quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A entrevista a Sebastien Löeb, pela Autosport portuguesa

A Autosport portuguesa traz na edição desta semana uma extensa entrevista com o novo campeão do mundo de Ralis, o francês Sebastien Löeb. Feita pelo lendário jornalista britânico Martin Holmes, o agora octacampeão francês não deixa nenhuma pedra por virar sobre a sua temporada na Citroen, a sua relação com o Citroen DS3, sobre a sua relação com Sebastien Ogier, sobre o comportamento de Olivier Quesnel, o diretor desportivo da marca, e sobre os seus planos para o futuro e a opção de poder abandonar a competição no final de 2012, caso ele queira fazê-lo.

Tudo isso e muito mais pode ser lido nas linhas a seguir:


"TENHO A OPÇÃO DE PARAR NO PRÓXIMO ANO!"

O octacampeão fala das rivalidades deste ano, dos seus direitos na Citroen, do 'sinfroma da indecisão' e das suas motivações para o futuro. Sebastién Löeb com o microfone à frente e despido de preconceitos...

Sebastién Löeb nunca se cansa de encontrar novos desafios para vencer. Este ano, o seu título de campeão mundial não se limitou a ser mais um para a sua contabilidade pessoal, mas extravasou os limites do conseguido no desporto motorizado, superando os recordes de Michael Schumacher na F1 e de Valentino Rossi na Moto GP. Isso colocou Löeb na estratosfera dos ralis, mas também do desporto motorizado mundial.

Mas 2011, não foi uma época comum ou 'mais' uma época. Talvez pela primeira vez, o francês teve concorrência muito mais do que pontual dentro da equipa, com alguém chamado Sebastien Ogier, com todas as implicações táticas que daí resultaram e que, à primeira vista, pouco acreditaram poderem ser reais. Isto acabou também por criar uma situação de 'crise' dentro da sua própria equipa e que fez com que, a meio da temporada, o título de Löeb estivesse longe de estar garantido.

Foi um ano onde dois maus resultados (Austrália, quando se despistou, e França, quando o motor do seu DS3 'entregou a alma ao criador') obrigaram o 'ponta de lança' da equipa Citroen a regressar à estaca zero e a lutar pela vitória nos últimos ralis. Apesar de tudo, o seu talento esteve sempre à tona e acabou por ganhar o Mundial de Pilotos na última prova, mesmo com os dois carros oficiais da equipa fora do derradeiro combate...

P - ... por isto tudo, esta foi uma época para não esquecer?

R - O meu objetivo, quando começo uma época, é sempre ganhar o campeonato e é sempre para isso que eu guio, pelo que, atingi-lo mais uma vez, deu-me obviamente uma grande satisfação.

P - Na época de 2011 assistiu-se a uma série de controvérsias decorrentes da rivalidade com o teu companheiro de equipa, Sébastien Ogier. Como foi ter uma concorrência tão forte dentro da equipa?

R - O problema não foi o facto de eu ter concorrência dentro da equipa. O problema foi que, desde o inicio da temporada, a principal rivalidade veio de dentro da equipa, o que fez com que não tivesse o mesmo tipo de apoio com que sempre contei. E, finalmente, no final da temporada, vimos que restávamos perto de perder o título por essa razão.

Ogier foi competitivo e a situação foi incomum para nós por causa disso. Eu não o consegui dominar como dominei o meu antigo colega de equipa e essa é que foi a diferença. A dada altura, houve alguns passos de estratégia da equipa de que eu não gostei esta época. Mas por fim, ganhamos ambos os títulos e tudo acabou bem.

P - Olivier Quesnel (Diretor Desportivo da Citroen) sugeriu que muita da tensão dentro da equipa adveio do facto de ele ter feito promessas a 'Seb 2' porque ainda não tinhas decidido se querias ficar ou não no Mundial. Mas não querias ficar pelo facto dos regulamentos não estarem, na altura, definidos?

R - Eu nunca sei o que quero fazer no próximo ano. Agora sei que quero guiar. Todos os anos, a meio da época, há uma altura em que penso 'já chega'. Depois, quando as coisas correm bem, penso 'hmmmm... ainda me divirto!'. Nâo nego que tenha dito ao Olivier durante a época que havia a possibilidade de me retirar no ano seguinte e ele só fez o seu trabalho.

P - Isso quer dizer que hesitarás de novo sobtre o teu futuro a meio da próxima época?

R - A meio da próxima época tenha a certeza que direi 'no próximo ano, pararei!', mas depois, provavelmente, vou decidir continuar. É assim que sou!

P - Por falar em 2012, estás satisfeito com o regresso do Rali de Monte Carlo ao Mundial?

R - Claro! O Monte Carlo é um rali em que sempre me diverti. É em França e disputa-se sob uma atmosfera muito especial. É bom que tenha regressado, pois foi uma enorme desilusão quando saiu do WRC. Além disso, é disputado 'em casa' do meu navegador e, por isso, ele está também muito satisfeito.

P - O que pensas da vinda de novos pilotos como Tanak ou de pilotos que mudaram de camisola, como Dani Sordo, que agora assumiu o papel de lider na MINI?

R - Já conhecemos pilotos como o Ostberg ou o Sordo há muito tempo. Já o Tanak, por exemplo, foi uma boa surpresa em Gales. Tinha pneus diferentes, mas não sabemos se eram melhores ou piores e não sei que importância teve, para ele, correr de DMack em vez de Michelin. É complicado saber exactamente quão bom ele é, mas, de qualquer modo, fez um bom rali.

P - Fizeste elogios durante o Rali de Gales ao Latvala. Ficaste impressionado com a sua performance?

R - Ele foi realmente muito rápido, não só em Gales, mas também em asfalto. Não o pude confirmar porque também esteve muito bem em França e no alcatrão de Espanha foi incrivelmente rápido. Portanto, agora está constantemente a lutar pela vitória e no próximo ano será um grande piloto.

P - O que vais fazer no resto do ano?

R - O meu próximo rali será em Monza com o DS3. Este ano não vou ao Var, que é na mesma altura e por isso vou deixar o Latvala ganhá-lo! Antes vamos fazer uns testes de desenvolvimento já na próxima semana, especialmente em terra. Não estou à espera de mudanças grandes nos nossos carros para 2012, mas apenas de pequenos ajustes. O carro já atingiu um alto nível de desenvolvimento, pelo que penso que agora será difícil fazer grandes evoluções.

P - Quão forte é a sua paixão por este desporto?

R - Comecei os ralis por paixão e rapidamente estava apto a guiar para um construtor. E ainda hoje sinto a mesma sensação quando guio um carro. Gostaria de dizer que realmente o que gosto é guiar em ralis. Esta é a minha principal motivação. Não muda a minha vida ter sete, oito ou nove títulos. Continuo nos ralis apenas porque o momento me dá prazer e porque gosto do que faço. O meu contrato com a Citroen é por mais dois anos, com a opção de parar no próximo ano.

P - Quais são os teus planos para a tua nova equipa com um Porsche?

R - No inicio da temporada fiz alguns contactos com as pistas. Talvez, na próxima temporada, eu queira ter a porta aberta em caso de querer colocar um ponto final nos ralis. Considero que no dia em que deixar os ralis, será dificil para de correr por completo, pelo que gostaria de enverdar pela velocidade.

Tenho alguma experiência de pista, logo, gostaria de guiar algo que também me pudese dar prazer. Seria bom viver por mim mesmo, gerir a minha própria equipa e manter-me ligado ao desporto automóvel que é a minha paixão.

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"NOVAS REGRAS SÃO JUSTAS!"

Com Mikko Hirvonen a render Sebastien Ogier na segunda cadeira do DS3 em 2012, os problemas entre companheiros de equipa poderão voltar a repetir-se? É a pergunta do momento. Mas basta observar as novas regras do jogo para se perceber que dificilmente a situação se repetirá.

Além do contrato de Löeb ter sido reforçado, o francês também defende que "no próximo ano as coisas serão diferentes, porque as táticas não terão um papel tão importante como até aqui. O shakedown servirá para escolher a posição de partida no primeiro dia e depois correr-se-á com a ordem invertida. No capitulo desportivo, é uma regulamentação justa. Mesmo se, tal como aconteceu em Gales, é melhor estar entre os primeiros que nos últimos, a verdade é que não deverá fazer grande diferença partir em 15º ou 14º, pois devem partir em condições semelhantes. Isso significa que a luta pelas vitórias será feita nas mesma condições e posso dizer que esta mudança na regulamentação ajudou a que eu tomasse a decisão de ficar no WRC"

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DS3 O GRANDE ALIADO

Além de Daniel Elena, a quem importa atribuir uma boa parte da culpa do oitavo título consecutivo de Löeb, também o DS3 cumpriu a sua missão. Sobre ele, o francês explica que "quase me esqueci do facto de ter começado a época com um novo carro! O DS3 é muito diferente do C4. É mais pequeno, o que lhe dá mais agilidade. Talvez seja um pouco menos estável, o que faz com que seja preciso lutar mais com o carro, mas o seu equilibrio é muito bom e, na condução, sente-se que é mais leve.

Acho, de resto, que o mesmo se deve passar com todos os novos World Rally Cars. Também têm um motor mais pequeno, com menos binário, mas nada de preocupante, porque ocntinua a ter binário suficiente para se guiar em terra. No asfalto, podia ter um pouco mais de potência, o que tornaria mais divertido, mas ainda assim tem o suficiente para o chassis".

Mas mais do que o comportamento, o que mais impressionou Löeb no ano de estreia do DS3 foi a fiabilidade. Impressionou, mas será que o surpreendeu? "Sim, foi uma boa surpresa! Confesso que tinhamos alguns receios quanto à fabilidade do carro no inicio da temporada, por se tratar de um carro completamente novo, mas, feitas as contas, os catrros oficiais não tiveram nenhum problema grave. Claro que a equipa tinha muita experiência a desenvolver carros a patrtir de uma nova fórmula, mas ainda é, nos dias de hoje, um desafio saber exatamente como o fazê-lo"

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"QUESNEL SÓ FEZ O SEU TRABALHO!"

Quando se pede a Löeb para avaliar o papel de Olivier Quesnel como diretor desportivo da equipa Citroen e a forma como lidou com a tensão dentro da equipa, entre si e Ogier, foi pragmático: "Não sei se cometeu alguns erros este ano. Não sou diretor desportivo e ele só faz o seu trabalho, fazendo o melhor pela equipa. Mas certamente, se tiver dois pilotos que que lutam juntos pela equipa é-se compensado pelos dois lados. Para o desporto é bom e, por isso, não posso dizer que o Olivier tena feito algo errado.

Posso apenas dizer que, às vezes, é difícil viver com isso e para mim, houve apenas uma ocasião em que não fiquei satisfeito com o que aconteceu. Foi na Grécia, quando eu estava mais rápido do que o Ogier e liderava o campeonato e a equipa utilizou muita estratégia para o ajudar a bater-me. Essa foi a unica coisa que realmente não gostei ao longo da época. De resto, já sabia que não iria ser fácil lidar com o Sebastien Ogier na mesma equipa."

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