quinta-feira, 30 de novembro de 2017

A Alfa Romeo volta à Formula 1, o que quer dizer? (parte 2)

O segundo capitulo desta história escreve-se com a entrada em cena de uma pessoa: Carlo Chiti. Este engenheiro, que viveu entre 1924 e 1994, começou a sua vida como funcionário... da Ferrari. Como as grandes histórias começam sempre com separações dolorosas, isto começa em 1962 quando a lendária exigência de Enzo Ferrari em ter os melhores carros e de que os pilotos dessem tudo na pista chegasse a um ponto de ruptura.

Um pouco de contexto por aqui. Comecemos por voltar um pouco atrás, para 1956, quando Enzo perdia o seu filho Dino Ferrari, aos 24 anos, devido a uma doença rara, uma distrofia muscular. Era um engenheiro competente, que ajudou a construir o motor V6 de 1.5 litros, que depois foi batizado com o seu nome. Um dos que ajudou a construir esse motor foi Chiti, que já tinha estado na Alfa Romeo em 1952, tenho ajudado a construir o modelo 3000 Sports Car. Contudo, a marca encerrou o seu departamento de competição e Chiti foi para a Ferrari.

Chiti tornou-se próximo de Ferrari, tornando-se no diretor técnico da marca para a Formula 1 e Endurance, construindo modelos como o 156 "Nariz de Tubarão", que tinha o motor V6 de 1.5 litros imaginado e desenhado por Dino Ferrari, no seu leito de morte. Foram campeões em 1961, num duelo interno entre o americano Phil Hill e o alemão Wolfgang von Trips, mas como Enzo adorava que ambos os pilotos dessem o seu melhor até ao limite, isso teve consequências dramáticas a 10 de setembro de 1961, quando na segunda volta do GP de Itália, Von Trips tocou no Lotus do jovem Jim Clark e o seu carro foi projetado contra a multidão, matando 14 pessoas, para além do piloto alemão.

Apesar da tragédia, a Scuderia comemorou como se nada tivesse passado, o que provocou mais estragos na reputação de Ferrari e da sua Scuderia, que chegou a ser visto como uma das pessoas mais odiadas de Itália. As memórias do acidente que, quatro anos antes, tinha matado sete pessoas - quatro delas crianças - durante as Mille Miglia desse ano, incluindo o seu piloto, Alfonso de Portago, ainda estavam frescas na memória das pessoas, que até exigiam a proíbição das corridas automóveis em solo italiano...

No ano seguinte, as coisas não andavam bem na Scuderia, pois a concorrência tinha construído carros melhores que os tinham superado na pista, principalmente as britânicas Lotus e BRM. As tensões estavam já tão altas que no final do ano, houve uma revolta que levou à saída de nomes importantes da marca. Para além de Chiti, saíram da Scuderia o preparador de motores Giotto Bizarrini e os pilotos Phil Hill e Giancarlo Baghetti. Cada um seguiu a sua vida, e Chiti escolheu fundar uma preparadora, a Autodelta.

A meio da década de 60, a Alfa Romeo decidiu pensar no seu regresso ao automobilismo, mas não queria ser eles a arcar com todas as despesas. Sabendo do conhecimento técnico de Chiti e da sua recém-formada Autodelta, pediu para que ajudasse no desenvolvimento do modelo 33, que queriam usar nas corridas de Endurance. O carro ficou pronto em 1967, com um motor de dois litros construído por Chiti, e cedo participou em provas do Mundial, incluindo as 24 horas de Le Mans. Cedo alcançou vitórias na sua classe em provas como as 24 Horas de Daytona e a Targa Florio, e foi assim até 1971, pois nunca construíram um motor de 5 litros, que tinham os Porsche e a Ferrari, para vencer provas como Le Mans, Sebring ou Daytona.

Contudo, em 1972, quando os motores de 3 litros viraram norma, os Tipo 33 tornaram-se nos carros a ter em conta, a par da Matra, Porsche e Ferrari. Com pilotos como Arturo Merzário e Vittorio Brambilla, entre outros, eles venceram o Mundial de Construtores em 1975 e 77. E por essa altura, Chiti já tinha feito o motor flat-12 de 3 litros, que começou por debitar 500 cavalos, mas em 1977, já produzia um pouco mais: 520 cavalos. 

No final desse ano, a Alfa Romeo achava que era altura de novos desafios, algo do qual Chiti concordou. E o próximo desafio era algo do qual já tinha começado um pouco antes: a Formula 1.

Desde a saída da "Quattrofoglio" da categoria máxima do automobilismo, em 1951, as suas passagens tinham sido curtas e... esquéciveis. Em 1961 e 70-71, este último com Andrea de Adamich ao volante, correram com motores de 3 litros, derivados do Tipo 33, sem resultados de relevo. E as coisas ficaram esquecidas por um tempo até surgir em cena... Bernie Ecclestone.

Esse é assunto para o terceiro capitulo desta história, ainda antes de falarmos da sua própria equipa...

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