René Arnoux com o seu Ligier JS33 de motor Ford V8 no autódromo de Jacarépaguá, em 1989. A escolha do carro azul não é aleatória, porque foi ao serviço da equipa francesa que Ricardo Divila, morto ontem aos 74 anos, fez a o seu regresso à Formula 1, depois do encerramento da Fittipaldi, em 1982.
Recupero hoje a entrevista que o Francisco Santos fez ao Ricardo Divila em 1989, para o seu anuário. A razão dessa entrevista era simples: Divila, que tinha feito toda a sua carreira ao serviço da Copersucar-Fittipaldi, estava a voltar à categoria máxima do automobilismo pela Ligier, ajudando a desenhar o JS33, numa altura em que a Formula 1 mudava de motores, deixando de lado os V6 Turbo de 1.5 litros e abraçando a categoria 3.5 litros, não interessava se os V8, V10 ou V12. Aquele ano de 1989 foi de abastança na grelha: 40 carros, de duas dezenas de equipas, e claro, com isso, tiveram de fazer uma pré-qualificação onde um terço da grelha tinha de participar.
Como havia muitos brasileiros na altura, o anuário tem muitas entrevistas, que vão desde o Roberto Moreno ao Reginaldo Leme, todos 30 anos mais novos do que na atualidade, mas nesta entrevista de uma página, há certas coisas que valem a pena serem transcritas para aqui.
Um aparte interessante: o Chico Santos apelidava o Divila de "Visconde da Sabugosa", devido às parecências com a personagem do "Sitio do Picapau Amarelo", a mítica história infantil de Monteiro Lobato.
"Em 82, resolvi não voltar à Formula 1 enquanto houvesse turbo - não tinha graça nenhuma era só aumentar um bar na potência do boost para virar um tempo. Agora, há competição de novo. Há quatro equipes na frente, mas as outras rodam todas praticamente em tempos iguais.", conta a uma certa altura.
"As maiores evoluções desses últimos anos aconteceram nos motores e nos pneus. Os motores aspirados de hoje em dia são enormemente melhores do que há dez anos. Controle de injecção electrónico, ignição electrónica, com um aumento de 500cc, os motores de hoje em 100 cavalos de potência!"
Sobre a aerodinâmica, a sua área de eleição, ele refere que os ganhos, na altura - falamos de 1989 - não são significativos, que demoram algum tempo até chegar lá, graças às semanas e meses que passam nos túneis de vento, tentando tirar o melhor do carro. E também diz que os carros dessa altura são uma evolução natural daquilo que a aeronautica fazia quinze anos antes.
"Nas atuais circunstâncias, os engenheiros são de novo mais importantes que os pilotos. Sem o turbo, temos a chance de ver o resultado do nosso trabalho. É claro que não é indiferente se o piloto é bom ou não, mas hoje em dia, na Formula 1, não há pilotos maus. Há três ou quatro pilotos de ponta, mas os outros também são muito bons. Então, o que conta é o acerto do carro, o trabalho que a equipa técnica consegue fazer. É uma situação muito gratificante para nós, engenheiros. A coisa é assim interessante, né?"
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