terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Bahrein, ainda o Bahrein

Como já previa, à medida que o 22 de abril se aproxima, e também se aproxima o primeiro aniversário das manifestações na Praça das Pérolas, os ativistas voltam à carga e a policia, bem como o governo, reage da única maneira que sabem: a repressão e a violência. E com a aproximação dos "Dias da Raiva", as preocupações sobre o regresso da Formula 1 à pequena ilha do Golfo Pérsico aumentam exponencialmente, com apelos ao boicote e as inúmeras desconfianças da comunidade internacional sobre as boas intenções que o emirado emite, afirmando que "tudo voltou à normalidade".

Quanto jornalistas prestigiados como Nick Kristoff, do New York Times, afirmam que foram barrados de entrar no emirado pelas autoridades locais, e quando uma série de membros da Câmara dos Lordes escrevem uma carta aberta ao The Times de Londres, apelando à FIA para que deixe cair o GP do Bahrein, ficas tremendamente cetico sobre as noticias institucionalizadas pelas agências oficiais, por muito verdadeiras que elas sejam. E aqui estou a ser factual.

E mesmo quando o Joe Saward fala hoje do comunicado que alguns parlamentares britânicos, pro-Bahrein,  lançarem, afirmando que estão preocupados com as movimentações dos seus colegas, lançando um comunicado afirmando que o governo barenita lançou uma série de medidas, quer em termos de um inquérito independente para encontrar responsáveis pela repressão de março e abril do ano passado, afirmando que "a resposta do governo do Bahrein foi notavelmente diferente [do que alguns paises que viveram a Primavera Árabe, como o Egito, a Síria e a Líbia], convidando advogados especializados em direitos humanos, instaurou o Bahrain Independent Commission of Inquiry (BICI), para investigar [os abusos das autoridades] e decidiu implementar as suas recomendações."

Aqueles que desejam que o Bahrein continue no caminho das reformas não ajudarão em nada ao apelar ao cancelamento do Grande Prémio. Aliás, a presença de milhares de turoistas ocidentais e de jornalistas só trará maior incentivo às autoridades do Bahrein para continuar no caminho das reformas e demonstrar ao mundo a sinceridade das mesmas e que o seu apoio é fundamental", conclui o comunicado, emitido pelos depoutados Conor Burns e Thomas Docherty, respecticamente, presidente de vice-presidente Grupo Parlamentar Conjunto Reino Unido-Bahrein.

Pois bem, vamos fingir que isto não é um comunicado cosmético, de relações públicas. Pretendamos que a família real barenita é genuína na parte de pagamento de indemnizações às vítimas da repressão policial, que reintegrou as pessoas que foram demitidas devido à sua participação nas manifestações, entre outras medidas, que modificou as leis, o sistema judicial, entre outros, e que tudo voltou à normalidade e no dia 22 de abril, o mundo inteiro irá, alegre e feliz, ao Bahrein, ao aborreecido circuito de Shakir, ver mais uma vitória de Sebastian Vettel, no seu Red Bull, a espalhar o pseudo-champanhe daquela região, que proíbe o alcool, devido ao preceitos religiosos do Islão. A conclusão que chego é que este forte "lobby" governamental está a fazer tudo para que o GP do Bahrein seja realizado na data prevista, e isso mostra até que ponto a Formula 1 é uma questão de vida e de morte para a família real naquele país.

Contudo, à medida que os dias passam, fico com cada vez mais dúvidas sobre a realização da corrida. Não só por causa das manifestações por si, mas também por isto: numa era de comunicação total, onde se mostra tudo, quem quererá correr num país em "estado de sítio", eventualmente com tropa na rua e bancadas desertas? Mesmo que o governo pague às pessoas para irem ver a corrida no circuito, mesmo que dêm aos jornalistas vistos para assistirem ao Grande Prémio, como acontece noutros lados, pergunto-me se por muito que tentem fechar os olhos, não notar o desconforto que vai ser de andar por ali? De  quantos jornalistas que costumam cobrir as corridas não serão barrados no aeroporto, com a entrada negada por um motivo qualquer? E os que tiverem a sorte de entrar, será que a sua liberdade de movimentos não será "tutelada" por um simpático funcionário local, que dirá ao jornalista ou ao fotógrafo, onde ir ou não ir, que fotos tirar ou não tirar?

Francamente, não sei. Confesso ter imensas dúvidas. E não vejo outra justificação da FIA continuar por este caminho que não o financeiro, as tais "40 milhões de razões" que normalmente vem aos cem e tem cara de Benjamin Franklin, um dos "Founding Fathers", pais da independência americana e árduo defensor da democracia. Soa a irónico, hein?

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