sábado, 29 de dezembro de 2007

O piloto do dia - Bertrand Gachot

Olhando para o calendário, reparo que por estes dias comemorou-se o aniversário de uma presonaem interessante da Formula 1 do inicio dos anos 90, em que a sua carreira foi afectada por um incidente de trânsito em Londres, que levou à sua prisão. E quando isso aconteceu, estava numa equipa estreante, que para o substituir, contratou à pressa um jovem alemão, campeão de Formula 3 no seu país, chamado... Michael Schumacher! Hoje falo de Bretrand Gachot, que fez no passado dia 23 de Dezembro, 45 anos de idade.

Mas hoje, quem escreve esta história não sou eu. Antes, coloco aqui a excelente biografia, escrita nesse dia 23 pelo brasileiro João Carlos Viana no seu blog JCSpeedway, sobre o piloto belga (ou francês, ou luxemburguês...), como forma de vocês conhecerem não só a sua escrita, bem como o seu blog. Aqui vai:


Tento imaginar o que pensa Bertrand Gachot quando ele vai dormir a noite, após ficar analisando sua carreira no automobilismo. Após uma carreira prodigiosa nas categorias de base, Gachot sofreu o pão que o diabo amassou na F1, mas quando finalmente estava mostrando o seu valor na categoria, Gachot foi preso e cedeu o seu lugar na emergente equipe Jordan para um desconhecido alemão chamado Michael Schumacher. Então, mesmo não fazendo grande coisa na carreira, Gachot entrou para a história do automobilismo ao ser substituído pelo piloto que conquistou todos os recordes possíveis na história da F1. Ou seja, o ponto alto da carreira de Gachot na F1 foi exatamente a maior besteira de sua vida. Completando hoje 45 anos de idade, vamos conhecer um pouco da história desse piloto belga. Ou francês? Ou de Luxemburgo?



Bertrand Jean Gachot nasceu no dia 23 de dezembro de 1962 em Luxemburgo. Filho de um comissário francês, Gachot poderia escolher sua nacionalidade, mas Gachot acabou escolhendo ser belga, talvez pela proximidade com o pequeno país. Gachot começou sua carreira no automobilismo no kart aos 15 anos de idade. Mesmo não sendo francês (pelo menos em teoria), Gachot seguiu o caminho que a maioria dos pilotos franceses dos anos 70 e 80 faziam, entrando para a famosa escola de pilotagem Winfield School em 1983 para poder participar do já famoso Volante Elf, mas Gachot acabou derrotado no final por Eric Bernard na edição de 1983. Mesmo com essa decepção, Gachot pressentia que tinha talento e resolveu abandonar a faculdade e em 1984 ele se mudou para a Inglaterra, meca das categoria menores na época, para disputar a primeirrisima categoria de base na ilha da Rainha, a F-Ford 1600. Logo de cara, Gachot mostrou seu talento ao terminar o Festival de F-Ford em terceiro lugar, chamando a atenção dos chefes de equipe ingleses.



Em 1985 Gachot foi contratado por Keith Wiggins para disputar o Campeonato inglês de F-Ford 1600 naquele ano pela equipe Pacific. Essa combinação garantiu não apenas o título de F-Ford 1600 em 1985, como também o campeonato inglês de F-Ford 2000 no ano seguinte. Seguindo o caminho natural dos jovens pilotos da época, Gachot se transferiu para a F3 Inglesa em 1987 e com dois títulos no bolso, o belga foi contratado pela equipe West Surrey, a melhor da Inglaterra. E logo no seu primeiro ano Gachot conseguiu o vice-campeonato, sendo superado no final do ano por Johnny Herbert. Após três ótimas temporadas na Inglaterra, Gachot deu outro passo na sua carreira e partiu para a F3000 em 1988 pela equipe Spirit. Mesmo numa equipe sem um grande orçamento, Gachot terminou o ano num bom quinto lugar com dois segundos lugares em Vallelunga e Silverstone. No final desse ano, Gachot entrou em contato com o milionário belga Jean-Pierre Van Rossen, que pretendia formar uma equipe de F1 em 1989.



A Onyx era uma equipe com bastante sucesso na F3000 e eventualmente participou de algumas corridas de F1 no começo dos anos 80 com o espanhol Emilio de Villota. Com o dinheiro de Van Rossen e o patrocínio particular de Gachot, a Marlboro, a equipe pôde participar pela primeira vez de um campeonato completo da F1. Gachot teria ao seu lado o experiente Stefan Johansson em sua estréia na categoria máxima do automobilismo, mas ficou logo claro que a equipe não tinha condições de dar dois bons carros para seus pilotos. O carro da Onyx não era de todo ruim, com Johansson subindo ao pódio no Grande Prêmio de Portugal, mas quando a equipe acertava (e nem sempre acertava...) o melhor carro normalmente ficava com o sueco, com Gachot ficando apenas com as migalhas. O belga ficou várias vezes de fora das Classificações por falta de desempenho, tanto que sua primeira corrida na F1 foi apenas no Grande Prêmio da França, já na metade da temporada, com o belga conseguindo um ótimo décimo primeiro lugar no grid, à frente de Johansson, e completou a prova em décimo terceiro.



Gachot estava claramente descontente com sua situação dentro da Onyx e falou mal de sua equipe para a imprensa belga, causando um grande constrangimento com seu chefe de equipe Van Rossen, causando a demissão de Gachot antes do final da temporada. Mesmo com uma temporada horrível, Gachot tinha prestígio o suficiente para conseguir outra vaga na F1. Só que foi numa vaga ainda pior do que a anterior. Em 1990 a Subaru tentou uma excursão na F1 ao fornecer seus motores para a pequena equipe Coloni. Gachot seria o único piloto da equipe, mas a combinação de uma equipe nanica com uma empresa sem nenhuma experiência na F1 resultou num grande fracasso, com Gachot ficando de fora de todos os Grandes Prêmios de 1990. O piloto promissor da metade dos anos 80 estava ficando para trás e depois de dois anos muito ruins, Gachot teria que acertar desta vez se ele quisesse colocar seu nome na F1.



Eddie Jordan tinha uma equipe de sucesso na F3000 e resolveu entrar na F1 em 1991 com apoio de vários patrocinadores de prestígio. Gachot viu uma boa oportunidade surgindo em sua carreira e se uniu ao desastrado Andrea de Cesaris na nova equipe Jordan. Ao contrário da então novata Onyx, a novata Jordan era bem mais organizada, tinha mais suporte e, principalmente, um bom carro, projetado por Gary Anderson. Porém, durante o inverno 90-91, Gachot se envolveu num acidente de trânsito em Londres, cidade onde morava desde 1984. O taxista Eric Court e Bertrand Gachot não resolveram suas diferenças apenas com palavras e partiram para a briga, mas o belga tinha um às na manga. Quer dizer, uma lata de gás de pimenta no bolso. Mesmo morando a tanto tempo na Inglaterra, Gachot não sabia que esse gás era proibido na ilha e simplesmente borrifou o spray nos olhos do taxista. Lógico que isso não acabaria bem, com Gachot sendo notificado pela polícia inglesa e foi processado por Court, com o julgamento sendo realizado mais tarde.



Voltando às pistas, Gachot finalmente tinha um carro decente nas mãos e os bons resultados não tardaram a aparecer. Durante o Grande Prêmio do Canadá, Gachot conseguiu seus primeiros pontos na F1 com um quinto lugar no circuito Gilles Villeneuve em Montreal, logo atrás do seu companheiro de equipe De Cesaris. Porém, o ponto alto da carreira de Gachot viria no outro lado do Atlântico. A Mazda participava do Mundial de Esporte-Protótipos com um carro empurrado por um motor rotativo. O carro estava longe de ser um dos melhores da categoria na época, mas nas 24 Horas de Le Mans de 1991 o carro superou todas essas adversidades e venceu a corrida com Gachot ao volante, ao lado de Johnny Herbert e Volker Weidler. De volta à F1, Gachot estava fazendo a melhor temporada de sua carreira, com direito a mais alguns pontinhos e uma surpreendente melhor volta durante o Grande Prêmio da Hungria, com direito a quebra de recorde do circuito de Hungaroring.



Duas semanas após a corrida magiar, a F1 aportaria em Spa-Francorchamps e Gachot estava animadíssimo para correr na frente dos seus fãs numa boa tão boa. Contudo, tudo o que Gachot tinha construído até aquele momento foi destruído quando foi julgado culpado por usar, de forma ilegal, spray de pimenta em sua briga de trânsito em Londres meses atrás. A F1 ficou em choque com Gachot sendo mandado para uma prisão inglesa bem no auge de sua carreira. Seus compatriotas Thierry Boutsen e Eric van de Poele fizeram uma manifestação em frente ao consulado britânico em Bruxelas pedindo a libertação do colega. Mas ele não seria libertado até outubro. Quando a F1 chegou à Spa, vários torcedores belgas vestiam uma camisa pedindo a soltura de Gachot. Com seu piloto na prisão, Eddie Jordan não hesitou em procurar um novo piloto. Um empresário alemão chamado Willi Weber foi conversar com Jordan a respeito de um jovem piloto alemão que estava na época correndo no Mundial de Esporte-Protótipo pela equipe Mercedes. Weber convenceu Jordan a negociar com a Mercedes e a montadora alemã concordou em liberar 300.000 dólares para comprar um cockpit para o seu protegido, ao menos para o GP da Bélgica. Tudo o que se sabia sobre esse rapaz era que ele tinha vencido o campeonato alemão de F3 e derrotado a vedeta da época, Mika Hakkinen, no GP de Macau em 1990. O nome desse então desconhecido era Michael Schumacher.



Enquanto Gachot estava na prisão, Schumacher fazia uma rápida exibição de gala em Spa, pista que ele não conhecia (apesar de dizer à Jordan que conhecia...), e colocava seu nome na F1. O que Schumacher tinha feito durante o final de semana belga chamou muito mais atenção do que Gachot tinha feito em todo o primeiro semestre. Com isso a carreira de Gachot entrou em parafuso e dá para dizer que o belga foi a primeira vítima, mesmo que involuntária, de Schumacher na F1.




Quando foi solto, Gachot se achou desempregado, pois a Jordan já tinha dado seu segundo cockpit para a nova sensação italiana da época Alessandro Zanardi. Schumacher já tinha feito sua segunda vítima em Roberto Moreno, o substituindo na Benetton. Quando Eric Bernard quebrou a perna no treino livre do Grande Prêmio do Japão, Gachot foi chamado Lola para substituí-lo durante o Grande Prêmio da Austrália, mas Gachot não conseguiu classificar o carro. Mas conseguiu emprego para 1992, sendo contratado pela equipe para ser piloto titular durante o ano. A equipe, que mudara de nome para Venturi, era muito fraca, mas ainda assim Gachot conseguiu marcar seu último ponto na F1 no Grande Prêmio de Mônaco, com um sexto lugar.


No final do ano Gachot foi dispensado da equipe Venturi e se tornou um cigano das pistas, correndo aonde era chamado. Em 1993 ele fez uma única participação na então forte F-Indy, durante o Grande Prêmio de Toronto pela equipe de Dick Simon, conseguindo um ponto pela décima segunda posição na corrida canadense. Ainda pensando na F1, Gachot se juntou ao seu antigo chefe de equipe na F-Ford Keith Wiggins e juntos trouxeram a equipe Pacific para a F1. Fazendo um dublê de piloto e dono de equipe (talvez o último da história da categoria), Gachot não terminou uma única corrida em 1994, sendo que ele conseguiu tempo para largar apenas cinco vezes. No final de 1995 a equipe Pacific de F1 fechou suas portas e Gachot terminou sua participação na categoria com um bom oitavo lugar no Grande Prêmio da Austrália.



Foram 47 Grandes Prêmios, cinco pontos e uma volta mais rápida.



A última aparição de Gachot nas pistas foi no ano seguinte, quando ele tentou levar a empresa coreana Ssangyoung à Le Mans, mas o projeto acabou não dando certo e Gachot encerrou sua carreira definitivamente com apenas 34 anos de idade. Hoje, Bertrand Gachot mora na Espanha onde é um empresário com relativo sucesso.


A carreira de Gachot terminou justamente quando se iniciava a carreira do piloto mais arrasador da história da F1. O que Gachot fez numa discussão besta de trânsito mostra que um ato irresponsável pode ter implicações muito desagradáveis no futuro e pode até mesmo mudar a história de todo um esporte. Se não fosse Gachot, como seria a carreira o começo de carreira de Schumacher? Só Deus sabe!

4 comentários:

Anónimo disse...

Que azar dele,se não fosse ele, obviamente o schumacher ia para a F1,mas cedo ou mais tarde,mas foi uma oportunidade unica para schumacher,nunca se saberia as dificuldades que o schumacher ia enfrentar.E a história do Gachot é uma história de vida.

Abraços,Lucas Sena

Anónimo disse...

Speeder,

Pela primeira vez vejo um ótimo resumo sobre a carreira de Gachot. Quando falamos em seu nome, automaticamente vem à mente Michael Schumacher.

Um abraço e Feliz 2008.

João Carlos Viana disse...

Obrigado por colocar meu texto no seu tão conceituado blog e queria aproveitar para te desejar um Feliz 2008 e também para sua família!
Abraços!

Anónimo disse...

Há alguma figura do Bertrand Gachot do Grand Prêmio da Australia em 1991 pela Larrousse F1 ?