quinta-feira, 22 de maio de 2025

A imagem do dia


Os restos do Lancia de Alberto Ascari a serem içados da água da baía de Monte Carlo, horas depois da corrida que acabou com a vitória de Maurice Trintignant, a bordo do seu Ferrari. 

Ao contrário que muitos pensam, apesar do GP do Mónaco ter feito parte do calendário da primeira temporada da Formula 1, não participou nos anos seguintes. Até 1954, a corrida foi de Sportscars, mas em 1955, decidiu regressar, para ser a segunda corrida da temporada, cinco meses depois da corrida de Buenos Aires, que entrou na história como sendo uma das mais quentes de sempre, com os pilotos a aguentarem o calor por três horas. 

Pequeno e estreito, a Formula 1 regressava com os Mercedes a dominarem a competição, e o seu maior rival nem era a Maserati, nem sequer a Ferrari, mas sim... a Lancia. Então liderado pelo jovem Gianni Lancia, filho de Vincenzo Lancia o fundador e ex-piloto de automóveis do inicio do século, tinha um projeto ambicioso, primeiro com o D24, onde através de pilotos como Juan Manuel Fangio, Alberto Ascari e Piero Taruffi, ganhou a Targa Florio e as Mille Miglia de 1954, este último com Ascari ao volante. No inicio desse ano, no Rali de Monte Carlo, outro Lancia, um Aurelia V6, subia ao lugar mais alto do pódio nas mãos de Louis Chiron

Ao mesmo tempo que isto acontecia, Lancia Jr. contratou Vittorio Jano para desenhar carros de competição e em conjunto com Ettore Zaccone Mina, desenham um motor de 6 cilindros para colocar no modelo Aurelia de estrada, sendo o primeiro V6 do mundo a ser instalado em um modelo de produção.

Com esses sucessos todos, os olhos viraram-se para a Formula 1, do qual decidiram atacar com o D50, desenhado por Jano, e do qual atraiu Ascari, o veterano Luigi Villoresi e outro jovem piloto promissor, Eugenio Castelloti. Com um motor de 8 cilindros, de 2,5 litros, aberto a 90 graus, muito compacto e leve, tinha também a particularidade de ter os depósitos de gasolina nas laterais. Em suma, todo o conjunto era muito equilibrado e manobrável em relação à concorrência. E até era mais leve: 640 quilos, contra os 650 dos Ferrari e os 690 dos Mercedes. 

Os testes começaram em fevereiro de 1954, e existiam muitas expectativas quando o carro se estreou mais para o final do ano, no GP de Espanha de 1954, a última prova da temporada, em Barcelona. Ascari dominou a corrida ate ter problemas na embraiagem e desistindo no final da nona volta. 

Em Buenos Aires, nenhum dos três pilotos chegou ao fim, vencidos pelo calor e cansaço do verão austral, mas tiveram tempo para melhorar o carro para a prova seguinte, onde inscreveram quatro carros: um para Ascari (que ficou com o número 26), outro para Villoresi, em terceiro para Castelloti e o quarto para o veteraníssimo (55 anos na altura!) Chiron. Eles esperavam que o tempo e os testes fossem suficientes para melhorar a fiabilidade do carro, que sofria com os típicos problemas de juventude. Afinal de contas, era apenas a sua terceira corrida oficial na Formula 1. 

Ascari vinha com a mortal em alta: tinha ganho corridas em Turim e Nápoles, corridas extracampeonato, e na qualificação, conseguiu o segundo melhor tempo. Castelotti foi quarto, Villoresi sétimo, e Chiron apenas 19º na grelha. E melhor que tudo: a dominadora Mercedes tinha problemas. Apesar de Fangio e Moss terem sido primeiro e terceiro na grelha, a qualificação tinha sido marcada pelo acidente do alemão Hans Hermann, que ficou lesionado e não pode alinhar na corrida, sendo substituído pelo francês André Simon.

Fangio liderou nas primeiras 50 voltas da corrida - nesse ano, ela tinha cem voltas! - antes de ter problemas de transmissão e abandonar. Moss ficou com o lugar, perseguido por Ascari, mas os carros alemães levavam a melhor, especialmente Moss, que dava-se muito bem no Principado - iria ganhar em 1960 e 1961, num Lotus - e afastava-se do Lancia do italiano, quando na volta 80, o motor explodiu à saída do túnel, e deixa uma mancha de óleo na pista. E isso irá influenciar na cena a seguir. 

Ascari soube que era o novo líder, mas não teve tempo de saborear. Quase a seguir, o seu Lancia passou no óleo do Mercedes, despistou-se na saída da chicane à saída do túnel, embateu nas barreiras e caiu nas águas do Mediterrâneo. No embate com a água, ele fraturou o nariz no volante, mas conseguiu nadar para terra, para alívio de toda a gente, que declarou ser um milagre. 

Nem tudo foi mal para a Lancia: Villoresi foi segundo, Castelloti quatro, Chiron sexto. Mas quatro dias depois, a 26 de maio, o alívio iria ser substituído pelo choque, em Monza. Mas isso fica para outra ocasião.    

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