terça-feira, 22 de março de 2022

Entretanto, nas Arábias...


A Formula 1 está a caminho de Jeddah, na Arábia Saudita, e se o mundo anda atento à guerra entre a Rússia e a Ucrânia, as pessoas pouco sabem que esse país também está em guerra com outro. Diendo melhor: está contra uma fação que toma conta do poder. Os "houtis" uma coligação xiita apoiada pelo Irão, ataca a Arábia Saudita desde que esta se envolveu na guerra, em 2016. E esse envolvimento passa a que o país esteja sujeita a ataques de mísseis contra as suas instalações perolíferas. Foi o que aconteceu no domingo, contra a cidade de Jeddah... uma semana antes do Grande Prémio.

Segundo conta a Reuters, um míssil ia a caminho da cidade quando foi intercetada pela defesa local. O alvo era uma refinaria da Aramco, a petrolífera local, e não houve feridos, nem estragos materiais. A Formula 1, que foi super-lesta em retirar a Formula 1 da Rússia, por causa da guerra - rasgou mesmo o contrato que os ligava até 2025, que incluía a ida do campeonato a Igora Park, nos arredores de São Petersburgo - parece estar muito amiga do dinheiro e do "lobby" saudita.

Contudo, não deveria ser assim. E não falo das hipocrisias e do "double standards", falo de exemplos recentes que passaram pouco apercebidos. 

No Dakar deste ano, uns dias depois do seu começo, uma misteriosa explosão atingiu um carro pilotado por uma dupla francesa, ferindo gravemente o seu navegador. Falou-se de uma explosão "acidental", mas também de uma "propositada" do qual agitou um pouco a organização do Dakar, que recebeu avisos bem fortes do governo francês, depois de uma equipa de peritos ter sido impedida de ir à Arábia Saudita para investigar o caso. 

Os franceses foram super-lestos em 2008 cancelarem o rally Dakar quando este partia de Lisboa. Podem não ter feito desta vez, mas deixaram o aviso: se não melhorarem a sua segurança, irão organizar o rali para outro lado. 

Falei no final do ano passado sobre o "sportwashing" do qual o automobilismo - e sejamos honestos, o desporto em geral - está a ter com os ultra-ricos e os fundos soberanos que injetam centenas de milhões de dólares para modalidades onde precisam do dinheiro para se manterem competitivos. E esquecem-se que, quando as coisas dão para o torto, e o leite for derramado, as pessoas irão perguntar como é que foram capazes destas e outras coisas. É verdade, as pessoas esquecem destas coisas por omissão ou por hipocrisia, mas falem ao pessoal do Chelsea, que descobriram agora que ter o seu clube nas mãos de Roman Abramovich tornou-se num ativo tóxico do qual a sua própria existência está em risco...  

Desejo o melhor aos pilotos e equipas que forem a Jeddah. Só espero que se lembrem que há guerras de baixa intensidade que um dia poderão aumentar...

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