sexta-feira, 18 de abril de 2008

The End - CART (1979-2008)

Como sabem, a ChampCar vai ter o seu fim neste fim de semana, nas ruas de Long Beach. Ao fim de 29 épocas ao mais alto nível, a fusão entre a CART e a IRL, de Tony George, fez com que este ano assistamos a algumas "aberrações", como esta, em que os pilotos da ex-IRL estão na oval de Motegi, no Japão, a disputar uma corrida no Sábado, enquanto que no dia seguinte, os ex-CART disputam a sua corrida de despedida nas ruas da cidade californiana.


Para alguns, a categoria significa muito. Bruno Junqueira, que correu sete temporadas na CART, estava emocionado com o momento: "Vivi muito tempo nessa comunidade que aprendi a chamar de família e, assim, não poderia deixar de me emocionar nessa despedida. Queremos todos sair daqui vencedores", disse ao site Grande Prémio.


Há campeonatos na América desde o inicio do século. As 500 Milhas de Indianápolis, quase centenárias (a primeira edição é de 1911) foram desde cedo um dos faróis do automobilismo americano. Mas a CART é o resultado da vontade de um conjunto de equipas, lideradas pela Eagle, de Dan Gurney, que descontentes com a maneira como a USAC geria os dinheiros da competição, resolveram criar uma série própria a partir da temporada de 1979. CART é a sigla para Championship Auto Racing Teams.


Nesse campeonato, os grandes senhores da época passaram a disputar os títulos da prestigiosa série. Nomes como Al Unser, Rick Mears, Gordon Johncock, Bobby Unser, A.J. Foyt, Johnny Rutheford, entre outros, disputavam o título mais prestigioso da América. A NASCAR, na altura, era uma série muito limitada ao Sul americano, terra dos "Rednecks" e dos "Rebels", um resquício da divisão Norte-Sul que sempre existiu desde os tempos da Guerra Civil Americana.


A série cresceu, e passou a ter mais nomes famosos: Mario Andretti e Michael Andretti, Bobby Rahal, Danny Sullivan, Al Unser Jr. fizeram com que a série crescesse em termos de pilotos e prestígio, centrados, claro, nas 500 Milhas de Indianápolis. A série começou a atrair estrangeiros como o colombiano Roberto Guerrero, o italiano Teo Fabi e o irlandês Derek Daly, todos com passagens pela Formula 1.



O auge foi a partir dos fins dos anos 80, inicio dos anos 90. Penske, Newman-Haas, Forsthye, Rahal-Hogan, Chip Ganassi, Patrick Racing, já eram nomes establecidos no campeonato. Em 1989, Emerson Fittipaldi vive uma segunda juventude e ganha as 500 Milhas de Indianápolis e o campeonato. E em 1993, a CART dá o grande golpe ao contratar Nigel Mansell. O campeonato americano torna-se num campeonato mundial. Já começam as provas no exterior (Surfers Paradise, na Austrália), e novos talentos apareciam, como os canadianos Paul Tracy, Jacques Villeneuve e Greg Moore (desaparecido tragicamente em 1999, na super-oval de Fontana), e a invasão de brasileiros como Christian Fittipaldi, Roberto Moreno e André Ribeiro.

Contudo, no final de 1995, Tony George decide retirar as 500 Milhas de Indianápolis do calendário, devido a questões de dinheiro e ao facto da série ficar cada vez menos "americanizada", criando uma série paralela, julgava-se que a CART sobreviveria com esta divisão. E até 2000, foi assim. Os melhores carros, provas e pilotos como Alex Zanardi (com aquela ultrapassagem do outro mundo a Bryan Herta), Mauricio Gugelmin, Jimmy Vasser, Patrick Carpentier, Alex Tagliani, Gil de Ferran, Adrian Fernandez, entre outros, estavam na série. Mas o prestígio das 500 Milhas ainda estava lá, e alguns decidiram "dar o salto". Para além disso, a NASCAR, bem organizada pela familia France (que construiu a pista de Daytona), agregava cada vez mais adeptos, descontentes com a divisão nas "open wheels".

Para piorar as coisas, Andrew Craig, o homem que controlava a série, sai em 2000, e as tabaqueiras, que tal como na Europa, eram os maiores financiadores das equipas, foram confrontadas com uma lei nacional que regulamentava os patrocinios, onde poderiam somente escolher uma categoria para patrocinar. E muitas escolheram a IRL, devido ao "farol" chamado Indianápolis.

No final de 2002, a CART era uma pálida sombra do que era, e no inicio de 2003 declarou falência. Tony George disputou os restos com Kevin Khalkoven, dono da Open Wheels Racing Series. O juíz de falências decidiu-se por Khalkoven, que aguentou a série por mais cinco temporadas, onde o grande dominador se chamou Sebastien Bourdais, e onde Tiago Monteiro teve lá uma discreta presença, em 2003.

Nessa altura, parecia que a CART iria sobreviver. Tinham um chassis novo, o Panoz, novas equipas, e uma expansão para fora dos Estados Unidos (Europa, Canadá e México), enquanto que a IRL se debatia com menos carros e provas. Mas a IRL tinha as 500 Milhas e as ovais. A CART não tinha nehuma. E para piorar as coisas, a NASCAR crescia como nunca, e atraia os pilotos quer da CART, quer da IRL. Dario Franchitti, Juan Pablo Montoya, Jacques Villeneuve, Tony Stewart, entre outros, perferiram a NASCAR.

E no inicio de 2008, o começo do fim: Tony George ofereceu 1,2 milhões de dólares a cada uma das equipas da Champ Car, além de motores da Honda e chassis Dallara de graça, como era feito com todas as outras equipas queestavam na IRL. Também adicionaria algumas provas do calendário da Champ Car, como Long Beach e Edmonton. De inicio, Khalkhoven disse não, mas pouco mais de um mês depois, as negociações avançaram e a "unificação" aconteceu. Ponho unificação entre aspas, porque o que aconteceu não foi mais do que absorção...

Resultado: um calendário estranho, com provas a decorrerem em simultâneo no mesmo fim de semana. Mas este Domingo, uma era chega ao fim, não tenham dúvidas. Resta saber se veio a tempo da salvação...

ChampCar, may you rest in peace.

2 comentários:

Anónimo disse...

É com muita tristeza que observamos uma categoria que quando tinha sua própria identidade e menos amadorismo, chegou a rivalizar com a Fórmula 1, terminar quase esquecida pela grande mídia e por uma grande parcela de torcedores que não suportaram acompanhar a súbita decadência da Indy (Champ Car) até o fim.

Não nos parecer ser Tony George o homem capaz de dar novos horizontes ao que resto da antiga série.

Willian78

Leandrus disse...

Bons tempos em que eu era criança e preferia ver a CART que a F-1...