quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Nos 40 anos de Sebastien Löeb

Quando as pessoas são muito boas naquilo que fazem, tornam-se lendas. Especialmente no desporto. E no desporto, exemplos não faltam. Há os que têm talento natural e fazem coisas tão naturalmente que os seus admiradores os chamam de "deuses na terra". Mas também há os ultra-esforçados, sempre a quererem melhorar as suas performances para poderem bater a concorrência e acabarem no lugar mais alto do pódio.

Sebastien Loeb pertence à primeira categoria. Fazia as coisas de maneira natural, tão natural que não mostrava o esforço que tinha de fazer para bater os seus adversários. Fazia-me lembrar Juan Manuel Fangio, que tinha uma consistência superior à concorrência. E no seu tempo, quem tentasse batê-lo, arriscava a sua vida. Daí ele ter dito certo dia que tinha conhecido pilotos mais corajosos do que ele. Só que estavam mortos. Felizmente que nestes tempos que correm, os riscos de morte são bem mais baixos do que em meados do século passado.

Gosto de Loeb por dois motivos, a sua consistência superior à concorrência e a sua lealdade à Citroen. Aos 17 anos de idade, ele tinha saído da escola na sua Alsácia natal e era mecânico, para poder ter dinheiro e arranjar um carro para fazer ralis na sua zona. Sabia que tinha de fazer isso para prosseguir o seu sonho. A marca reparou no seu talento e o ajudou no inicio da sua carreira, com um modelo Saxo, e com ele, tornou-se campeão francês, primeiro nas duas rodas motrizes, depois em termos absolutos. A marca do "Double Chevron" não o esqueceu e lhe deu uma chance de se estrear no Mundial de ralis. E Loeb agradeceu essa oportunidade, sendo fiel à marca e lhe dando os títulos de Construtores entre 2004 e 2012.

É por isso que não alinho naqueles que afirmam que poderia ser um excelente piloto se tivesse ganho com Fords, Volkswagens, Subarus, Skodas e outras marcas. Ele não tinha de ser "mercenário" para mostrar ao mundo que era bom. Acho que habituamo-nos mal a essa ideia, só porque viamos os exemplos do passado. Loeb quis ser diferente e quis fazer as coisas à sua maneira, e só temos de o respeitar nesse campo.

E pelos vistos, quando andou numa máquina diferente, como foi o Peugeot 208 com o qual faz o Pikes Peak, esmagando os recordes anteriores na rampa americana, demonstrou que já não tinha a ver com o carro, mas apenas com o seu talento. Parecia que as pessoas quereriam isso para ganharem o seu respeito, mas para mim, não precisei que entrasse noutro carro para isso. Eu já o admirava bem antes, quando o vi a "comer o asfalto" com o velho Xsara de duas rodas motrizes, em 2001, e no ano seguinte, quando andava a par de Carlos Sainz e Colin McRae.

Agora, Loeb vai andar noutra categoria: o WTCC. De novo pela Citroen, depois de ter feito experiências nas 24 Horas de Le Mans e no campeonato de FIA GT, num McLaren, ao lado de Álvaro Parente. Foram experiências bem sucedidas, com algumas vitórias na geral, mas não alcançou títulos com isso. Mas demonstrou que têm uma versatilidade que deve ser considerada por todos. Uma versatilidade que anda "desaparecida" por estes dias, já que os pilotos andam cada vez mais isolados nas suas categorias e não se provam uns aos outros para saber se são bons no seu conjunto. Viamos muito disso há mais de 40 anos, mas agora é praticamente inexistente.

Portanto, creio que isso é mais um ponto a favor de um excelente piloto como Loeb. E agora que entra no clube dos quarentões, num WTCC onde veteranos não faltarão - Gabriele Tarquini vai a caminho dos 52 anos! - será interessante como é que ele se adaptará a uma nova categoria, a uma nova cultura e a corridas onde as decisões são ao segundo.

Desejo-lhe sorte. Mas hoje, quero dar-lhe os parabéns. Joyeux Anniversaire, Monseiur Löeb! 

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