerra. Projetavam-se maquinas para o futuro, como o Bugatti 100P, um avião de maalite - um compósito de madeira, usado em iates - mas o facto da fábrica se situar perto da fronteira franco-alemã, em terras reclamadas pelos alemães - não os deixavam quietos. Ettore pensava em construir uma fábrica em Levallois, nos subúrbios de Paris, para evitar isso, e confiava nos atributos de Jean, o mais talentoso dos seus filhos - tinha quatro, e iria ter mais dois da sua segunda mulher.
A 11 de agosto de 1939, Jean, então com 30 anos, saiu à estrada nos arredores da fábrica, perto de Duppigheim, na Alsácia. Conduzia um Type 57 que tinha sido usado nas 24 Horas de Le Mans, e andava a cerca de 150 km/hora quando viu de repente um ciclista na estrada. Desviando-se para não o atropelar, perdeu o controlo do carro e bateu contra uma árvore, matando Jean.
Um acidente destes, a tão pouco tempo de uma guerra que todos sabiam poder afetar a marca, acabou por ser decisivo para a sorte da fábrica. O projeto do avião acabou por ser guardado, as corridas automobilísticas acabaram por ser interrompidas, e no ano seguinte os nazis invadiram a França. A fábrica foi requisitada para o esforço de guerra, e quando esta acabou, o novo governo nacionalizou-o, desconfiando das suas origens italianas - curiosamente, os seus pilotos, Wimille, Benoist e Veyron, participaram na Resistência.
Bugatti morreu em 1947, devido a um acidente vascular cerebral, e mesmo com a intervenção de Roland, o filho mais novo, que nos anos 50, tentou colocar a sua marca na Formula 1, a marca deixou de fabricar automóveis em 1962, quando foi comprado pela Hispano-Suiza, retomando a produção trinta anos depois, em 1991, com o EB110.
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