Primeiro que tudo, confesso pessoalmente que que para fixar o seu nome, tive de efetuar uma batalha interior em mim mesmo para poder fixá-lo. E digo isto, meu caro, é porque francamente, com um trabalho como este que está a mostrar, fixar o seu nome é quase como querer fixar - salvo o devido exagero - a morada e o numero de telefone do gabinete de trabalho Josef Gobbels, o ministro da Propaganda de Adolf Hitler.
Escrevo esta carta aberta no sentido de chamar a atenção ao facto de, sendo diretor da versão portuguesa da Playboy, esta uma publicação absolutamente marcante, que durou muito tempo para ter a reputação que tem agora, quer nos Estados Unidos, quer na Europa, quer na América Latina, os locais onde existe a maior parte das versões locais da marca. E como sabe mais do que ninguém, gostamos que ela tenha a reputação de ser uma revista muito boa quer em termos de contéúdo escrito, quer em termos de conteúdo visual.
Se no primeiro aspecto, nada tenho a apontar, no segundo, tenho imensas criticas a fazer, pois acho que o senhor, como diretor, está a violar o propósito da revista, pelo menos na parte das celebridades, colocando ensaios fotográficos que não são dignos dos pergaminhos que a revista tanto construiu ao longo dos mais de cinquenta anos de existência. Os dois ensaios que tenho visto até agora não me desiludiram, apenas indignaram-me profundamente, porque acho que está a violar o propósito desta revista.
Honestamente, o que espero ver nesta revista - e foi sempre aquilo que a revista nos mostrou - é no mínimo uma nudez que se vê nos museus, nos quadros pintados por mestres do Renascimento nos séculos XVI e XVII, ou então nos impressionistas do século XIX, como Monet, Manet, Lautrec e, muitos outros. Ou então, se perferir, algo como a "Maja desnuda" de Francisco Goya, que está exposta no Museo del Prado, em Madrid. Acho que isso é o meu - e certamente muitos de nós pensamos o mesmo - "minimo olimpico" para uma publicação deste tipo.
Desejo e exijo, como leitor, que as celebridades que aceitem posar para a revista o façam num ensaio sensual, obedecendo às directrizes, se quiserem receber o pagamento - ao que se consta chorudo, mas o senhor diretor sabe melhor do que ninguém - a que tem direito. E até agora, se quer que lhe seja sincero, ambos os ensaios publicados até agora são na minha ótica, uma completa fraude.
A versão anterior terminou porque as pessoas que estavam por trás eram umas autênticas burlonas, onde ganharam dinheiro à custa do nome, não pagando o que devia e ainda a saírem daqui a rir-se de toda a gente. Mas pelos vistos, parece que a segunda versão terá vida breve porque fico com a impressão de que você, como diretor, é no mínimo, ingénuo. Estes dois ensaios que vi até agora são - perdoe-me a franqueza - de uma pobreza franciscana, de um "pudismo" que não se usa mais por estas bandas. Parecem mais uma "GQ mais atrevida" do que uma Playboy. Ver que prefere ter uma senhora na capa, como a Rita Pereira, sem que se mostre o que deve ser mostrado nessa publicação, fica-se com a sensação que ou não é ousado, ou então que fez um pacto com o diabo, sacrificando a reputação vinda de fora a ter de colocar nas páginas centrais "estrelas de segunda classe". Em suma, são ensaios não dignos do nome que você transporta.
Caro diretor, deixe-me relembrar isto de forma brutalmente honesta: a playboy não é a GQ ou o catálogo de verão do La Redoute. Está a lidar com a marca Playboy, uma marca que se solidificou ao longo de 55 anos, primeiro nos Estados Unidos e depois no resto do mundo, e que aqui em Portugal está a ser relançada, graças a si, depois de uma primeira fase atribulada, onde os anteriores proprietários fizeram uma série de tropelias, enganando até a casa-mãe. Você relançou uma marca que estava desacreditada, mas pelos vistos, você está a fazer cair a revista para um outro tipo de descrédito, não - ainda - no plano financeiro, mas em termos do espírito da coisa. E temo que graças a isso, faça com que o crédito dela, já de si pouca, se afunda cada vez mais, chegando ao ponto de não retorno, pelo menos neste retângulo à beira-mar plantado.
Claro, pergunto a mim mesmo porque é que apesar de todas as criticas, continuo pessoalmente a comprar os exemplares da revista, sempre que estas estão nas bancas. Chego à conclusão que é por dois motivos: porque não só há vida para além da "famosa vestida" - as entrevistas, as histórias escritas por Valer Hugo Mãe e as entrevistas com o Pedro Rôlo Duarte, entre outras - e as sessões fotográficas com a Playmate do Mês compensam. Mas também compro pelo sentido da História. Para mostrar um dia aos nossos filhos e netos, e futuros estudantes de Jornalismo, Fotografia, Literatura Portuguesa e afins como NÃO se deve fazer, escrever ou editar esta revista.
Caro sr. Diretor: entenda as minhas criticas de forma construtiva, como um aconselhamento para o futuro. Quero e desejo ser otimista ao afirmar que ainda vai a tempo de inverter a tendência, de compreender e abraçar o espírito da revista, pois caso contrário, temo que tenha uma vida ainda mais breve do que a versão anterior. Não aliene os verdadeiros fãs em nome de algum falso pudor que neste país à beira-mar plantado e que vive tempos difíceis, pois tal já não existe mais. Já vivemos no século XXI e os nossos espíritos evoluiram, felizmente.
Pode-se mostrar tudo e continuar a ser belo, sem as "obscenidades" da Penthouse. E como deve conhecer o ditado, quem avisa, seu amigo é.
Grato pela atenção dispensada, se é que a teve
Paulo Alexandre Teixeira.
Paulo Alexandre Teixeira.
3 comentários:
Em relação às famosas... aparentemente sim. Em relação a Playmates e afins: "business as usual". Mas não são elas que vão para a capa ou fazem vender revistas, não é?
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