Claro, se aqui, no dia seguinte, se comemorava o pódio do Tiago Monteiro - um pódio era um pódio, não interessava quantos é que tinham chegado ao fim - no resto do mundo, escrevia-se coisas como "Farsa", "Indygate" ou "Formula Zero". Tenho em casa o jornal "A Bola" do dia seguinte, com eles a comemorarem o inédito pódio, para recordar o que tinha sido aquele final de semana.
A curva 13 é a Curva 1 usado pela IndyCar, lugar onde houve alguns acidentes fatais no passado. Como ambos os acidentes do Ralf Schumacher tinham acontecido no mesmo local, e com os mesmos pneus, os responsáveis da Michelin ficaram preocupados, pois viram que a pressão dos pneus no "banking" dessa curva é superior ao normal. Logo, pediram um novo conjunto de pneus à sede, em Clermont-Ferrand, que verificaram não serem adequados a aquele piso.
Sendo assim, pediram aos responsáveis da FIA se poderiam colocar uma chicane provisória na Curva 13, no sentido de diminuir a velocidade de ponta dos carros, no sentido de minimizar o perigo de novos acidentes. A FIA recusou, afirmando que qualquer alteração no traçado à ultima da hora implicaria que a prova não contasse para o campeonato.
Isso era preocupante, porque a Michelin não queria arriscar a segurança dos pilotos, e a solução mais radical era de não correr, por achar não ter condições. À medida que se aproximava da hora da corrida, a tensão entre a Michelin e a FIA aumentava. As negociações continuavam, mas não se chegava a um acordo. E a ameaça da corrida ter apenas seis carros (os únicos equipados com pneus Bridgestone) era real.
Houve várias tentativas de compromisso, e mesmo as equipas com pneus Bridgestone (Jordan e Minardi) concordaram com a instalação de uma chicane provisória na Curva 13, mas a FIA estava irredutível: a corrida era para se fazer, e se fosse com seis carros, eles fariam a responsabilizariam a Michelin pelo sucedido. Sendo assim, a marca francesa cumpriu a ameaça: não iria correr o GP americano.
Na hora da corrida, todos os carros ficaram alinhados para para a volta de aquecimento. Aparentemente, pensava-se que a ameaça não iria ser cumprida. Mas quando, no final da volta de aquecimento, todos os carros com pneus Michelin recolheram às boxes, para não voltarem, esta cumpriu-se: somente os Ferrari, Minardi e Jordan estavam na grelha, perante a estupefação dos que estavam na pista e quem assistia em casa.
A corrida seguiu, e não teve história para se contar: Michael Schumacher ganhou a sua unica corrida daquele ano, liderando do principio ao fim, Rubens Barrichello foi segundo e Tiago Monteiro conseguiu o seu único pódio da sua carreira na Formula 1, conseguindo ficar na frente do indiano Narain Kathikeyan. Esta foi a última vez que um Jordan foi a um pódio.
Quando as várias cadeias televisivas viram que a ameaça da Michelin foi por diante, decidiram pura e simplesmente não transmitir a corrida. A Rede Globo só transmitiu em parte, promovendo o futebol, a TSN canadiana pura e simplesmente recusou a transmissão. Outros canais transmitiram a corrida na íntegra, como a britânica ITV ou a italiana RAI Uno, mas as críticas fizeram-se sentir ao longo das suas transmissões, pelos comentadores, muitas vezes antigos pilotos.
Os espectadores que pagaram centenas de dólares para assistir a corrida sentiram-se enganados e exigiram o dinheiro de volta. Mais tarde, a Michelin decidiu que iria compensar todo e qualquer espectador que exigisse o dinheiro de volta, dando em troca um ingresso para o Grande Prémio do ano seguinte. Vinte mil pessoas aceitaram a proposta.
Chegou-se a especular que Tony George, o proprietário de Indianápolis, iria rescindir imediatamente o contrato com a FIA e Bernie Ecclestone. Mas tal não aconteceu. Simplesmente, deixou que o contrato chegasse ao fim, em 2007, e não o renovou.
A Michelin também teve a mesma atitude: no final de 2006, anunciou que se iria retirar da competição. E até agora, não regressou.
Uma curiosidade final: uma semana mais tarde, os organizadores do GP de Cleveland, da então ChampCar, ofereceram entradas livres a todos os espectadores que tinham ido a Indianápolis ver a corrida, desde que mostrassem o bilhete. Pelo menos cinco mil pessoas compareceram.
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