sexta-feira, 3 de agosto de 2018

A imagem do dia

James Dean dizia por estas alturas que viver depressa e morrer jovem daria um cadáver bonito. A parte chata dessa equação é que esqueceu da parte das vitimas de acidentes, e normalmente, ficam com mau (ou muito mau) aspecto. Provavelmente essa frase ressoaria entre os pilotos de Formula 1 e muitos sorririam ou diriam que não seria assim, porque viam com os seus próprios olhos que os seus amigos mortos ficavam com um aspecto horrível depois dos seus acidentes fatais.

Há precisamente 60 anos, o Inferno Verde reclamaria mais um tributo, e o escolhido foi Peter Collins. A imagem que ponho aqui nem é a pior de todos, é a mais "publicável", digamos assim. Porque, como sabem, quando se morre em acidente, não se fica com bom aspecto... 

De uma certa forma, Collins não foi só vítima das condições do circuito, mas também da lendária pressão de Enzo Ferrari, para pedir aos seus pilotos que forçassem os seus limites para que as suas máquinas pudessem vencer. Já o tinha admoestado, ameaçando relegar para a sua equipa de Formula 2, com a intervenção de Mike Hawthorn a evitar essa despromoção. Collins respondeu às pressões vencendo com autoridade o GP britânico, em Silverstone. Mas claro, Enzo Ferrari queria mais.

A disposição da Scuderia nesses tempos é matéria do qual são feitos os livros e os filmes de Hollywood, se quiserem. Hawthorn e Collins, o "mon ami, Mate", viviam a vida e dividiam entre si os prémios de vitória. Era um acordo verbal do qual haveria sempre alguém de fora. Esse alguém era Luigi Musso, que aparentemente, tinha dívidas de jogo e pretendia ganhar corridas aos ingleses. Abusou dos limites e acabou debaixo do seu carro em Reims, na corrida onde Juan Manuel Fangio se despedia do automobilismo. 

Razão tinha "El Chueco" quando disse certo dia a seguinte frase: "Conheci pilotos mais corajosos que eu. Estão mortos."

Collins puxou pelo limite no Norsdsclheife até que perdeu o controlo. Não teve chances, e tornou-se no segundo piloto da Ferrari a morrer naquela temporada. Para Hawthorn, que tinha os seus próprios fantasmas - tinha um rim a falhar e sentia que o seu tempo estava contado - o que lhe interessava era ser campeão, logo, tinha de ser pragmático. Ter um pouco de medo para poder pontuar o melhor que podia, porque no final, o que interessava era ser consistente. Compensou, mas viu morrer o seu melhor amigo nas corridas. 

O pior disto tudo é que isto não iria acabar ali. Nem na temporada, nem na Scuderia. Quanto a Collins, os seus curtos 26 anos de vida foram bem vividos. 

Sem comentários: