sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Caro Francois Cevert:

"On ne voit bien qu'avec le cœur. L'essentiel est invisible pour les yeux."

Antoine de Saint-Exupery, Le Petit Prince

Salut, Francois!

Esta semana, um rapazinho finlandês, de seu nome Antti Kalhola, fez um filme onde colocou uma declaração tua em dizias o seguinte: "Adoro fazer tudo o que faço e que esteja minimamente ligado, porque é a minha paixão". Compreendo aquilo que vocês sentiam, e tinham razão. Vocês, pilotos como tu, quando guiavam as vossas máquinas, viviam algo mais próximo da felicidade absoluta do que nós, que nunca experimentamos ou experimentaremos um carro de Formula 1. Afinal de contas, eram uns sortudos, sabendo que no vosso tempo, o preço a pagar por viverem essa felicidade seria a vossa própria vida.

Nunca te vi correr ao vivo. Os nossos destinos descruzaram-se por dois anos e meio, mais dia, menos dia. Mas vi as imensas filmagens que fizeram sobre ti, sobre o teu estilo de condução, sobre as tuas ideias sobre o automobilismo, que confesso ter um fascinio sobre ti e aquilo que fizeste nestes teus meros 29 anos de vida. Viveste várias vezes mais rápido para durares bem menos de metade de uma normal existência.

Aquela frase que coloquei ali em cima foi porque eles te chamavam de "Principe". Talvez seja porque eras dos homens mais charmosos do teu tempo, que fazia com que todas as mulheres sentissem cíumes da tua namorada, e todos os rapazes tivessem de esconder as suas raparigas, com medo que tu as atraísse para o teu lado! Eu compreendo os receios dos outros, não é? Se vivesse no teu tempo e andasse a passear com uma cara bonita a meu lado, pensaria duas vezes antes de te apresentar...

A grande amargura desta tua vida tão curta, era que foste no preciso momento em que o teu "professor" estava a ir embora para gozar a reforma, e tu irias tomar conta dos destinos da equipa Tyrrell. Tinhas ouvido todos os avisos, mas não te importaste. Entendo: viver a vida a pleno, por muito curta que seja, é muito melhor do que envelhecer e contar as histórias aos filhos e netos. O teu "professor" conseguiu esse feito e vai viver o resto dos seus dias a falar bem de ti. Só que acho que merecias mais do que uma simples vitória e seres o escudeiro do Jackie Stewart. Simplesmente é injusto.

Mas a vida é feita para ser injusta, não é? Olha o Roger Williamson, que se foi uns meses antes de ti: tanto talento na Formula 3 para acabar nas areias de Zandvoort, somente na sua segunda corrida da sua carreira na categoria máxima do automobilismo, ainda por cima com um rapaz a tentar salvá-lo iunutilmente das chamas. Todos sabiamos do talento, não teve tempo para o monstrar...

Enfim, acho que só os mais emperdenidos entusiastas do automobilismo é que compreendem aquilo que tu foste na pista. Uma cominação rara de beleza e talento, que tentou aprender o mais que pode do mestre. Pena que não tiveste tempo nenhum para aplicar esses ensinamentos, pois darias um excelente piloto, tenho a certeza. Não gosto das pessoas que te tratam como um mero apêndice da história do automobilismo do género "o tipo de que ganhou e morreu em Watkins Glen". Esses não sabem de nada, francamente.

De onde quer que estejas, vou-te desejar um feliz aniversário, e de onde estejas a acelerar, faça-o bem. Eu por mim, acho que vou ouvir o "Here Comes the Sun", dos Beatles. Foi feito pelo George Harrison, outro dos que fazem anos no mesmo dia que tu, acho que um ano antes de ti, corrige se estiver enganado. A versão da Nina Simone é fabulosa, caro Francois. Tocada ao piano e tudo... tu tocavas piano, não era? Terias adorado ouvir e certamente tocar, tenho a certeza.

Enfim, de onde quer que estejas, dá um abraço a essa gente toda. Um dia pode ser que nos encontremos, numa dimensão qualquer... Au revoir, Francois.

Sem comentários: