quarta-feira, 14 de março de 2012

Os 55 anos da morte de Eugenio Castellotti

Há precisamente 55 anos, em Modena, um jovem piloto italiano, do qual se depositavam imensas esperanças de suceder a Alberto Ascari, morria durante uma sessão de testes num pequeno circuito nas traseiras da fábrica da Ferrari. As circunstâncias da sua morte mostraram uma face má de Enzo Ferrari, na sua obsessão pela velocidade. Esta morte teve um efeito-choque quer no mundo da Formula 1, quer até na sociedade italiana, dado que a sua posição social e o seu namoro com uma das estrelas de cinema de então era avidamente seguida nas páginas cor de rosa. O piloto em questão era Eugenio Castellotti, e tinha então 26 anos.

Proveniente de uma familia abastada de Milão, Eugenio Castellotti, nascido a 10 de outubro de 1930, era alto, bem-educado e bonito. Começou a competir aos 20 anos, em 1950, a bordo de um Ferrari de Sport, e cedo alcançou vitórias dentro de fora de Itália, a mais importante das quais deverá ter sido o GP de Portugal, em 1952. Após isso, concorre no ano seguinte nas Mille Miglia, onde termina na segunda posição, no seu próprio carro. Isso foi mais do que suficiente para que a Lancia o contratasse para pilotar um dos seus carros.

Depois disso, continuou a participar em eventos importantes, como a Carrera Panamericana, e em 1954 é escolhido para desenvolver o D50, o carro que a marca pretendia ir para a Formula 1. Desenhado por Vittorio Jano, iria ficar ao lado de Alberto Ascari, que o ajudou imenso a melhorar a sua condução. A relação entre os dois foi de tal maneira forte que Castellotti o via como um segundo pai. E ambos ajudaram a desenvolver o modelo para que pudesse combater a hegemonia da Ferrari e da Mercedes, que entretanto tinha entrado na Formula 1 com estrondo.

Castellotti entrou na Formula 1 em 1955, ajudando a equipa a dar o seu melhor resultado de sempre, um segundo lugar no Mónaco, na mesma prova em que Ascari caiu ao mar, sem ferimentos graves. Quatro dias depois, ambos os homens estavam em Monza para testar um... Ferrari de Sport, o 650 Superleggera. Depois de uma manhã em que ele esteve ao volante, Ascari pediu a ele que emprestasse o carro e o seu capacete para dar umas voltas. Ele foi, perdeu o controle na curva que hoje se chama Variante Ascari, e morreu. Castellotti ficou em choque, e a Lancia decidiu retirar-se da competição, vendendo os seus chassis para a Ferrari.

Antes do negócio acontecer, Castellotti levou um chassis a Spa-Francochamps e conseguiu a pole-position, mas não acabou a corrida. No ano seguinte, estava na Ferrari,  conseguindo mais um pódio, acabando com três. Nos Turismos, conseguira vencer as Mille Miglia e as 12 Horas de Sebring, ao lado do argentino Juan Manuel Fangio.

A temporada de 1957 não começara bem: em Buenos Aires, a sua rival, a Maserati, tinha desenvolvido o seu modelo 250F e tinha arrasado a Scuderia, que se queixara dos pneus. Castellotti apenas conseguira o sexto posto, o melhor dos Ferrari presentes. Regressado à Europa, Castellotti queria descansar durante alguns dias ao lado da sua namorada, Delia Scala, uma das maiores atrizes de então. Contudo, num dia em março, Enzo Ferrari lhe telefonou para vir a Modena para testar um dos seus carros. A razão? Puramente egocêntrica: não queria que o recorde de pista caísse em mãos de um não-italiano, Jean Behra, que guiava um Maserati 250F.

A 14 de março de 1957, pelas oito da manhã, Castellotti tinha chegado a Modena, depois de quatro horas de viagem. Estava ensonado quando pegou o Ferrari. O Commendatore estava confiante de que Castellotti iria bater o recorde, tanto que apostara uma chavena de café no Biella Club, o sitio onde costumava tomar o pequeno almoço com os amigos. Com a pista húmida, após uns minutos de aquecimento, assinalou às boxes que iria fazer algumas voltas rápidas. Contudo, quando passou pelo Circolo della Biella, perdeu o controle do seu carro, capotou e teve morte imediata.

Houve consequências imediatas: o seu grande amigo nas pistas e companheiro na Ferrari, Cesare Perdisa, traumatizado pelos eventos, decidiu abandonar imediatamente a competição, mas não totalmente as pistas, pois continuou ligado ao automobilismo como jornalista até à sua morte em 1998, aos 65 anos de idade. Outro piloto, mais veterano, Luigi Villoresi, revoltou-se com a atitude de Enzo Ferrari e afirmou: "Valia a pena arriscar a vida de um piloto somente por uma chavena de café?". Pouco depois, este também se retirou de competição e não mais falou com Enzo Ferrari para o resto da sua vida.

Mal se sabia na altura, mas a morte de Castellotti era apenas o inicio de uma série negra para a Ferrari, onde num espaço de menos de dois anos, viria desaparecer quatro pilotos: Castellotti, Alfonso de Portago, Peter Collins e Mike Hawthorn. Quase todos estes acidentes mortais aconteceram em eventos importantes como as Mille Miglia - no caso de Portago - e o GP da Alemanha, em Nurburgring, no caso de Collins. Contudo, com o desaparecimento trágico desta geração, uma nova iria aparecer nas pistas, onde pilotos como o alemão Wolfgang von Trips ou o americano Phil Hill, iriam pegar nos carros da Scuderia e obter mais vitórias quer na Formula 1, quer na Endurance.

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