quinta-feira, 28 de maio de 2009

5ª Coluna: Os clássicos do automobilismo

Olá a todos. O fim-de-semana que passou costuma ser a mais clássica do automobilismo, pois por coincidência de datas, temos no mesmo dia duas corridas míticas: o GP do Mónaco e as 500 Milhas de Indianápolis. Daqui só falta as 24 Horas de Le Mans para completar o ramalhete, mas esse evento não anda longe, pois faltam pouco mais de três semanas para esse magnifico evento da Eudurance…


Mas enfim, já adivinharam do que vai tratar desta 5ª Coluna desta semana: corridas. Mas também numa altura destas, a politica não anda longe…


GP Mónaco – A Ferrari está de volta, Brawn GP!


É certo que a Brawn GP conquistou aqui a sua segunda dobradinha consecutiva, e Jenson Button passeou a sua superioridade nas ruas do Mónaco (até foi a correr para o pódio, depois de estacionar o carro no sitio errado…), mas o evento do dia foi o regresso à boa forma da Ferrari, que colocou os seus carros bem atrás dos agora imbatíveis Brawn GP. É certo que ultrapassar no Mónaco é quase impossível, mas ver os carros da Scuderia de Maranello a não cometer erros neste fim de semana, e ver Kimi Raikonnen a subir ao pódio pela primeira vez nesta temporada, só pode indicar que as coisas na Ferrari já vão no bom caminho, depois de devidamente puxadas as orelhas… O irónico é que acontece numa altura em que aparentemente está em guerra com a FIA.


Esta boa prestação da Ferrari contrastou com as pobrezas franciscanas de McLaren, Toyota e BMW Mercedes. Não se viram, andaram todos na cauda da tabela, Lewis Hamilton ficou a uma volta do vencedor… a única excepção foi Heiki Kovalainen, que conseguiu colocar o carro no Q3, mas o finlandês bateu na corrida, quando era sexto classificado. O que foi uma pena.


Uma nota final para Nelson Piquet Jr. Vinte e quatro anos depois do seu pai, tem um acidente semelhante no mesmo local, e mais ou menos pelo mesmo motivo, com o Toro Rosso de Sebastien Buemi. Depois, mais ou menos a quente, veio a criticar forte e feio a postura de Buemi, o único “Rookie do Ano”, afirmando que não tem maturidade para conduzir um carro de Formula 1. Um declaração justificada, se a pessoa em questão tivesse, digamos… seis ou sete anos de experiência e não se chamasse Nelson Piquet Jr., um piloto duramente criticado pela sua postura em pista e que vai no seu segundo ano na Formula 1… Seria aconselhável olhar para o seu próprio umbigo, antes de dizer uma coisa dessas. Afinal, o seu lugar está na corda bamba.

GP2: “Clear and Present Danger”


O fim-de-semana monegasco também foi palco da jornada dupla da GP2. Se Romain Grosjean demonstrou que é o principal candidato ao título nesta categoria, também vi que o pessoal da Ocean demonstra ter potencialidade de vitória, o que é óptimo, dado que a sua anterior encarnação era a BCN Competicion, que se arrastava pelos últimos lugares do campeonato… Mas esta corrida sentiu-se a frustração no ar, pois apesar de Karun Chandhok ter conseguido os primeiros pontos para a equipa, esteve muito perto de uma vitória na segunda corrida do fim de semana, com o Álvaro Parente com a possibilidade de obter uma polé-position, ou seja, uma primeira fila portuguesa…


Só que Parente e Chandhok tiveram problemas mecânicos e desistiram, fazendo com que aqueles dois pontos sabem a frustração, pois havia todas as probabilidades de ter acontecido neste fim-de-semana um momento histórico para o automobilismo português. Mas pelo que se vê, parece ser uma questão de tempo. O azar não dura sempre!

Mas este fim-de-semana competitivo na GP2 mostrou-me outra coisa: os pilotos que correm aqui parece que não tem juízo ao volante. São constantes os acidentes, e no Mónaco, o acidente entre o Andreas Zuber e o Romain Grosjean arrepiou-me, pois o piloto francês “voou” para as redes de protecção. Esta geração era muito nova quando aconteceu a última morte na Formula 1, e como esse risco está reduzido ao mínimo, parece que tem o direito de acelerar até ao limite, porque sabem que um acidente não dá mais do que cambalhotas e sacudir o pó. Gostaria que esses meninos vissem o acidente mortal do Marco Campos, em Magny-Cours 1995, para virem que os seus excessos podem um dia acabar muito mal… as corridas ganham-se com cérebro e nunca com tomates. O último que tentou isso morreu novo.


FIA vs FOTA: quem será o primeiro a ceder?


O fim-de-semana monegasco serviu para que as equipas discutissem entre si a continuidade da luta com a FIA sobre os regulamentos diferenciados e o tecto salarial. Até ontem falava-se que as coisas rumavam irremediavelmente para a separação e os dois campeonatos, mas o anúncio da inscrição da Williams no campeonato de 2010 e a sua subsequente suspensão da FOTA pode significar que as coisas poderão estar a caminho do acordo. Como assim?


Toda a gente sabe que esta guerra entre a FOTA e a FIA tem a ver com o dinheiro. E os novos regulamentos da treta que Max Mosley quer implementar, no sentido de cortar nos custos, a partir de 2010. Isso pode ser feito, desde que sejam feitas com pés e cabeça, algo que aparentemente parece não existirem. Para além disso, os acordos leoninos que Ecclestone tem na Formula 1, relacionado coma as transmissões televisivas, também causam atritos entre a FIA e as equipas. Em suma: dinheiro e poder.


E hoje vão reunir-se para discutir mais uma vez as modalidades para 2010. Só o facto de continuarem a reunir, significa que ainda se busca um acordo, mas a ideia será que nenhum deles perca a face. As equipas querem aumentar o bolo das transmissões, e dividi-la entre si, sem ninguém mais. Logo, com novas equipas, mais dividido o bolo fica, e isso eles não querem. Pode não ser hoje que as coisas cheguem a bom porto, mas começa a haver fumo branco, e a paz pode ser possível. Mas perferia ver os tios Max e Bernie fora dali, para demonstrar que, no caso do Tio Max, o seu cargo é eleito e não vitalício…


Indy 500: Castro Neves, o Fénix renascido


Há dois meses atrás, parecia que a carreira competitiva de Hélio Castro Neves estava acabada. Acusado de evasão fiscal (o crime que colocou Al Capone na cadeia), arriscava-se a ficar alguns anos numa prisão federal, e ter a sua carreira nos Estados Unidos terminada de vez. O seu lugar na Penske tinha sido preenchido pelo australiano Will Power, mas Roger Penske mantinha a janela aberta, como se mantivesse a esperança de que as coisas acabariam por se resolver a seu favor.


Até que chegou o dia 17 de Abril de 2009. Nesse dia, o Tribunal do Estado de Florida, que tinha o caso das seis acusações de evasão fiscal, no valor de 5,6 milhões de dólares, concluiu após uma semana de deliberação, que Castro Neves estava inocente de todas as acusações. O piloto chorou, abraçado á sua irmã, também acusada do mesmo crime, também inocentada no processo. Aliviado, tentou recuperar o tempo perdido.


Quando chegou em segundo lugar na oval de Kansas, depois de um sétimo lugar em Long Beach, podia-se dizer que estava no caminho da recuperação da reputação perdida. Mas com a pole-position nas 500 Milhas de Indianápolis, parecia que a hipótese de vitória era real. E depois de 200 voltas na oval americana, o piloto brasileiro conseguiu um fim que nem os telefilmes de Hollywood conseguiriam imaginar. Castro Neves já não era mais o “Spiderman” que desempatava com Emerson Fittipaldi no estrangeiro com mais vitórias nas 500 Milhas, já não era no piloto da IRL com um pezinho para a dança, ou em alguém acusado de não pagar os devidos impostos ao Tio Sam. Era tudo isso e mais alguma coisa. Agora faz parte da história do automobilismo americano, ao lado de pilotos como Emerson Fittipaldi, Nigel Mansell ou Jacques Villeneuve. Mas também está ao lado de um Al Unser e Al Unser Jr, A.J. Foyt, Mário e Michael Andretti, Rick Mears, Johnny Rutheford… todos os grandes da Indy nos últimos 50 anos.


Agora falta o título da IRL para coroar esse regresso. Isso será ditado pelos resultados, mas está no bom caminho, creio. Espero que isso aconteça.


Quanto á corrida em si, não posso acrescentar muito porque não assisti à corrida por motivos profissionais. Mas pelo que contaram, foi uma corrida algo agitada, com acidentes mais ou menos graves. Sei que o Vítor Meira teve a roçar o carro no muro e pode ficar de fora no resto da época, devido ás lesões nas costas, e que a Danica Patrick conseguiu a melhor classificação de sempre de uma mulher, ao ser terceira classificada.


Pode-se dizer no final que as 500 Milhas de Indianápolis deste ano teriam valido a pena ver, caso tivesse sido possível. Como não me foi, tive pena. Mas aqui, o trabalho mandou, e ainda não me pagam para ver corridas…


Enfim, aí vem o fim-de-semana competitivo, com o WTCC em Valência como cabeça de cartaz. Veremos se valerá a pena. Um abraço a todos e até para a semana!

1 comentário:

Bruno disse...

Perfeito texto, Speeder.
A Ferrari melhorou sensivelmente, resta ver o grau numa pista não tão travada como Mônaco.
A maior decepção da corrida no domingo foi a pífia participação da Toyota, antes apontada como concorrente da Brawn GP. Aliás, os ingleses mostraram que seguem reis absolutos (como o carro deles é tão bom?)

A GP2 esse ano tem apresentado acidentes sempre incríveis. Foi assim na Espanha e agora em Mônaco. A competição sempre foi a tônica da categoria, mas acho que a possibilidade de novas equipes em 2010 tem aumentado a agressividade dos pilotos.

Ecclestone e Mosley continuam a fazer novos planos para a Fórmula 1. Ninguém fala em sair e parece que não deve acontecer tão cedo. Mosley sobreviveu ao escândalo e até as bizarrices que propõe. Ao meu ver agora só sai morto do poder.

Sensacional foi a prova da Indy para contrastar com a falta de ultrapassagem em Mônaco. No final prevaleceu a soberania do carro da Penske e do Castroneves, um especialista do circuito. Foi incrível ver o choro com a família e com Roger Penske a quem agradeceu com todas as palavras. Para mim a cena mais bonita foi a escalada no alambrado, acompanhando com os mecânicos e o mais legal - o povo vibrava nas arquibancadas. Cena histórica.

Grandes Abraço, Paulo.