Durante a ascensão do Partido Nazi, foram criados diversos corpos paramilitares, e o mais pequeno deles era chamado de NSKK, o "Nationalsozialistisches Kraftfahrkorps". Essencialmente, o corpo automóvel. Eram eles que tomavam conta de coisas como o parque automóvel do partido, para além treinar os seus membros na manutenção de automóveis e camiões, especialmente para o esforço de guerra.
Fundado em 1931 por Adolf Hühnlein, o NSKK foi o mais pequeno desses corpos militares, chegando até a serem construídas secções noutros países como a França, durante a Ocupação. E como seria evidente, durante estes tempos sombrios, todos os pilotos das equipas de corridas, como a Auto Union e a Mercedes, faziam parte do NSKK. Mas houve um que... não achava muita piada. Era Rudi Caracciola.
Nascido em 1901, ele começou a trabalhar para a Daimler em 1923, como vendedor. Tinha jeito para o volante, especialmente depois de ter ganho o GP da Alemanha de 1926, em AVUS-Berlin, debaixo de muita chuva. Ganhando a reputação de "regenmeister", o rei da chuva, nos anos seguintes, passou a ser um dos melhores pilotos da Alemanha, sempre fiel à Mercedes.
Um dia, em 1931, a Mercedes pediu a Caracciola para entregar a Munique um modelo 770KK, de cor preta, a, nada mais, nada menos, que Adolf Hitler. Nesse dia deu uma volta com a sua sobrinha Geili Raubal - iria matar-se meses depois, com fortes suspeitas de uma relação incestuosa com ela - e Caracciola afirmou que ele o achou... aborrecido. Curiosamente, apesar de adorar automóveis e Mercedes em particular, Hitler... nunca guiou um automóvel na sua vida!
Com a chegada de Hitler ao poder, deu um milhão de Reichmarks por ano quer à Auto Union, quer à Mercedes, que com isso, dominaram o automobilismo europeu e mundial. Caracciola ganhou três campeonatos europeus e tewe como maior rival o seu compatriota Bernd Rosemeyer. E estava no local, em Nuremberg, a 28 de janeiro de 1938, quando Rosemeyer sofreu o seu acidente fatal.
No meio disto tudo, participava nas reuniões da NSKK, mas apesar de ser respeitado pela hierarquia, achou que todas aquelas apresentações eram vazias e era usado como se um adereço fosse. E não acreditava em Hitler, ao ponto de quando foi convidado para participar num evento do NSKK em 1942, recusou, alegando estar a recuperar de uma operação à perna, por causa de uma das suas antigas lesões.
Anos depois, na sua autobiografia, declarou: "Não podia imaginar que este homem teria os requisitos para assumir algum dia o governo [da Alemanha]". E ele nunca foi membro do partido nazi.
Quando a guerra rebentou. Caracciola, então com 38 anos, decidiu ir para Lugano, na Suíça, onde tinha uma casa desde há muito, e tentou ficar com alguns dos carros que tinha corrido na sua carreira. Continuava a ser empregado da Mercedes, cujo salário era pago em francos suíços. Apesar disso, o governo tentou que a Mercedes parasse com os pagamentos a ele, o que só fez em 1942. Os seus carros foram confiscados pelo governo suíço no inicio de 1945, por serem considerados produtos de um governo hostil, apesar da sua neutralidade.
Acabada a guerra, o regime nazi foi derrubado, e o NSKK desmantelado. Os pilotos que participaram nela não foram afetados por isso, mas por exemplo, Caracciola, não tinha muito dinheiro para complementar na velhice. Ainda por cima, a própria Mercedes estava devastada pelos bombardeamentos a Estugarda por parte dos Aliados.
Nessa situação, aos 44 anos, Caracciola resolveu retomar a competição, ainda a sofrer com as antigas feridas. E ainda iria sofrer mais dois grandes acidentes, em 1946 e 1952, que praticamente acabaram com a sua carreira e acelerou o seu fim, morrendo com uma cirrose em setembro de 1959, aos 58 anos, na sua casa de Kassel, na Alemanha Ocidental.
Depois da sua morte, Alfred Neubauer, seu diretor desportivo na Mercedes, disse:
"[Caracciola foi] o maior piloto dos anos vinte e trinta, talvez até de todos os tempos. Aliou, de forma extraordinária, a determinação à concentração, a força física à inteligência. Caracciola era inigualável na sua capacidade de superar as dificuldades."
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